Opinião

O governo da monorresposta

Diário da Manhã

Publicado em 5 de janeiro de 2016 às 21:49 | Atualizado há 9 anos

É patente a sensação de insegurança que paira sobre a população goiana em geral. As pessoas, por razões diversas, sentem-se inseguras na rua e mesmo dentro de suas próprias casas. Uma demanda, escusado dizê-lo, pública que necessita de resposta por parte do poder público.

Claro que seria por demais importante discutir aqui se “insegurança”, por um lado, e “sensação de insegurança”, por outro, representam de fato a mesma coisa e se são resolvidas pelos mesmos “remédios”. É uma discussão necessária, mas que me tomaria mais espaço e tempo do que o disponível no momento. Temos de fazer as omeletes com os ovos que nos dão.

O que é possível dizer é que para essa “sensação de insegurança” o governo tem falado em apenas uma coisa, que se divide em duas: em uma mão, aumento do número de policiais militares por habitante e, na outra, ampliação de presídios (e como em tudo do governo nestes dias, já se fala também em terceirização da gestão de presídios). E esse tem sido o tom do debate de um governo morno com propostas pouco inventivas. Propostas estas que pouco têm demonstrado, em outros lugares, eficiência naquilo que se propõem a resolver.

Se fizermos um pequeno exercício imaginativo e nos colocarmos nos espectros mais conservadores da sociedade, é até possível ser monotônico e aceitar que “sensação de insegurança é combatida por aumento da polícia”. Mesmo sabendo hoje que essa solução nada mais é do que uma panaceia e que soluções verdadeiras são de longo prazo e passam longe desse punitivismo tacanho. Porém façamos tal exercício. Vamos, como todo bom conservador médio, ser incréus destes “dados científicos de quem passa a mão na cabeça de vagabundo”.

Agora, mesmo pretendendo ser um conservador médio, me parece difícil entender a monomania do estado, porque não é só para esse tipo imediato de problema, a “sensação de insegurança”, que o governo tem dado como resposta “aumento da polícia”. Essa resposta tem servido magicamente para quase tudo, como uma chave-mestra das políticas públicas que a tudo serve e que tudo resolve.

Ainda me lembro, à época dos protestos de 2013, ter sido chamado para um debate sobre a situação do transporte. Além de mim, na mesa de debate, encontrava-se um representante da OAB e também um enviado para representar o governo do estado. Qualquer um mais coerente, ainda que inocente, pensaria: “Bem, então o Estado enviou um ‘secretário de urbanismo’, ou algum quadro técnico da área de transporte…”, ledo engano, senhoras e senhores, o estado enviou um PM, fardado como manda o figurino, de traje e espírito.

E a situação se repete nas escolas, “como melhorar o ensino e disciplinar alunos?” O governo responde: basta rasgar anos de estudo em psicologia e pedagogia e “chamemos os polícias”. E como se não bastasse chamá-los para “administrar” colégios, estes são chamados também quando alunos, professores e familiares discordam de tais políticas.

Basta vermos a bela imagem que ilustra este artigo, capturada anteontem (4/01) durante um pacífico protesto dos estudantes secundaristas em prol da publicização de suas demandas e da abertura do diálogo por parte do Estado.

Eis o diálogo do Estado, um policial não fardado, sem identificação, com arma de fogo em mãos. Além do absurdo institucional de tudo isso, seus colegas fardados agem de similar maneira.

Quem buscar as filmagens (já circulam em abundância nas redes sociais) se sentirá espantado, pois na “sensação de insegurança” vivida pelos goianos, sempre parece haver pouca polícia na rua, mas quando estudantes estão a manifestar-se pacificamente em prol de seus direitos, vemos brotar do seio da terra um exército fardado.

O governo deveria perceber que diálogo e PM são antônimos, a lógica organizativa da PM não é a do diálogo, é a da “hierarquia cega”. Independente de eu ter problema ou não com isso, a questão é que não me parece muito lógico quando cidadãos pedem “diálogo” e o governo responde “PM neles”.

 

(Ian Caetano, estudante de ciências políticas e sociais da Universidade Federal de Goiás)

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