Equívocos e erros na tradução e interpretação dos textos bíblicos – parte I
Diário da Manhã
Publicado em 18 de maio de 2016 às 03:14 | Atualizado há 9 anosOs equívocos e os erros de tradução e consequentemente de interpretação dos textos bíblicos, são conforme fontes seguras, numerosos. Estes erros e equívocos impactaram profundamente o Cristianismo, gerando em seu ceio doutrinas, costumes e rituais distantes da realidade do que originalmente fora escrito. A Bíblia como se conhece hoje, demorou cerca de 1600 anos para ser preparada. Não há entre os historiadores acordo sobre quando a Bíblia começou a ser escrita, no entanto, conforme a tradição, ela foi produzida por mais de 40 autores entre os anos de 1500 a.C., a 450 a.C., no seu primeiro Testamento, e entre os anos de 48 d.C., a 96 d. C., no seu segundo Testamento. As Escrituras receberam a alcunha de Bíblia originalmente por João Crisóstomo, grande pregador e patriarca de Constantinopla entre 398 e 404 A.D.
A palavra Bíblia significa pequena coleção de livros, ou seja, conjunto de Escritos Sagrados para Judaísmo e Cristianismo, chegou a nós atravessando séculos por meio do povo judeu e pelos cristãos dos primeiros séculos e demais, sendo preservados e compilados por seus escribas. O termo passou por grandes mudanças, “Bíblos” era o nome de uma antiga cidade Fenícia, famosa pela exportação de papiros. Deste nome se originou a palavra “Biblíon” (livro) e mais tarde “Tá Biblía” (os livros). Este plural grego determinou o nome “Bíblia”, que em posterior oportunidade foi traduzido para o latim como substantivo feminino singular e virou “Bíblia”, que quer dizer “o livro”. Foi com este sentido que se difundiu para todas as línguas em que foi traduzida. Todavia, o conceito de conjunto de livros vem do hebraico “Se Faraim”, que quer dizer “os livros”, ou seja, as Escrituras Sagradas da Primeira Aliança.
As línguas usadas nas Escrituras Sagradas foram o hebraico e o aramaico no Antigo Testamento. Já o Novo Testamento teria sido escrito em aramaico (somente Mateus) língua do povo hebreu à época e grego (os demais livros), que era a língua oficial do comércio. Estas línguas são de origens diferentes, o hebraico e o aramaico são semíticas pertencentes à família das línguas afro-asiáticas. Já o grego é de origem indo-europeia do sul dos Bálcãs oeste da Ásia Menor em torno do mar Egeu. Nas traduções destas línguas se faz necessário conhecer as origens culturais dos autores; seus usos e costumes à época em que foi escrito o texto; o que o texto quer transmitir; se seu ensino é para aquele momento ou se é atemporal; se a linguagem usada é figurada, parabólica, literal ou alegórica; se aquilo que o texto recomenda fazer ou não fazer é para aquela ou esta comunidade de pessoas; analisar pré-texto, contexto e pós-texto, fazendo um apanhado de ideias semelhantes ao longo da Bíblia para não fugir dos sentidos originais, dentre outros critérios.
O que se pretende mostrar neste artigo é que estes parâmetros não foram respeitados desde as primeiras traduções das Escrituras. Termos, conceitos, definições, ideias, costumes e essências originais foram trocados, adaptados, adulterados, omitidos e maculados pela Septuaginta (Tradução dos LXX, do hebraico para o grego) e pela Vulgata Latina que é a tradução da tradução dos LXX ou Septuaginta e do hebraico, e o Novo Testamento em grego. A Vulgata foi à única versão oficial da Bíblia usada na Igreja até o ano de 1530 A.D., quando, devido ao povo não mais falar latim, iniciou-se o processo de tradução para as línguas modernas.
Durante a tradução Jerônimo se deparou com textos difíceis de serem compreendidos, logo após a conclusão, dedicou-se a escrever prefácios e comentários para a Vulgata, além de responder às polêmicas teológicas existentes em seu tempo, devido à má tradução e interpretação. A Vulgata nasceu do desejo do papa Dâmaso em por fim as divergências que os Concílios até então não conseguiram sanar, como a natureza de Cristo, vida após a morte, o sentido original de ressurreição que majoritariamente a Igreja à época pregava como retorno do espírito à vida em um novo nascimento físico, o dízimo e ofertas, existências de anjos e demônios, céu e inferno dentre outros. Porém, em 384 A.D. Jerônimo recebe a missão por imposição do papa de preparar uma Bíblia padrão para todas as comunidades cristãs, onde desde então todas as demais traduções e versões seguiram a Vulgata que veio distorcer verdades originais. Continua…
(Nilton Carvalho, professor, cabeleireiro, teólogo, historiador, pós-graduado em educação pela PUC-Goiás, escritor e conferencista. Contato para palestras e outros [email protected] 062-9987-9969)
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