Álcool danifica DNA e provoca câncer
Diário da Manhã
Publicado em 7 de janeiro de 2018 às 00:15 | Atualizado há 7 anos
Má notícia para quem quer aplacar o calor deste verão tomando uma cerveja bem gelada: uma pesquisa da Universidade de Cambrigde comprovou a relação entre o consumo de álcool e o surgimento de tumores.
A partir de testes com cobaias, os cientistas mostraram que a ingestão de álcool danifica o DNA das células-tronco, o que eleva o risco de câncer. O estudo foi publicado no periódico científico Nature nesta semana e teve apoio financeiro do instituto Cancer Research, da Inglaterra.
A ideia de que o álcool pode causar câncer não é nova. De fato, ninguém acorda depois de uma bebedeira achando que fez um grande serviço à própria saúde. Pesquisas anteriores, principalmente estudos populacionais que associavam a prevalência de câncer ao consumo alcoólico, já sugeriam que existe uma relação entre a bebida e o surgimento da doença em mais de dez partes do corpo, inclusive os mais comuns no Brasil como intestino e mama.
A novidade é que agora os cientistas conseguiram analisar como um derivado do álcool, o etanal ou acetaldeído, interfere permanentemente no DNA de células-tronco no metabolismo de ratos ao dar altas doses de álcool a cobaias. Os pesquisadores perceberam que essa quebra estimula os cromossomos a se emparelharem aleatoriamente, mudando para sempre as sequências de DNA nas células. O grande perigo de ter células tronco “defeituosas” é que elas conseguem se multiplicar e se alastrar para diversos tecidos do corpo com mais facilidade – um prato cheio para o surgimento de tumores.
O etanal é produzido quando o nosso corpo está reagindo ao álcool. E você até consegue senti-lo em ação depois de alguns bons drinks (ou nem tão bons): ele é o responsável por desencadear o mal-estar da ressaca.
PROVA REAL
Os cientistas também prestaram atenção em corpo se defende do álcool. Uma enzima chamada aldeído desidrogenase (ALDH) é capaz de catalisar, quebrar o subproduto maléfico do álcool. Eles testaram os efeitos nos ratinhos bêbados com e sem ALDH e perceberam que os que não tinham a enzima tiveram seu DNA afetado até quatro vezes mais. A outra má notícia que vem junto com a prova real é que milhões de pessoas ao redor do mundo não possuem essa enzima “anti-ressaca”.
“É importante lembrar que a liberação do álcool e os reparos no DNA não são perfeitos e o que o álcool ainda pode causar câncer de vários outros jeitos, mesmo em pessoas com esses mecanismos de defesa em ordem”, disse o líder do estudo, Ketan Patel.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) elenca o consumo de bebidas alcoólicas como um dos principais fatores de risco para a doença. O número de mortes por câncer no Brasil aumentou 31% nos últimos 15 anos. De acordo com informações da OMS, a doença matou 223,4 mil pessoas no país em 2015. Câncer é a segunda causa de mortes por aqui, atrás apenas de doenças cardiovasculares. No mundo, a estimativa é 8,8 milhões de vítimas por ano – o equivalente a população da cidade de Nova York ou de toda a Áustria.
Câncer mata 8,8 milhões de pessoas anualmente
ONU BRASIL
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2017 indicam que a cada ano 8,8 milhões de pessoas morrem de câncer, a maioria em países de baixa e média renda.
Novas diretrizes divulgadas pela organização, na ocasião do Dia Mundial contra o Câncer (4 de fevereiro), pretendem aumentar as chances de sobrevivência para pessoas vivendo com a doença ao garantir que serviços de saúde tenham como foco o diagnóstico e o tratamento precoce.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados nesta semana indicam que a cada ano 8,8 milhões de pessoas morrem de câncer, a maioria em países de baixa e média renda. Trata-se de um aumento frente à média anual registrada em 2012, quando houve 8,2 milhões de mortes.
Segundo a OMS, o número é tão alto que é duas vezes e meia maior que o número de pessoas que morrem por complicações relacionadas a HIV/AIDS, tuberculose e malária combinadas.
