Opinião

Quando nos convenceram a aceitar a destruição em nome do progresso?

Redação

Publicado em 14 de outubro de 2015 às 22:30 | Atualizado há 1 semana

Estamos vivendo sensações térmicas acima de 40ºC. Abrigamo-nos no ar-condicionado ou no ventilador e fazemos piadas sobre o calor absurdo enquanto celebramos a compra de um carro que está com uma promoção imperdível. Ora, comprar um carro é sinônimo de status, e alguns mal conseguem conter a sensação de vitória colocando adesivos com mensagens de comemoração de todas as sortes em seus recém-adquiridos veículos, para que todos notem o evidente orgulho.

Normalmente no interior, é comum ver alguns cidadãos dizerem, orgulhosos, que a cidade está crescendo. Novos loteamentos são rapidamente colocados à venda, dizimando a vegetação local, é verdade. Mas “puxa vida, a cidade está crescendo!”. O índice de criminalidade pode ter aumentado um pouco, de fato, mas é “o preço do progresso, ninguém pode negar”, dizem os entusiastas.

O consumo de carne e laticínios está aumentando e os pecuaristas precisam de mais área desmatada para usar como pasto. “Natural que uma mata ou outra desapareça aqui ou ali, mas afinal, é o preço do progresso, minha gente!” – dizem os progressistas.

E aquela estrada nova que liga sua cidade natal a um ponto turístico que você adora? Uma “mão-na-roda”, não é mesmo? Finalmente, já estava na hora. No caminho você nota alguns animais silvestres atropelados e pensa “esses bichos estão sempre se metendo na frente dos carros… como são imprudentes!”.

O custo de se “fazer dinheiro” é muito maior que o senso comum pode imaginar. Enquanto os poderosos nos convencem a comprar o carro do ano, estamos cegamente contribuindo para um problema urbano que causa um stress bem maior que a satisfação de ter um veículo próprio. Afinal, de que vale o conforto do carro se estamos fadados à aproveitá-lo preso naquele congestionamento do final da tarde?

E o mais interessante é que o modelo econômico atual nos presenteia com uma cadeia aparentemente impenetrável: se o mercado automobilístico está próspero, os empregos estão assegurados, novas vagas são abertas, a inflação permanece sob controle etc. A mídia nos faz crer veementemente que deixar de comprar carros é um desastre que coloca em jogo toda a sociedade, graças ao controle que essa indústria, a título exemplificativo, possui sobre a sociedade capitalista.

O homem é o único ser vivo capaz de potencialmente destruir o próprio ambiente onde vive. Ao que tudo indica, nós sempre fomos mais espaçosos que nossos coabitantes terrestres (vide a colonização europeia pelo mundo). Mas os impactos começaram a se multiplicar após a revolução industrial. A política do consumismo ditada pelos EUA ao bloco capitalista após a Segunda Guerra Mundial também contribuiu bastante para a situação que vivemos hoje.

O mais desesperador (pelo menos deveríamos entender a urgência da questão ambiental assim) é que matematicamente tudo tende a piorar em uma progressão geométrica. A população mundial aumentará exponencialmente por longos anos e crises ambientais assolarão o mundo num futuro nada distante.

Enquanto isso acontece, nós apenas tocamos no assunto, reconhecemos que precisamos de um novo modelo socioambiental, mas somos incapazes de mobilizar uma efetiva mudança. Parece que estamos atados ou atônitos a um sistema cínico dominado pelos grandes empresários que controlam os ditos representantes do povo, nos fazendo sempre crer que estamos progredindo… Mas para onde? Afinal, quando nos convenceram a destruir nosso próprio planeta em prol do lucro egoísta de uma minoria?

Carlos Magno Alexandre Vieira, Advogado

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