Em discurso histórico, Caiado emociona integrantes do agro

Quem conhece a trajetória do parlamento brasileiro sabe que Ronaldo Caiado (União Brasil) foi o primeiro político, de fato, a criar um movimento em defesa do agronegócio. Antes dele existiam defesas particulares de oligarquias e de famílias proprietárias. 

Após concluir suas pesquisas em medicina na França, Caiado retornou para o Brasil e fundou um movimento agrário que defendia os valores, a cultura do campo e o direito agrário. O retorno às raízes foi considerado profundo, pois dali ele não saiu mais. Foi candidato a presidente com esta bandeira e militou por três décadas no Congresso Nacional sempre amparando o agronegócio, que hoje colhe resultados de sua militância: o setor tem inegável prestígio político.

Nesta segunda-feira, 27, Caiado emocionou os produtores durante a abertura da Tecnoshow Comigo, feira realizada em Rio Verde que reúne os expoentes do agronegócio. “Não me julguem por um ato. Me julguem pela minha história. Deus me poupou do sentimento do medo, eu não tenho esse pecado. Eu sou um homem que enfrenta as adversidades. Não tenho cicatrizes nas costas, tenho é no peito, porque sempre enfrento as adversidades de frente”, afirmou. Em bom português, o orador disse que estigmatizar sua postura política por questões como o Fundeinfra (a taxa do agro que subsidia obras de infraestrutura para o segmento) não condiz com ato de justiça, uma vez que toda sua história foi devotada a defender as pautas do campo. Os aplausos demoraram a terminar, ainda que Caiado tenha sido duro ao falar das crises que enfrentou e dos desgastes acumulados com a indústria goiana, aposentados e outros segmentos que ajudaram Goiás a sair de sua pior crise financeira. O governador de Goiás justificou a taxa como uma necessidade – uma vez que outras parcelas da sociedade também deram contribuição para Goiás retomar aos números positivos da economia e implantar ações sociais urgentes.   

A emoção do discurso surtiu efeito: além de sinalizar pela paz, o agro percebeu que entre oportunistas e um líder como Caiado sincero e com coragem, o melhor é seguir quem é, de fato, líder e que fala verdades de frente – e não pelas costas. “Eu cheguei ao governo, precisei tirar R$ 3 bilhões dos empresários, pois não tinha condições de subsidiar esse valor. Naquele momento, para ser aprovada a renegociação da dívida do Estado, nós fomos obrigados a impor uma taxa de 14,25% para aposentados que ganhassem acima de R$ 3 mil”.

O discurso que encerrou a abertura do evento repercutiu nas redes sociais e tem sido considerado histórico por lideranças sindicais, produtores, imprensa e analistas políticos. Por dois motivos: reapresentou os serviços prestados por Caiado aos produtores mais jovens que, por inúmeras razões, ainda não conhecem sua trajetória. E, mais importante, conclamou o segmento, com franqueza histórica, a assumir sua posição estratégica, efetiva, de liderança da economia brasileira. E como segmento-líder, espera-se do agro responsabilidade.

Confiança

Caiado pediu voto de confiança dos produtores rurais para que aguardem em dois anos as obras que serão devolvidas a partir dos recursos captados através da contribuição. Segundo o gestor, as políticas de infraestrutura que podem levar o agronegócio de Goiás a um outro nível serão executadas em parcerias do Estado com o segmento interessado. 

“Vocês vão ver nossas rodovias e como esse dinheiro foi aplicado. Me dê esse prazo, de quem tem uma vida na defesa do setor rural. De quem teve coragem quando ninguém tinha coragem de enfrentar nem se qualificar como produtor rural”. 

Governador lembra sua origem e 36 anos prestados ao segmento 

A reaproximação de Ronaldo Caiado com os produtores rurais está em andamento. Ao contrário de agricultores de estados como Mato Grosso, que assimilaram e até defenderam taxa equivalente ao Fundeinfra, alguns empresários do ramo entenderam como inconcebível a criação de uma taxa para beneficiar o próprio agronegócio. 

Caiado lembrou que tem 36 anos como líder ruralista e conhece a realidade de outros estados. Fez defesa técnica de sua luta em prol do produtor rural goiano, alertando para que Goiás precisa avançar e não descolar dos estados líderes do país.  “Com todo respeito que tenho ao amigo, irmão, governador Mauro Mendes, mas o Mato Grosso está indo com muita velocidade, e Goiás não pode ficar atrás. Me deem dois anos e vocês vão ver as nossas rodovias e como o dinheiro [do Fundeinfra] foi aplicado”, ponderou.

A liderança lembrou que as conquistas não foram fáceis nem da noite para o dia. Em 1990, quando chegou na Câmara dos  Deputados, existia uma bancada ruralista insipiente que não fazia barulho. Com seis parlamentares, o movimento precisou de alguém que enfrentava os adversários do agro – burocratas, industriais do eixo Rio-São Paulo, desinformação, políticos lobistas de outros segmentos, invasões de terra, etc.