Esperança no Alzheimer
Diário da Manhã
Publicado em 9 de abril de 2016 às 02:52 | Atualizado há 9 anosCientista aposta no avanço aos seres humanos em estágios iniciais da patologia
Guardar um objeto e depois esquecer onde colocou. Não lembrar o rosto de sua filha. É assim a rotina das pessoas sofrem da doença de Alzheimer, o cérebro não consegue encontrar onde guardar essas memórias. A perda da memória foi objeto de estudo publicada pela revista científica Nature da Grã-Bretanha, em que cientistas contradizem a noção de que Alzheimer impede o cérebro de fazer novas memórias. A pesquisa traz esperança na possibilidade de recuperar as memórias perdidas, através de estimulação cerebral com luz azul, nos estágios iniciais da doença.
O estudo foi comandado pelo neurocientista Susumu Tonegawa, prêmio Nobel, e demais cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge no Reino Unido. Tonegawa através do estudo com ratos confirmou que com estímulo em áreas específicas do cérebro com luz azul, os ratos conseguiram recordar de experiências que não conseguiam se lembrar.
“Como seres humanos e camundongos tendem a ter princípios comuns em termos de memória, nossos resultados sugerem que os pacientes com a doença de Alzheimer, pelo menos em seus estágios iniciais, podem preservar a memória em seus cérebros, o que indica que eles têm chances de cura”, afirmou Tonegawa em entrevista para a AFP.
O prêmio Nobel também afirmou: “É uma boa notícia para pacientes com doença de Alzheimer”, reafirmando que é uma esperança para um futuro tratamento para a doença que afeta cerca de 70% de 47,5 milhões de pessoas no mundo que sofrem de Alzheimer. O pesquisador ressalta que a medida que a população envelhece pode aumentar o número de casos, como no Japão.
“A doença de Alzheimer pode ser curada no futuro, caso uma nova tecnologia atenda às condições éticas e de segurança para o tratamento de seres humanos ser desenvolvido”, argumentou o pesquisador Tonegawa.
Pesquisa
Na pesquisa, foi utilizada duas estirpes de ratos com mutações de genes ligados ao Alzheimer. Os ratos desenvolveram clusters de proteína amilóide ou placas nos cérebros que fizeram eles perderem a memória, semelhante como as pessoas que sofrem da doença.
Os pesquisadores colocaram os ratos dentro de uma caixa em que recebiam um choque elétrico. Os ratos normais tiveram medo da caixa, mas os mutantes não fizeram nada, pois não se lembravam do choque.
Ao estimular áreas específicas do cérebro do rato, as células de engramas associados com a memória, através de uma luz azul pulsada, imitando um processo que ocorre naturalmente como uma memória é acessado repetidamente ao longo do tempo. Com isso, o hidrocampo e o córtex entorrinal, conexões que são perdidas em pessoas que sofrem do Alzheimer, foram fortalecidos. Fazendo com que os ratos recordassem da caixa em que receberam o choque, mesmo com a luz azul desligada.
Pesquisadores ressaltam que a técnica deve funcionar por alguns meses em ratos e de dois a três anos nos seres humanos, antes que a doença avança o suficiente para apagar quaisquer ganhos.
De acordo com os cientes, sem razões conhecidas, o hidrocampo é vulnerável às devastações da doença, em razão disso os pacientes esquecem primeiro as novas memórias. Com o avanço da doença, são destruídas outras partes do cérebro que levam ao esquecimento de memórias de longo prazo, como nomes de familiares.
Conexões sinápticas
Pesquisadores verificaram que os ratos mutantes tinham menos espinhos, canais através dos quais as conexões sinápticas são formadas. Com a estimulação repetida da luz, os mutantes foram capazes de aumentar o número de níveis de espinhos para indistinguíveis dos ratinhos normais, resultando no comportamento de congelação que tiveram ao entrar novamente na caixa.
“Memórias dos ratos foram recuperados através de uma sugestão natural”, disse Tonegawa, referindo-se a caixa que inicialmente provocou o comportamento de congelamento. “Isto significa que os sintomas da doença de Alzheimer em ratinhos foram curados, pelo menos nas suas fases iniciais”.
A estimulação das células cerebrais óptica – uma técnica chamada “Optogenetics” – envolve a inserção de um gene em especial neurónios para torná-las sensíveis à luz azul, e depois estimular partes específicas do cérebro. Optogenética foi previamente usada em tratamentos psicoterapêuticos para doenças mentais, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático (PTSD).
A doença
Agência Brasil
De acordo com o geriatra e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), Otávio Castello, a doença, que na maioria das vezes se manifesta a partir dos 60 anos, não tem cura conhecida. É progressiva e faz com que a pessoa perca gradualmente a memória, a capacidade de orientar-se no tempo e no espaço, além de trazer dificuldades de comunicação, raciocínio lógico e alterações comportamentais.
Atualmente, estima-se que no Brasil cerca de 1.2 milhão de pessoas sofram de Alzheimer, mas só a metade está diagnosticada. “Quanto mais cedo se diagnosticar, mais cedo se consegue tratar e mais cedo se posterga os problemas que a doença acarreta para as pessoas”, alerta o especialista.
