Brasil

Glória Maria: principal referência para jornalistas negros na TV

O jornalismo brasileiro perdeu nesta quinta-feira, 02, um ícone do telejornalismo brasileiro. Sua partida deixa um grande vazio compensado apenas pelo seu enorme legado. Nascida em Vila Isabel, na zona Norte do Rio, Glória Maria foi uma das primeiras e a principal referência para jornalistas negros na TV entre os anos 70 e 90.

Letícia Graziely da Silva

Publicado em 2 de fevereiro de 2023 às 20:34 | Atualizado há 2 anos

O jornalismo brasileiro perdeu nesta quinta-feira, 02, um ícone do telejornalismo.. Sua partida deixa um grande vazio compensado apenas pelo seu enorme legado. Nascida em Vila Isabel, na zona Norte do Rio, Glória Maria foi uma das primeiras e a principal referência para jornalistas negros na TV entre os anos 70 e 90. 

“Esse texto “conversado” mais descontraído que vemos hoje na TV, ela sempre fez. Tinha personalidade e assumiu seu estilo desde o início e por isso protagonizou feitos históricos como ser a primeira mulher a entrar ao vivo no Jornal Nacional, foi a primeira a participar de uma transmissão em HD na TV brasileira e a primeira mulher a fazer cobertura de guerra no Brasil”, explica a jornalista, Mestre em Comunicação e Doutora em Antropologia Fernanda Ribeiro.

Em 2021, no podcast Mano Brow, Glória Maria relembrou grandes coberturas como a guerra das Malvinas e suas aventuras por mais de 100 países e também por todo o Brasil.

“Eu nunca pensei que estava sendo a primeira. Eu nunca tive tempo de pensar. Eu ia. Não foi fácil, superei vários obstáculos, mas tive o direito de fazer e chegar onde eu queria. Eu tive a sorte de chegar numa época em que o talento valia alguma coisa. Na emissora em que trabalho, eu sempre fui respeitada como ser humano, tive a chance de  crescer sem ter quem indica, sem ser de família rica e sem ter o marido poderoso. Eu que vim do nada, tive a oportunidade que precisava pra chegar até aqui”, disse a jornalista.

Com sua trajetória, Glória Maria inspirou milhares de jovens a seguir a profissão de jornalista. Mas ela sempre deixou claro que, desde pequena, soube que teria que enfrentar o preconceito e o racismo. Por isso, aprendeu de uma maneira natural a ter uma atitude de enfrentamento. “Eu nunca tive medo. Eu sabia o que tinha que passar, mas eu não queria passar. Então, eu tinha que fazer alguma coisa e essa alguma coisa era assim: não vou aceitar as cascas de banana que colocam no meu caminho. Se vão querer que eu olhe para isso estão perdendo tempo. Eu quero ir em frente e o que era esse em frente? Eu não sabia porque não tive em quem me espelhar”, relatou durante entrevista ao podcast.

Porém, toda a força e potência de Glória Maria, não impediu que as pessoas questionassem a presença de uma mulher negra num lugar de destaque. Ela contou que chegou a receber cartas e ligações de pessoas perguntando como uma negra como ela, tinha a coragem de estar apresentando um programa e tirando o lugar de mulheres brancas e “bonitas”.

Em 2019, a jornalista foi diagnosticada com um câncer de pulmão e fez o tratamento com imunoterapia. Tempos depois, ocorreu metástase no cérebro, e ela teve de passar por cirurgia. Em 2022, começou uma nova fase do tratamento, para combater novas metástases cerebrais, que deixou de fazer efeito nos últimos dias, e ela morreu nesta manhã.

O último programa que Glória Maria apresentou foi ao ar no dia 5 de agosto de 2022. Mas o o legado dela continua e, para os futuros jornalistas, fica também o exemplo de dedicação e humildade.

“O jornalista precisa esquecer um pouco o glamour e lembrar que é um prestador de serviço da sociedade. Devemos ser humildes. Humildade não é subserviência. Humildade é inteligência”, afirmou a profissional.

Confira abaixo a entrevista completa de Glória Maria ao podcast Mano Brow:


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