Coronavírus

Hospital tem fila de corpos no Rio de Janeiro

Salma Ataíde

Publicado em 29 de abril de 2020 às 18:55 | Atualizado há 5 anos


Funcionários do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, área nobre da cidade do Rio de Janeiro, denunciaram um cenário de crise na principal unidade de emergência na zona oeste da cidade. Com a capacidade do necrotério lotada, hospital tinha uma fila de corpos em cima de macas, conforme mostram fotografias feitas na tarde de ontem (28), em um corredor da unidade.

Dois profissionais do Lourenço Jorge morreram em decorrência da Covid-19 e ao menos sete médicos pediram demissão alegando falta de condições de trabalho. Uma enfermeira do hospital registrou ontem ocorrência policial após a morte de uma paciente com a doença, que sofreu parada cardiorrespiratória na ala dedicada ao tratamento do novo coronavírus.

Não havia médico no local, que conta com 11 pacientes, quatro deles estão na UTI e respiram com a ajuda de aparelhos. Conforme os funcionários, o necrotério da unidade, com capacidade para 25 corpos, está lotado. Ontem à tarde, o estacionamento da emergência ficou isolado, chamando a atenção de quem trabalha no local. O espaço foi destinado a um contêiner refrigerado que será usado para armazenar os corpos.

Para a técnica de enfermagem Elaine Sales, “na segunda-feira (27), quando saí do plantão, vi que isolaram o estacionamento comum com fita. Achei que fosse alguma obra. Hoje ( ontem), colocaram um contêiner colado na porta do necrotério. Tem muita gente morrendo. É assustador”, relata. A Informação foi confirmada pela prefeitura do Rio, que negou contudo a lotação do necrotério e disse que a iniciativa era preventiva.

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde, afirmou em nota que “a informação sobre corpos amontoados, não procede. Além de possuir necrotério, o hospital alugou, preventivamente, um contêiner que poderá ampliar a capacidade de armazenamento, se necessário”, afirmou.

Enfermeira registra BO por falta de médico após morte de paciente

Transferida desde segunda-feira (27), para trabalhar no “covidário”, nome da ala destinada a pacientes com sintomas da Covid-19, a enfermeira Priscila Gomes Vilela, decidiu denunciar a falta de médicos no local, após a morte de uma paciente, registrada à 0h46 de ontem. Segundo Priscila,”se estou com paciente no “covidário”, tem que médico lá dentro.

Muitos pediram demissão no início da pandemia e outros foram afastados com sintomas da Covid-19. Mas não houve reposição. Não vou ter minhas mãos sujas de sangue por incapacidade do hospital”, ponderou. Priscila ainda declarou que pediu ajuda aos residentes da ala de cirurgia geral após a paciente sofrer uma parada cardiorrespiratória.

Ocaso também foi encaminhado ao Ministério Público do Rio de janeiro (MP-RJ) e ao Conselho Federal de Enfermagem. Priscila Vilela considerou também ter medo de se contaminar na ala destinada a pessoas com a Covid-19. “No covidário, há um nível elevado de carga viral. Perdemos inúmeros pacientes lá dentro. E já tivemos outros plantões lá sem médico responsável. Esse descaso tem que acabar”.



O que diz a prefeitura do Rio de Janeiro

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que serão feitas adequações nas escalas. Mas não informa se irá contratar novos médicos. “O Hospital Municipal Lourenço Jorge tem profissionais de saúde afastados por licença médica, no entanto, está sendo feita readequação de escalas para garantir assistência aos pacientes”, informou.

A Secretaria foi questionada sobre a denuncia de falta de médicos na ala dedicada ao tratamento de Covid-19 no momento da morte de uma paciente. A pasta informou que ira investigar. De acordo com a Secretaria, foram abertos 424 leitos exclusivos pela rede municipal para tratamento de pacientes com a Covid-19, desde o início da pandemia, são 138 de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Ontem, havia 431 pessoas internadas com sintomas da doença, de acordo com a prefeitura do Rio, e outros 275 pacientes a espera de transferência para UTIs. “A taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 97%.

*Com informações do Uol


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