A importância de hábitos corretos antes dos exames
Redação
Publicado em 21 de agosto de 2018 às 01:23 | Atualizado há 6 anosOs exames laboratoriais são subsídios para os médicos no diagnóstico correto de doenças. Sem o resultado complementar muitas vezes é impossível definir o diagnóstico da saúde do paciente, direcionar a medicação e o tratamento corretos. O jejum por algumas horas é pré-requisito para que em alguns tipos de exames não haja interferência na composição dos elementos do sangue.
Muitos dos valores de referência foram determinados em pessoas de quem o sangue foi colhido em jejum. Na rotina laboratorial, a orientação de fazer a coleta após um intervalo variável de tempo sem ingerir alimentos é uma técnica de padronização.
O exame de urina, tal qual o hemograma, está entre os mais solicitados porque traz informações importantes sobre diversos aspectos da saúde do paciente. Então, há outras recomendações sobre a forma correta de se coletar a urina.
A utilização de medicamento também é levada em consideração. Quase todo mundo já foi questionado sobre se está ou não tomando alguma medicação antes de se submeter aos exames, não é mesmo? É que a presença de algumas substâncias da composição do medicamento no organismo pode alterar o resultado dos exames interferindo em alguns valores de referência.
A biomédica Cirlane Silva Ferreira, do Conselho Regional de Biomedicina–3ª Região (CRBM 3), falou sobre o assunto ao Diário da Manhã. Cirlane é mestre em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Goiás e professora da Universidade Estadual de Goiás – Campus Palmeiras de Goiás.
Para ela, quando se trata de saúde, é importante respeitar as recomendações. O biomédico é o profissional habilitado para realizar os exames.
ENTREVISTA
DM–Que tipos de influência o exame de sangue pode sofrer se não for respeitado o intervalo do jejum?
Cirlane Silva Ferreira–A alimentação pode interferir sobre os exames laboratoriais de duas formas principais. A primeira, que não pode ser “abolida”, é sobre o nível de analitos (substância ou componente químico, em uma amostra) que variam de acordo com a ingestão de alimentos. Estão nesta categoria, por exemplo, a glicose, a insulina, os triglicerídeos. Nestes casos, a informação sobre a duração do jejum antes da coleta é importante para a interpretação dos exames, em função dos intervalos de referência.
A segunda interferência pode ocorrer em função do exame e do método usado pelo laboratório. Caso a ingestão de gorduras seja importante, ou caso a pessoa metabolize a gordura ingerida mais lentamente, o seu sangue pode se mostrar lipêmico no momento da coleta sem jejum (e, raramente, mesmo após o jejum). A lipemia torna a amostra mais turva e alguns métodos de laboratório são sensíveis a esta turvação e podem gerar resultados errôneos (para mais ou para menos).
A necessidade do jejum decorre também do fato de os valores de referência dos testes terem sido estabelecidos em indivíduos nessa condição. A refeição pode alterar a composição sanguínea momentaneamente sendo que, sem o pré-requisito, cada exame teria de ser analisado à luz do que a pessoa ingeriu.
Quais exames de sangue exigem, obrigatoriamente, o jejum e em quais análises é dispensado?
Cirlane Silva Ferreira–Jejum não é necessário para a maioria dos exames de sangue. No entanto, é recomendado que sejam feitas apenas refeições leves antes de realizá-los. Entre eles destacam-se o hemograma, a análise dos hormônios tireoidianos T3 e T4 e o teste de gravidez. Na prática usual, o jejum é uma exigência formal para a coleta do perfil lipídico e para o exame de glicose no sangue para o diagnóstico do diabetes, sendo 12 horas de jejum para o perfil lipídico e 8 horas para dosagem de glicose. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial (SBPC/ML) entende que a questão acerca da necessidade ou não do jejum para coleta do perfil lipídico ainda se encontra em fase de discussão. Estudos recentes para avaliação da influência do jejum na dosagem do perfil lipídico para avaliação do risco cardíaco demonstraram que é possível fazer esta avaliação em amostras de pacientes sem jejum, com as vantagens de refletir melhor as condições fisiológicas do dia a dia e evitar o desconforto e possíveis complicações do jejum prolongado. A dosagem com jejum prolongado seria necessária somente quando o nível de triglicérides, fora do estado de jejum, estiver acima de 440 mg/dL.
Após a coleta do sangue, por que é importante se alimentar?
Cirlane Silva Ferreira–O alimento é o combustível para o corpo realizar as atividades diárias. Assim como o jejum é importante, o desjejum no laboratório é essencial. Após um jejum prolongado pode ocorrer, com maior freqüência, episódios de hipoglicemia no organismo (a baixa taxa de glicose no sangue). Algumas das sensações são: fome súbita, tremores, sonolências, suor frio e tontura, confusão mental, irritabilidade, fadiga, falta de coordenação motora, tristeza, formigamentos pelo corpo, dormência nos lábios e na língua, podendo variar de pessoa para pessoa.
Por que a primeira amostra coletada da urina é a mais importante? E ainda por que o primeiro jato deve ser desprezado?
Cirlane Silva Ferreira–O tipo de coleta irá depender da análise que será necessária e o estado de saúde em que se encontra o paciente. Existem 2 tipos de exames de urina comuns: exame de urina tipo 1(EAS-Elementos Anormais de Sedimentoscopia)) e exame de urocultura. Dependendo da necessidade do médico, existe uma forma diferente de coleta:– em caso de urgências normalmente é solicitado amostras de urinas aleatórias. Ele é útil para detectar anormalidades muito evidentes.–Primeira amostra da manhã: Este tipo de amostra é utilizada, por exemplo, para testes de gravidez e o EAS. Por ser a primeira urina do dia, a amostra é concentrada, o que garante que sejam detectadas as substâncias presentes e em forma não diluída. Já a urocultura é o exame de urina que identifica a presença de bactérias. Pode ser um indicativo de infecção urinária. Ao contrário do exame de urina tipo 1, que é mais simples, a urocultura é capaz de identificar exatamente a bactéria que está causando a doença. O primeiro jato de urina traz células e secreção que podem estar presentes na uretra, principalmente se existir um processo inflamatório e/ou infeccioso chamado uretrite. Quando se está preocupado com uma possível infecção urinária, é importante que o material examinado não seja “contaminado” com o que estiver na uretra. Daí a necessidade de desprezar o primeiro jato e coletar o jato médio, ou seja, uma urina que representa bem o material que está na bexiga.
Que outros hábitos devem ser colocados em prática como forma de garantir a autenticidade dos exames?
Cirlane Silva Ferreira–Algumas variações consideradas fisiológicas podem resultar em valores aparentemente patológicos. Uma das causas mais freqüentes é o fato do indivíduo não estar, no momento da coleta, em condições comparáveis com as utilizadas para a definição do intervalo de referência. Estas variações são denominadas variáveis pré-analíticas e incluem dieta, tempo de jejum, variações circadianas, fase do ciclo menstrual, atividade física, stress emocional, uso de medicamentos etc
Por que é importante informar sobre o uso de medicamentos na pré-análise feita antes da coleta de material?
Cirlane Silva Ferreira–Porque há uma grande quantidade de erros e perdas dos resultados de exames laboratoriais causados por interferentes medicamentosos. A interferência causada por medicamentos constitui em um grande problema, pois o paciente pode estar em uso de vários medicamentos (prescritos ou não).
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