As doenças que abandonaram sua preferência
Diário da Manhã
Publicado em 16 de setembro de 2016 às 02:15 | Atualizado há 8 anosPatologias que até há algum tempo eram consideradas exclusivas aos idosos, como é o caso do AVC, catarata, infarto e glaucoma, entre outras, estão atingindo, com maior frequência, os jovens. Entre as causas destacam-se hábitos de vida pouco saudáveis e a possibilidade de diagnóstico precoce, capazes de detectar doenças mais cedo.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2020 cerca de 40 milhões de pessoas podem ser vítimas da catarata. Apesar de, popularmente, a catarata ser conhecida como uma patologia pertencente aos idosos, a idade não é único fator de risco. Só no Brasil são detectados cerca de 100 mil novos casos de doenças oculares todos os anos.
Traumatismos em geral, uso de medicamentos e até mesmo a exposição excessiva ao sol podem acelerar o aparecimento da catarata, atingindo pessoas consideradas novas para contrair tal doença.
Oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares, Leonardo Akaishi revela que o número de crianças e adolescentes com doenças oculares tem surpreendido, especialmente em casos graves, como a catarata e o glaucoma.
O médico ainda alerta para a prevenção, que ocorre por meio de consultas anuais. Para ele, o brasileiro é relapso quando se trata de saúde ocular, dificultando as chances de prevenção.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2000 e 2010, cerca de 62 mil pessoas abaixo dos 45 anos morreram vítimas de AVC no Brasil, lista que foi engrossada por crianças e adolescentes.
Em 2012, quatro mil pessoas entre 15 e 34 anos foram internadas, no Brasil, em decorrência de derrames. Estes jovens estão, em sua grande maioria, expostos a fatores de risco, como obesidade, pressão alta, diabetes, colesterol alto entre outros agravantes.
Os sintomas do AVC em jovens é bastante semelhante aos que ocorrem entre adultos e idosos. As queixas mais frequentes são: diminuição ou perda súbita da força na face, de braço ou perna, de apenas um lado do corpo, sensação de formigamento, mudanças na audição e fala, dor de cabeça e dificuldades para articular, em casos mais graves também podem ocorrer desmaios.
Infartos
No caso do infarto, é raro que ocorra antes dos 35 anos, porém não é impossível que jovens passem por isso. Essas pessoas geralmente figuram entre grupos com fatores de risco, que são eles: excesso de peso, tabagismo, hipertensão, diabetes, histórico familiar e colesterol elevado, entre outras questões.
O cigarro parece ser o principal fator de risco, já que 81% dos jovens que infartam apresentam o hábito de fumar. Há também o alerta para o consumo de duas drogas, que são as anfetaminas e a cocaína. Cerca de 25% dos infartos em jovens estão relacionados com o uso da cocaína, que na primeira hora após seu consumo aumenta a chance de um infarto em até 24 vezes.
As 10 principais doenças dos idosos no Brasil
De acordo com o IBGE, 3 em cada 4 idosos têm alguma doença crônica, ou seja, uma doença de curso arrastado, boa parte delas incurável. As doenças infecciosas e os acidentes continuam a ser importantes, mas a maior parte da carga de doença da terceira idade no Brasil é por causa das doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes mellitus e as consequências da hipertensão arterial.
Essas são as 10 doenças que mais prejudicam a saúde dos idosos brasileiros:
- Infarto, angina e seus amigos (11,8%) — A doença cardíaca isquêmica consiste no entupimento (ou, muito raramente, num espasmo) das artérias coronarianas, que levam o sangue ao coração.
- AVC (9,9%) — A doença cerebrovascular consiste não apenas no derrame (AVC), mas também em outras formas menos dramáticas, mas que também prejudicam a autonomia do idoso.
- Diabetes mellitus (5,9%) — Essa doença dispensa apresentação, e já escrevi um bocado sobre ela. Com o envelhecimento da população, espera-se um aumento cada vez maior do número de diabéticos.
- Enfisema pulmonar e bronquite crônica (5,6%) — Já descrevi o DPOC no artigo sobre as 10 principais doenças da mulher brasileira. Espero que ao longo das próximas décadas o problema comece a diminuir, como consequência do combate ao tabagismo.
- Mal de Alzheimer e outras demências (4,2%) — Não é normal o idoso ficar gagá. Repito: não é normal. O esquecimento pode ter outras causas além da demência; o mais comum é uma depressão, mas também pode ser uma doença no corpo.
- Perda de audição (3,3%) — OK, isso não é bem uma doença, é uma condição crônica. Algumas pessoas realmente perdem a audição com a idade, e o aparelho de audição pode ajudar muito na reintegração dessas pessoas à sociedade. Mas às vezes a coisa é mais simples: ouvido entupido por cera. (Dica: não use cotonete dentro do ouvido!)
- Doença cardíaca hipertensiva (3,3%) — Você reparou que a hipertensão não apareceu até agora? Se fosse só a pressão ficar alta, não haveria problema algum. Mas uma pressão arterial elevada por anos a fio pode causar uma série de doenças; já citamos o infarto e o derrame, mas o próprio músculo do coração pode adoecer, causando a doença cardíaca hipertensiva. Num grau mais avançado, isso vira insuficiência cardíaca, ou seja, coração inchado. (Existem outras causas de insuficiência cardíaca além da doença cardíaca hipertensiva.)
- Pneumonia (2,7%) — Muita gente não sabe, mas a vacina contra a gripe (suína ou comum) também previne pneumonia; esse é um dos motivos dos idosos a receberem. Existem outras vacinas que poderiam ajudar, mas prefiro não discutir hoje se vale a pena ou não tomá-las. Outra forma de prevenir a pneumonia é cuidar de outras doenças, para que a pessoa não fique acamada ou de outra forma debilitada.
- Osteoartrose (2,6%) — Esse é o tipo mais comum de reumatismo; ao contrário do que muita gente acha, não é a mesma coisa que osteoporose. Para saber mais sobre essa diferença, leia o início do artigo Como prevenir a osteoporose. Daqui a dois dias pretendo escrever sobre uma série de estudos que avaliou um dos medicamentos mais usados contra a osteoartrose.
- Catarata (2,2%) — O olho humano tem uma lente, chamada cristalino, por onde a luz passa para chegar até a retina. Com a idade o cristalino fica cada vez menos transparente, mas o tratamento cirúrgico só deve ser feito se a catarata estiver incomodando a pessoa.
Os números entre parênteses representam a participação da doença na carga total de doença dos idosos brasileiros, medida em anos de vida perdidos, com um ajuste para o grau de incapacidade dos doentes que estão vivos, e levando em consideração o número de pessoas afetadas.
A maioria das doenças da lista pode ser prevenida e/ou adiada com um estilo de vida saudável e tratamentos adequados, mas geralmente não é possível evitar completamente a doença, e uma vez que a pessoa tenha, é para sempre. Nesse contexto, é importante privilegiar ações preventivas e de tratamento e recuperação que preservem a autonomia da pessoa idosa, ou seja, que permitam à pessoa continuar desempenhando suas atividades sem depender da ajuda dos outros.
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