Cotidiano

Alto índice de mortalidade e diagnóstico tardio

Diário da Manhã

Publicado em 28 de março de 2018 às 02:15 | Atualizado há 1 semana

  •  88% dos casos são descobertos em estágios avançados
  • Uma análise realizada com dados do departamento de in­formática do SUS (Sistema Úni­co de Saúde), Datasus, revelou que o carcinoma hepatocelular (CHC), popularmente conhecido como câncer de fígado, é o tercei­ro que mais mata no mundo. Fo­ram contabilizadas cerca de 700 mil mortes por ano. No Brasil, 44 mil pessoas morreram em decor­rência da doença, entre 2011 e 2015. Nos últimos cinco anos, o SUS contabilizou 26 mil diagnós­ticos da doença. De acordo com o oncologista e membro da Socie­dade Brasileira de Oncologia Clí­nica (SBOC), doutor Roberto Gil, 88% dos casos são diagnostica­dos em estágios avançados, onde existem poucas chances de cura e apenas cabem medidas paliati­vas para aumentar a sobrevida do paciente. Ainda segundo Gil, “se diagnosticado primariamente”, a chance de cura é de 95%.

    O professor de Gastroentero­logia, da Faculdade de Medici­na da USP (Universidade de São Paulo), Flair Carrilho, alerta so­bre os problemas de subnotifica­ção e mau acompanhamento da saúde do fígado. Ele ressalta que problemas hepáticos anteriores ao câncer são mais difíceis de se­rem detectados porque, geral­mente, o fígado apresenta sinto­mas já em quadros avançados. O princípio de pro­blemas hepáticos está associado ao acúmulo de gor­dura no fígado, por isso, manter uma alimenta­ção balanceada, praticar regular­mente exercícios físicos e acompa­nhar os níveis de gordura hepática, são ações funda­mentais para prevenir o câncer. O doutor Roberto Gil também alerta para a falta de planeja­mento no SUS e necessidade de “estruturação do Sistema para aplicação das leis”.

    O consumo excessivo de bebi­da alcoólica é um dos fatores que agride o fígado e está associado ao desenvolvimento da cirrose hepática, que acontece a partir da cicatrização do tecido, em de­corrência de agressões constan­tes ao órgão. Entre os homens, o câncer de fígado é o quinto mais comum e 56% dos diagnostica­dos com a doença são do sexo masculino. Entre as mulheres, é o sétimo tipo de câncer mais comum. A maior incidência dos casos acontece na Ásia e na Áfri­ca e, nos EUA, cerca de 50% da população possui excesso de gordu­ra no fígado.

    Uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto On­coguia, em parce­ria com a empresa de saúde e agri­cultura, Bayer SA, entrevistou 1.500 pessoas entre 18 e 65 anos para tes­tar o conhecimen­to popular sobre a doença. 61% dos entrevistados disse não co­nhecer os principais sintomas do câncer de fígado e 59% desconhe­ce os fatores de risco. Apesar de pouca informação, 76% dos par­ticipantes consideram que o con­sumo excessivo de álcool é uma das causas do carcinoma hepa­tocelular. O principal meio para descobrir lesões no órgão é atra­vés dos exames de imagem, como a ultrassonografia, por exemplo. A pesquisa, entretanto, revelou que apenas 20% dos entrevista­dos tem conhecimento sobre es­ses modos de diagnóstico.

    Para a psicóloga e presiden­te do instituto Oncoguia, Lucia­na Holtz, a população necessi­ta de mais acesso à informação a respeito do CHC, principalmen­te sobre os meios de diagnosticar e as possibilidades de tratamen­to. A pesquisa mostrou que 44% das pessoas não conhecem os tra­tamentos disponíveis. “A maioria dos tumores é descoberta depois do avanço da doença e isso tem impacto direto no uso das tera­pias e na sobrevida dos pacien­tes”, ressalta Holtz.

    Para cada estágio da doença, existem diferentes possibilida­des de tratamento. Em casos de diagnóstico primário, a ressec­ção cirúrgica, que é uma inter­venção para a extração total ou parcial do órgão, e o transplante, são opções potencialmente cura­tivas. Para estágios mais avan­çados, a regressão do tumor é o principal objetivo dos tratamen­tos, que pode acontecer através de injeção de etanol ou por radio­frequência. Já para casos muito avançados, as principais opções são quimioterapia e emboliza­ção, que é a destruição de célu­las indesejadas, além dos trata­mentos paliativos, para aumentar a sobrevida do paciente.

    FÍGADO

    O fígado é o maior órgão só­lido do corpo, sendo composto por diferentes tipos de células, que podem formar variados tu­mores, malignos ou benignos. O professor Flair Carrilho, que tam­bém é médico do Hospital das Clínicas da USP, diferencia os ti­pos de princípio de câncer. “Al­guns começam como um único tumor que se espalha para outras partes do órgão, enquanto outros começam em vários pequenos nódulos cancerígenos espalha­dos por todo o fígado”. O segun­do caso é mais comum em pes­soas com cirrose. Nos casos onde ocorrem tumores malignos, exis­tem chances de metástase, quan­do a doença sai do órgão e se es­palha para outros locais.

    O carcinoma hepatocelular é o tipo mais comum de câncer no fí­gado e se origina nas próprias célu­las do órgão, através da multiplica­ção excessiva das células hepáticas, que o corpo promove na tentativa de reparar lesões. Esse mecanis­mo aumenta as chances de erro na reprodução, o que pode levar ao surgimento do tumor. Além de muito agressivo, o CHC é silencio­so e só demonstra sintomas claros em estágios avançados, quando as funções do fígado já estão compro­metidas e as lesões não estão sen­do reparadas naturalmente. É por isso que o câncer de fígado regis­tra alto índice de mortalidade, já que os tratamentos disponíveis nos estágios de alto comprometimen­to do fígado, que é quando o diag­nóstico costuma acontecer (88% dos casos), são poucos.


    Falta planejamento e estruturação do sistema para aplicação das leis” Roberto Gil, Oncologista   A maioria dos tumores é descoberta depois do avanço da doença e isso tem impacto direto no uso das terapias e na sobrevida dos pacientes” Luciana Holtz, psicóloga e presidente da Oncoguia

     

    ]]>

    Tags

    Leia também

    Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

    edição
    do dia

    últimas
    notícias