Aquecimento global pode provocar meio milhão de mortes
Diário da Manhã
Publicado em 4 de março de 2016 às 22:45 | Atualizado há 9 anos
O aquecimento global pode ocasionar consequências na agricultura, que pode gerar excesso de mortalidade atribuídas pela queda de produção de alimentos pelo setor. O estudo publicado pela revista The Lancet, estima que serão meio milhão de mil mortes no ano de 2050, em razão do baixo peso que a população irá sofrer.
Esse estudo foi liderado pelo Dr. Marco Springmann do Programa Martin Oxford sobre o futuro da alimentação, e é considerado o primeiro que avalia o impacto das mudanças climáticas sobre a composição da dieta e peso corporal. Além disso, revela que a menos que sejam tomadas medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a mudança climática poderia cortar a melhoria projectada a disponibilidade de alimentos de 3,2% por pessoa.
As razões pelas mortalidades se deve pela mudanças climáticas que afetam no consumo de frutas e vegetais, e elevam o consumo de carne vermelha. Outro fator analisado é que o baixo peso corporal provocará mortes por doenças cardíacas coronárias, acidente vascular cerebral, câncer e outras causas.
“Descobrimos que, em 2050, essas mudanças poderiam ser responsáveis por cerca de 529.000 mortes adicionais”, afirma Dr. Marco Springmann. “Nós olhamos os efeitos na saúde de mudanças na produção agrícola que são capazes de resultar de alterações climáticas e descobrimos que reduções ainda modestas na disponibilidade de alimentos por pessoa poderia levar a mudanças no conteúdo de energia e composição da alimentação, e essas mudanças vão ter grandes consequências para a saúde”.
De acordo com o estudo, os países que deverão ser mais afetados são os de baixa e média renda, como os da região do Pacífico Ocidental é estipulado 264 mil mortes adicionais e Sudeste da Ásia, com 164 mil mortalidades. Chegando a quase três quartos de todas as mortes relacionadas com o clima que pode ocorrer na China, com 248 mil, e Índia com 136 mil mortes estimadas.
Para o pesquisador, o aquecimento global pode provocar fenômenos climáticos extremos, como chuvas e secas, causando impacto devastador na produção agrícola.
Para o Dr. Marco, as alterações climáticas mesmo em cenários otimistas são necessários esforços para melhorias em programas de saúde pública destinados a prevenir e tratar a dieta, além dos fatores de risco relacionados com o peso, como o aumento de frutas e legumes. Todas essas medidas devem ser reforçadas por uma questão de prioridade para ajudar a diminuir os efeitos na saúde relacionados com o clima.
O estudo foi feito por projeções de emissões de gases poluentes, respostas climáticas e dados socioeconômicos. Concluindo, que o setor agrícola irá ser afetado. Para chegar no número de mortalidades, foram analisados os números de mortes em razão da mudança alimentar em quatro cenários diferentes de emissão de gases.
Fenômeno do El Niño provoca impactos enormes
BBC News
O mais forte ciclo do fenômeno climático El Niño registrado até o momento deverá aumentar os riscos de fome e doenças para milhões de pessoas em 2016, alertam organizações humanitárias. Segundo previsões, o El Niño deverá exacerbar secas em algumas áreas e acentuar inundações em outras.
Algumas das áreas mais afetadas estão no continente africano, onde a escassez de comida poderá atingir seu pico. Partes do Caribe e das Américas Central e do Sul também deverão ser atingidas. Especialistas descrevem o El Niño como um fenômeno climático que envolve o aquecimento incomum das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Suas causas ainda não são bem conhecidas.
Após analisar imagens de satélite, a Nasa (agência espacial americana) afirma que o El Niño de 2015-2016 poderá ser comparado ao que muitos chamaram de “fenômeno monstruoso” de 18 anos atrás.
“Sem dúvida são muito parecidos. Os fenômenos (El Niño) de 1982-1983 e 1997-1998 foram os de maior impacto no século passado, e parece que agora vemos uma repetição”, disse William Patzert, especialista em clima do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês) e um dos mais importantes estudiosos do El Niño dos EUA.
O pesquisador afirmou ainda que é “quase fato que os impactos serão enormes”. Esse evento periódico, que tende a elevar temperaturas globais e alterar padrões climáticos, ajudou 2015 a bater o recorde de ano mais quente da história.
“De acordo com certas medições, esse já foi o El Niño mais forte registrado. Depende da maneira como você mede”, disse o cientista Nick Klingaman, da Universidade de Reading, na Inglaterra. “Em vários países tropicais temos observado reduções de entre 20 e 30% nas chuvas. Houve seca severa na Indonésia. Na Índia, as monções (chuvas) foram 15% abaixo do normal e as previsões para o Brasil e Austrália são de redução nas chuvas”.
