“Espírito diferente”
Redação
Publicado em 18 de maio de 2016 às 03:23 | Atualizado há 9 anosSe os Jogos de Londres ficaram conhecidos pela excelência e até mesmo pelos dias ensolarados em uma cidade famosa pelo tempo nublado, os Jogos no Rio de Janeiro devem marcar a história olímpica por seu “espírito único”, acredita o inglês Sebastian Coe, presidente da Federação Internacional de Atletismo e que liderou o Comitê Organizador Londres 2012.
“Já passei muito tempo no Rio e esta cidade tem de fato um espírito único que será absorvido pelos Jogos. As pessoas serão surpreendidas por isto, sem dúvida”, disse Coe, em uma palestra informal no auditório da sede do Comitê Rio 2016, no Centro do Rio. Coe, que é bicampeão olímpico nos 1.500m em Moscou 1980 e Los Angeles 1984, além de medalhista de prata nos 800m nas mesmas edições, visitou no domingo o Estádio Olímpico.
“Pela manhã, quando estava com minha equipe e passávamos pela praia, nos olhamos e entendemos. Esta é a vantagem”, completou, sobre o visual do Rio. “Em nenhum momento vocês deveriam deixar de lado este espírito”.
Sobre o legado que os Jogos deixarão, Coe afirmou que podem não ser “imediatamente óbvios”. “Pode ser apenas um legado definido simplesmente pelos esportes, que é muito importante, em arenas que vão receber campeonatos e eventos. Mas, na verdade, o legado estará ao seu redor”, disse. Coe lembrou que, em Londres, cidade onde nasceu, a maior herança foi a “competência criativa e uma cidade diversa e inteligente”. “E Londres foi incrivelmente acolhedora. Como londrino, posso dizer que isto não é algo pelo qual somos conhecidos”, completou, rindo.
Coe foi questionado por um funcionário do comitê sobre como lidar com contratempos e decepções que podem acontecer no meio dos Jogos. Ele foi lembrado de sua participação em Moscou 1980, sua primeira Olimpíada: na época, era o favorito para os 800m e acabou perdendo por dois segundos para o conterrâneo Steve Ovett. Dias depois, no entanto, ficou com o ouro nos 1500m, um dos momentos mais importantes de sua carreira. “Você precisa aceitar que de tempos em tempos haverá contratempos. E a maneira de lidar com estes problemas irá definir a qualidade dos Jogos. Você precisa estar preparado porque estes contratempos vão acontecer”, disse.
Coe contou que os Jogos de Londres passaram por diversos desafios, e seu treinamento como atleta o ajudou a contorná-los. “A diferença entre o atleta bom e o atleta ótimo é como se lida com o criticismo. Os atletas ótimos só querem saber o que fazer para ir melhor no dia seguinte”. O ex-corredor contou que, entre a prova dos 800m e 1.500m em Moscou, muitas pessoas vieram dar conselhos. Seu pai, que era também seu treinador, estava até “um pouco mais generoso que o normal” ao ouvir palpites e opiniões de jornalistas. No final, no entanto, confiou apenas nos números, como um bom matemático que era. “Ele me olhou e disse: ‘É algo simples. Dado o número de erros que você cometeu nos 800m e a frequência que você os cometeu, é estatisticamente impossível que você estrague tudo de novo nos próximos dez anos’”, disse, soltando um palavrão no meio da frase que arrancou algumas risadas.
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