Rio tem 600 mil casas em áreas de risco, diz estudo

Quando as primeiras gotas começam a cair, a dona de casa Maria de Lourdes, 58, já sabe o que fazer: corre para levantar os móveis, coloca os documentos num saco plástico e se prepara para passar a noite em claro. Moradora de Jardim Maravilha, um loteamento no bairro de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, ela aprendeu com a experiência que basta uma chuva mais forte para que a água tome conta de sua casa.

“Aqui, ninguém dorme tranquilo quando começa a chover forte. A água sobe muito rápido e, muitas vezes, numa quantidade que nem adianta subir os móveis. Eu já cansei de perder tudo e me refazer”, diz Maria.

A casa dela faz parte dos 21% dos domicílios do Rio de Janeiro que estão em áreas de alta vulnerabilidade a enchentes e deslizamentos. A porcentagem representa, ao todo, 599 mil casas nessas condições, segundo o Índice de Vulnerabilidade a Chuvas Extremas lançado nesta quarta-feira (2).

O estudo realizado pelo projeto Rio 60ºC da Ambiental Media, em parceria com a UFF (Universidade Federal Fluminense), aponta ainda que, do total de moradias em áreas vulneráveis, 142 mil estão em nível muito alto de risco.

A pesquisa analisou duas ameaças principais: os deslizamentos e as inundações. No primeiro caso, cerca de 70 mil moradias estão em alta vulnerabilidade, sendo 9.700 mil em nível muito alto. Os locais mais afetados são favelas e encostas, como a Rocinha, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, onde a ocupação irregular e a falta de infraestrutura agravam o risco de desmoronamentos.

No caso das inundações, o problema se espalha por diversas regiões do Rio. Segundo o estudo, 530 mil casas estão em áreas críticas para o fenômeno, sendo 132 mil em nível muito alto, com maior concentração na Baixada de Jacarepaguá, na zona norte e na zona oeste, onde rios canalizados e falta de drenagem eficiente tornam os alagamentos inevitáveis.

No Jardim Maravilha, por exemplo, são 7.300 mil residências (61%) em alta vulnerabilidade para o fenômeno, dos quais 2.500 mil em muito alta. Desde o ano passado, a região passa por obras de infraestrutura, com melhoria na acessibilidade e capacidade de escoamento nas chuvas. A intervenção faz parte do programa Bairro Maravilha, da Prefeitura do Rio, que está sendo implementado em 101 localidades das zonas norte e oeste da cidade ao custo de mais de R$ 1 bilhão.

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