Novas diretrizes divulgadas pela organização, na ocasião do Dia Mundial contra o Câncer (4 de fevereiro), pretendem aumentar as chances de sobrevivência para pessoas vivendo com câncer, ao garantir que os serviços de saúde tenham como foco o diagnóstico e o tratamento precoce.
Um dos principais problemas é que muitas vezes a doença é diagnosticada tarde. Mesmo em países com alto acesso a serviços de saúde, muitos casos de câncer são diagnosticados já em estágio avançado, quando já é difícil tratar a doença.
O câncer é atualmente responsável por uma em cada seis mortes no mundo. Mais de 14 milhões de pessoas desenvolvem câncer todos os anos, e esse número deve subir para mais de 21 milhões de pessoas em 2030. Progressos e fortalecimentos no diagnóstico precoce por meio da oferta de tratamento e diagnóstico básico para todos podem ajudar os países a atingir metas nacionais ligadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), segundo a agência da ONU.
“Diagnosticar o câncer nos estágios mais avançados, e a incapacidade de fornecer tratamento, condena muitas pessoas a sofrimento desnecessário e à morte precoce”, disse Etienne Krug, diretor do Departamento de Gerenciamento de Doenças não Transmissíveis.
“Ao tomar os passos estabelecidos nas novas diretrizes da OMS, é possível melhorar o diagnóstico precoce do câncer e garantir rápido tratamento, especialmente para câncer de mama, cervical. Isso resultará em mais pessoas sobrevivendo ao câncer. Também será mais barato tratar e curar pacientes.”
Todos os países podem agir para melhorar o diagnóstico precoce do câncer, de acordo com o novo guia publicado pela OMS. Os passos que devem ser adotados incluem melhorar o alerta público sobre diferentes sintomas da doença e encorajar as pessoas a buscar atendimento quando esses sintomas aparecerem.
Além disso, é necessário investir em equipamentos médicos, no fortalecimento dos serviços de saúde e no treinamento de profissionais da saúde para que eles possam realizar diagnósticos apurados rapidamente. Também é preciso garantir que as pessoas vivendo com câncer acessem tratamento seguro e efetivo, incluindo alívio para dor, sem que isso signifique peso pessoal ou financeiro.
Os desafios são maiores em países de baixa e média renda, com menos capacidade para fornecer acesso a serviços de diagnóstico efetivos, incluindo exames de imagem, de laboratório e patológicos — todos importantes em ajudar a detectar câncer e planejar tratamento. Os países têm atualmente diferentes capacidades de fornecer aos pacientes com câncer níveis apropriados de tratamento.
A OMS também encorajou esses países a priorizar serviços de diagnóstico e tratamento básicos, de alto impacto e de menor custo. A organização também recomendou reduzir a necessidade de as pessoas pagarem pelo tratamento do próprio bolso, o que faz com que muitos não busquem apoio desde o início.
De acordo com a OMS, a detecção precoce do câncer reduz o impacto final da doença: não apenas o custo do tratamento é muito menor nos estágios iniciais, como as pessoas podem continuar trabalhando e apoiando suas famílias caso recebam tratamento efetivo a tempo. Em 2010, o custo econômico anual do câncer nos gastos com saúde e perdas de produtividade foram estimados em 1,16 trilhão de dólares no mundo.
As estratégias para melhorar o diagnóstico precoce podem ser estabelecidas nos sistemas de saúde a baixos custos. Além disso, diagnósticos precoces efetivos podem ajudar a detectar câncer em pacientes em estágios precoces da doença, permitindo tratamento que geralmente é mais efetivo, menos complexo e menos custoso. Por exemplo, estudos em países de alta renda mostraram que o tratamento para pacientes com câncer que foram diagnosticados cedo são de duas a quatro vezes mais baratos quando comparado ao tratamento de pessoas diagnosticadas em estágios avançados da doença.
Diagnosticar o câncer nos estágios mais avançados, e a incapacidade de fornecer tratamento, condena muitas pessoas a sofrimento desnecessário e à morte precoce” Etienne Krug, diretor do Departamento de Gerenciamento de Doenças não Transmissíveis
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