As secas e inundações, e o impacto potencial que representam, preocupam as agências de ajuda humanitária. Cerca de 31 milhões de pessoas estão sob risco de escassez de alimentos na África – um aumento significativo em relação a 2014. Cerca de um terço dessas pessoas vive na Etiópia, país em que 10,2 milhões de pessoas deverão demandar assistência em 2016, segundo previsões.
El Niño
O fenômeno climático El Niño faz com que águas quentes do Pacífico central se espalhem na direção das Américas do Norte e do Sul. Ele foi observado por pescadores na costa da América do Sul por volta de 1600, quando as águas do Oceano Pacífico ficaram estranhamente quentes. O nome, El Niño, é uma referência ao menino Jesus.
O El Niño acontece em intervalos entre dois e sete anos, normalmente atingindo seu pico no final do ano – embora seus efeitos possam persistir até os três primeiros meses do ano seguinte e durar até 12 meses.
O atual El Niño é o mais forte registrado desde 1998 e, segundo os especialistas, deve ficar entre os três mais poderosos de que se tem conhecimento. Segundo a World Water Organization (Organização Mundial da Água, ou WWO), nos três meses de pico, médias de temperatura na superfície das águas do Pacífico tropical devem ficar mais de 2ºC acima do normal.
Um forte El Niño ocorrido há cinco anos estava ligado a chuvas de monções fracas no sudeste da Ásia, secas no sul da Austrália, das Filipinas e do Equador, nevascas nos Estados Unidos, ondas de calor no Brasil e enchentes no México.
Segundo William Patzert, o fenômeno tem causado a forte seca no nordeste brasileiro, enquanto que no sul do Brasil e norte da Argentina são registradas inundações.
A combinação do aquecimento global com a intensidade do fenômeno esse ano deve fazer com que esse verão seja um dos mais quentes de todos os tempos no Brasil, com as temperaturas ultrapassando facilmente os 40ºC por vários dias seguidos em locais como Rio de Janeiro, Piauí e Tocantins. Segundo meteorologistas, os termômetros podem registrar até 4ºC acima dos valores médios.
Alerta
Segundo a ONU, cerca de 60 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas por causa de conflitos. Organizações humanitárias como a Oxfam, por exemplo, estão preocupadas com o impacto adicional que o fenômeno climático possa provocar, tendo em vista as pressões provocadas pelos conflitos na Síria, no Sudão do Sul e no Iêmen.
As agências dizem que a falta de comida deve atingir seu ponto crítico no Sul da África em fevereiro. No Malauí, autoridades calculam que quase três milhões de pessoas irão precisar de assistência antes de março.
Secas e chuvas erráticas afetaram dois milhões de pessoas em Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua. Há previsões de mais inundações na América Central em janeiro. “Milhões de pessoas em lugares como Etiópia, Haiti e Papua Nova Guiné já estão sentindo os efeitos da seca e das perdas de lavouras”, disse Jane Cocking, da Oxfam.
“Precisamos urgentemente levar assistência a essas áreas para assegurar que as pessoas tenham água e alimentos suficientes. Não podemos permitir que outras situações de emergência ocorram em outras áreas. Se o mundo ficar esperando para responder às crises emergindo no sul da África e na América Latina, não teremos como atender à demanda”, acrescentou.
Efeito inverso
Se por um lado os efeitos de El Niño serão sentidos de forma mais aguda nos países em desenvolvimento, no mundo desenvolvido o impacto será sentido nos preços de alimentos. “Leva algum tempo para que o impacto do El Niño seja sentido nos sistemas sociais e econômicos”, disse Klingaman.
“A tendência, historicamente, é que preços subam entre 5 e 10% para alimentos básicos. Lavouras de café, arroz, cacau e açúcar tendem a ser particularmente afetadas.”
O El Niño deve terminar por volta do outono no hemisfério sul (primavera no norte). Mas o fim desse ciclo não é boa notícia: esse fenômeno climático tende a ser sucedido pelo seu reverso – ou seja, eventos climáticos conhecidos como La Niña, que podem trazer efeitos opostos mas igualmente danosos.
Segundo cientistas, durante o El Niño ocorre uma imensa transferência de calor do oceano para a atmosfera. Normalmente, como aconteceu no ciclo de 1997/98, essa transferência de calor tende a ser seguida por um resfriamento do oceano – o evento La Niña. “É possível – mas não estamos certos – que nesse período no ano que vem estejamos falando sobre o reverso de muitos desses impactos”, explicou Klingaman.
“Em países onde El Niño trouxe secas, pode haver inundações trazidas por La Niña no ano que vem. É tão devastador quanto – porém, na direção inversa.”
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