Segundo Castello, a baixa escolaridade e a falta de estimulação cognitiva na meia idade estão entre os fatores de risco para a doença. “Tudo o que faz bem para o coração, faz bem para o cérebro. Controlar pressão alta, diabetes, colesterol, não ter obesidade, praticar regularmente atividade física, ter alimentação balanceada e saudável podem ser fatores de proteção ou de risco, no caso de quem não faz nada disso”, observa o médico.
Sintomas
Os especialistas recomendam prestar atenção a sinais da doença. A pessoa com Alzheimer passa a ter comprometimento de atividades recentes. O paciente fica repetitivo, não sabe onde guardou objetos, esquece compromissos e atrapalha-se em trajetos que antes lhe eram familiares.
“Se comprometer a função cotidiana de uma pessoa que sempre foi organizada para pagar suas contas e, de repente, começa a se desorganizar frequentemente ou começa a esquecer compromissos, repete histórias como não tivesse contado antes, isso merece atenção”, diz. “O mais importante é comparar o individuo com ele mesmo. Se isso for um padrão frequente, merece uma avaliação por um neurologista ou geriatra”, orienta Otávio Castello.
Doença cara
Segundo o médico, de 1950 a 2050, o número de idosos na população vai quadruplicar. “Estatísticas claras dão conta que hoje a doença custa US$ 800 bilhões por ano em todo o mundo. Em 2018, o prejuízo passará de US$ 1 trilhão por ano. Se o Alzheimer fosse uma empresa, valeria mais que Google e Apple, atualmente as companhias mais valiosas do mundo”, compara o geriatra, ressaltando a importância do diagnóstico precoce.
Da BBC
Uma revisão de estudos acadêmicos feita pela ONG britânica Age UK identificou cinco passos que podem ajudar idosos a manter a saúde do cérebro e reduzir os riscos de se desenvolver o Mal de Alzheimer e outras formas de demência.
Segundo a organização, cerca de 76% do declínio cognitivo – mudanças nas habilidades cerebrais, que incluem perda de memória – está associado ao estilo de vida do idoso e a outros fatores ambientais, como o nível de educação.
E essas mudanças nas habilidades cerebrais podem ser influenciadas por hábitos cotidianos.
“Ainda que não haja cura ou formas de reverter a demência, (os estudos) indicam que há formas simples e eficientes de reduzir o risco”, declara Caroline Abrahams, diretora da Age UK, em comunicado da ONG.
“E mais, as mudanças que precisamos fazer para manter nossos cérebros saudáveis já se provaram boas para o coração e para a saúde em geral. Quanto mais cedo começarmos, melhores as nossas chances de termos uma vida saudável nessa etapa da vida.”
Um dos estudos revisados pela Age UK – e realizado ao longo de 30 anos – percebeu que homens de 45 a 59 anos que seguiram ao menos quatro dos cinco pontos listados reduziram em mais de um terço seus riscos de perda cognitiva e de demência em relação aos demais.
Exercícios físicos regulares
Exercícios aeróbicos, de resistência ou equilíbrio se mostraram como o modo mais eficiente de evitar o declínio cognitivo entre idosos.
“Estudos sugerem que exercitar-se três a cinco vezes por semana, entre 30 minutos e 1 hora, é benéfico”, diz a Age UK.
Uma das sugestões da ONG é que idosos que não tenham problemas de mobilidade incorporem caminhadas em suas rotinas – caminhar ao supermercado em vez de dirigir; usar escadas em vez de elevador; mesmo ao dirigir, parar um pouco mais longe do ponto final, para andar pelo menos parte do percurso; planejar caminhadas em lugares agradáveis no final de semana.
Dieta mediterrânea
Em levantamento publicado no ano passado, pesquisadores analisaram os hábitos alimentares de 17,4 mil pessoas com uma idade média de 64 anos. E as que tinham uma dieta que se aproximava da mediterrânea tiveram seu risco de deterioração mental reduzido em quase um quinto.
A dieta mediterrânea é rica em ácidos graxos ômega-3, encontrados em alguns peixes, nozes e linhaça -, além de incluir muitos vegetais e frutas frescos, que têm pouca gordura saturada. Tudo isso ajuda o sistema nervoso e o cérebro, além de ter efeitos positivos já identificados sobre a memória.
Não fumar
Os dados revisados pela ONG apontam um número significativo de casos de demência entre fumantes em comparação com quem nunca fumou.
Beber álcool com moderação
Beber em excesso também está relacionado a maior risco de demência – causando perdas de tecido cerebral sobretudo em partes do cérebro responsáveis pela memória e pelo processamento de informações visuais.
Ao mesmo tempo, o consumo moderado de álcool parece proteger o tecido cerebral, ao aumentar o bom colesterol e baixar o mau.
Prevenir e tratar a diabetes, pressão alta e obesidade
Um estudo global apresentado pela entidade Alzheimer’s Disease International apontou que pessoas que sofrem de diabetes têm chances muito maiores de desenvolver demência.
O estudo não consegue precisar até que ponto a diabetes em si aumenta os riscos de demência, mas identificou que pessoas portadoras da diabetes tipo 2 – a mais comum – também têm mais probabilidade de sofrerem de obesidade e outros problemas de saúde que tendem a aumentar o risco de demência.
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