Cotidiano

A origem da obesidade

Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2018 às 01:49 | Atualizado há 7 anos

Mais de 50% da população adulta brasileira está com sobrepe­so ou obesidade. Em boa parte dos casos, a doença crônica acompa­nha a pessoa desde a infância. Se­gundo dados da Sociedade Brasi­leira de Pediatria (SBP), quatro em cada cinco crianças obesas per­manecerão obesas quando adul­tas. ”Isso porque a obesidade nesta fase não reflete apenas na mudan­ça da balança, mas em uma alte­ração metabólica que influencia toda uma vida. Os hábitos infanto­-juvenis são determinantes para o que será o adulto do futuro”, alerta Caiaque Souza, médico nutrólogo da Clínica da Obesidade.

Os períodos mais críticos para o desenvolvimento da obesidade são os primeiros dois anos de vida e a adolescência. Se os pais já fo­rem obesos, o risco de adquirir a doença é ainda maior. Mas mui­to além dos determinantes bioló­gicos, o ambiente em que se vive exerce forte influência na vida de uma pessoa. “Tem sim a questão da carga genética, mas, antes de mais nada, os hábitos dos respon­sáveis influenciam diretamente na rotina das crianças e dos adoles­centes. Pais com hábitos inade­quados não têm cuidados com eles mesmos e, muitas vezes, in­serem a criança neste mesmo ce­nário. A priori, o adulto não vê grande problema, mas é sim um grande risco. Compulsoriamen­te estas crianças não têm escolha, porque estão sob orientação dos pais”, adverte o nutrólogo.

A preocupação com a alimen­tação é de extrema importância e deve partir desde o pré-natal, com ações educativas focadas nos pais para a promoção da alimentação saudável e do aleitamento mater­no. Com os adolescentes, uma ro­tina saudável, até em períodos de férias escolares, pode ser determi­nante para a vida adulta. “A criança precisa do exemplo dentro de casa a todo momento. Ela não vai estar pronta. Precisa da rotina diária e ter, sobretudo, o exemplo dos pais. A melhor forma de ajudar é mos­trar isso dentro de casa, mostrar op­ções saudáveis”, reafirma Caiaque.

A dica é manter uma alimen­tação pouco calórica e muito nu­tritiva. Evitar, ao máximo, a inges­tão de açúcar, gordura saturada e sal. Os enlatados e os demais pro­dutos industrializados precisam ser retirados da alimentação diá­ria, incentivando sempre o consu­mo de frutas, verduras e legumes. “Para resistir ao tempo, os produ­tos industrializados costumam ter muito conservantes. Um suco de laranja natural, por exemplo, não dura mais de dois dias numa ge­ladeira. Já o industrializado, tem mesmo quanto tempo de validade? Será que isso é mesmo bom para a nossa saúde?”, questiona o médico.

Cabe, também, aos responsá­veis pela criança ou pelo adoles­cente estimular a prática da ativi­dade física. Em uma semana de 168 horas, é preciso dedicar apenas 2,5 horas a atividades físicas para já ter grandes benefícios. Além disto, é preciso se atentar às horas ade­quadas de sono, beber bastante lí­quido e controlar o tempo de tela a que crianças e adolescentes estão submetidos. “A obesidade é mul­tifatorial. Não tem como destacar apenas um fator específico para a causa, mas o fato da globalização e da disponibilidade de tantos dis­positivos tecnológicos, como ta­blets, têm feito com que a criança fique presa a estes aparelhos e di­minua o convívio social”, pondera Paulo Laborda da Cruz, psicólogo da Clínica da Obesidade, que é ges­talt terapeuta, especialista em Tera­pia Transpessoal Sistêmica (TTS) e em constelação familiar.

ESTIGMATIZAÇÃO

Além de trazer riscos à vida, a obesidade infanto-juvenil pode tra­zer transtornos psicológicos a uma criança ou um adolescente. “É a in­serção dela na inclusão perversa. À medida que fica inibido por ques­tões estéticas, por conta dos símbo­los adquiridos socialmente, como o conceito da beleza, o indivíduo passa a não se sentir incluído e so­fre com estas inserções sociais. Ele não pode desfrutar das mesmas re­lações sociais que outras pessoas e passa a ser uma referência negati­va. Busca, então, preencher este va­zio com uma compulsão. Quando novos, uma das mais fáceis é a ali­mentar”, explica o psicólogo.

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