Ampliação da Chapada dos Veadeiros tem aplausos e gritaria
Diário da Manhã
Publicado em 7 de junho de 2017 às 02:22 | Atualizado há 8 anosEnquanto ecologistas comemoram a ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Região Nordeste goiana, produtores, representados pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), reagem em nota oficial.
Depois de 16 anos de espera, agora a área passará de 65 mil para 240 mil hectares. O decreto que autoriza a expansão, assinado pelo presidente da República, Michel Temer, ontem, é considerado um passo importante para proteger o Cerrado. De acordo com estudos feitos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a expansão vai proteger 17 espécies da flora e 32 espécie da fauna ameaçadas de extinção.
Pelo ecossistema
“Os novos limites são fundamentais para conservação porque os grandes mamíferos se locomovem a grandes distâncias ao longo do dia. Essa área nova abriga ecossistemas que hoje não estão protegidos na forma de um parque nacional, por exemplo, as matas secas, que têm alto grau de ameaça. Ampliar o limite do parque, abrigando também o ecossistema da mata seca, é importante para manutenção desse ecossistema. Além disso, os novos limites conservam também plantas endêmicas, plantas raras, além de abrigar locais belíssimos”, afirma Fernando Tagiba, chefe nacional do Parque.
A nova demarcação do parque também trouxe entusiasmo ao produtor Lourenço de Andrade Almeida, que terá a propriedade reconhecida como área preservada. Feliz com a medida, ele acredita que a mudança trará benefícios para a comunidade. “A ampliação vai ajudar a preservar o cerrado. Vai ser uma conquista que vai levar a outras ações, à preservação de unidades. Vai criar um movimento em defesa do meio ambiente que é importante para todos nós”, diz.
Turismo
Com diversas formações vegetais, nascentes e cursos d’água, rochas com mais de um bilhão de anos, além de paisagens de rara beleza, a Chapada dos Veadeiros atrai milhares de turistas ao longo do ano. Esse potencial turístico também será beneficiado com a ampliação da área.
“A gente tem bastante atividade para o turismo de aventura. A região é muito vasta e encontra diversos atrativos, entre morros para escalada, rios, para prática de esportes aquáticos e uma imensa vastidão de terras para as trilhas e caminhas e trekkings de longa duração. A expansão do parque só vai aumentar as oportunidades nesse setor econômico que é o turismo”, avalia Julio Itacaramby, da Associação de Guias e Prestadores de Serviço em Ecoturismo da Chapada dos Veadeiros.
Histórico
Quando foi criado, em 1961, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros tinha 625 mil hectares de área protegida. A primeira redução ocorreu em 1972, quando o Ministério da Agricultura fez um diagnóstico e reduziu os limites para 171.924 hectares. Nove anos depois, em 1981, o parque foi novamente reduzido, ficando restrito a 65 mil hectares, por conta do Projeto “Agropecuários Alto Paraíso”, apresentado pelo governo de Goiás.
Em 2001, foi reconhecido como Sitio do Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO e teve sua área ampliada para 235 mil hectares. Entretanto, o decreto de ampliação foi suspenso em 2003 pelo Supremo Tribunal Federal, por falhas no processo e consulta pública, voltando à área definida em 1981. (Com Agência Brasil)
Nota oficial da Faeg
Foi imediata a reação da Faeg, acatando reclamos dos agropecuaristas da Região Nordeste do Estado. Veja a nota oficial da entidade classista:
A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) vem por meio desta nota repudiar uma medida arbitrária adotada pela Presidência da República, com anuência do Governo do Estado de Goiás, que assinou o decreto da ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, dos seus atuais 65 mil hectares para 240 mil hectares. Entendemos a importância de medidas concretas de preservação ambiental, e participamos efetivamente dos debates, visando construir uma política que contemple a preservação ambiental em consonância com as necessidades das populações existentes. Porém, o decreto se concretiza em uma ação que penaliza seis municípios, com população de 37.067 habitantes e centenas de produtores e famílias rurais que sobrevivem na região, que serão prejudicados econômica e socialmente.
A medida soa como uma penalidade à população da Chapada, porque o processo de ampliação estava sendo discutido há mais de oito anos pela Faeg com os governos federal e estadual, de forma ampla e transparente, juntamente com a sociedade civil, com as prefeituras municipais, as instituições de classe, e finalizado por meio de uma decisão unilateral dos governos federal e estadual, sem a apresentação do projeto final e solução das pendências levantadas. Ressaltamos que sequer a regularização da primeira etapa da implantação do Parque Nacional, criado há mais de 56 anos foi finalizada, e os proprietários jamais foram indenizados. Consideramos que a medida foi precipitada, pois existia um acordo entre o Governo do Estado de Goiás e a Faeg, para finalizar a regularização fundiária da região envolvida, visando resguardar o direito de propriedade e suas respectivas indenizações.
Os governantes não levaram em consideração a questão social dos municípios atingidos, pois os verdadeiros defensores e cuidadores das áreas e belezas naturais serão obrigados a deixar suas propriedades sem terem a garantia da indenização de suas terras, o que é arbitrário e totalmente insustentável.
Preocupamos com as famílias que serão expulsas da região, totalmente marginalizadas, que irão migrar para as periferias das grandes cidades, num futuro incerto e despreparadas para enfrentar esta nova situação.
A questão da preservação ambiental é fundamental para a sociedade, e a Faeg comunga com este princípio. Zelar do ser humano é também um ato de preservação da vida, do meio ambiente e da paz.
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