Aumento da passagem é maior que o dobro da inflação acumulada
Diário da Manhã
Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 01:44 | Atualizado há 7 anosEm 1994, a tarifa do transporte coletivo custava R$ 0,40. Recentemente, a Companhia de Transporte Coletivo (CMTC), presidida por Fernando Olinto Meirelles, solicitou reajuste da passagem para R$ 4,05. Ao longo desses 23 anos, a tarifa de ônibus na região metropolitana de Goiânia teve alta de 912,5%, valor muito acima dos cerca de 440% de inflação acumulados desde então. A tarifa do transporte público sofre reajuste praticamente todos os anos e uma das principais justificativas é a correção inflacionária.
O cálculo do aumento, previsto no contrato de concessão, considera quatro fatores: salário dos motoristas; preço do combustível; índice de manutenção da frota de veículos; e a inflação anual. Todos esses parâmetros são divididos pela quantidade média de passageiros por quilômetro. O recente cálculo apresentado pela CMTC considerou dados dos últimos 22 meses, de fevereiro de 2016 até outubro de 2017. Isso porque, excepcionalmente em 2017, a tarifa não aumentou, após ser cogitada correção de até R$ 0,50, o que aumentaria a taxa para R$ 4,20.
Na época, o Governo do Estado modificou o acordo, que determinava a divisão do repasse de verba para o Programa Passe Livre (PLE) com as Prefeituras das cidades da Região Metropolitana. Sendo assim, a gestão estadual assumiu 100% dos subsídios referentes ao PLE. Segundo a CMTC, o aumento da passagem era necessário para cobrir os custos com os subsidiados, como estudantes e idosos. No mesmo ano, o benefício da meia-passagem, garantido à todo estudante de escolas públicas e privadas da capital e região desde 1993, através da lei nº 7.238, foi suspenso. Com essas medidas, o aumento não ocorreu em 2017. Entretanto, estudantes denunciam mal funcionamento do PLE.
O PLE garante duas passagens por dia somente para o trajeto entre casa e escola. Segundo a Secretaria Estadual de Governo (Segov), responsável pelo Programa, o ano de 2017 foi finalizado com um total de 102.218 estudantes beneficiados em Goiás. Estudantes denunciam atraso para depósito das passagens ou entrega de valor defasado. Segundo o Movimento Contra Catraca (MCC), que organizou protestos contra essas medidas, duas passagens por dia, em muitos casos, não é suficiente para estudantes frequentarem a escola.
De acordo com o Movimento, o Programa foi feito para contemplar estudantes que, na maioria dos casos, não trabalham nem fazem parte da população economicamente ativa. Com restrição das passagens, os estudantes estariam limitados a se locomoverem pela cidade. Mesmo com o Governo assumindo os gastos com os subsidiados, agora a CMTC alega que o aumento é necessário por conta da alta nos preços dos combustíveis.
Prefeito defende municipalização do transporte em Aparecida
O presidente da Câmara Deliberativa de Transportes (CDTC) e prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (PMDB), defendeu a municipalização do transporte público em Aparecida de Goiânia. O município romperia o contrato atual com as empresas e passaria a ter um sistema de transportes independente da Região Metropolitana. Mendanha disse ainda que é contra o aumento da tarifa, caso não hajam melhorias no sistema de transporte coletivo.
“Embora eu seja presidente de todo o transporte da Região Metropolitana, estou defendendo que Aparecida não faça mais parte dessa Grande Goiânia, até porque Aparecida hoje é independente. Não podemos ser mais vistos como somos hoje, apenas ligando Aparecida a Goiânia. Nós temos que ter transportes interbairros na cidade”, afirma Mendanha.
Sobre a baixa qualidade do transporte, o presidente da CDTC disse que espera receber propostas de melhoramento do serviço, caso contrário se posicionará contra o aumento. “A partir do momento que me apresentarem tecnicamente e, principalmente dentro do contrato, aquilo que será feito pelo município, eu estarei pronto para discutir e inclusive ser favorável ao aumento”, alega.
O representante da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) na CDTC, deputado Marlúcio Pereira (PSB), também afirmou ser contra o aumento. De acordo com ele, na deliberação do último reajuste, as empresas prometeram investimentos no sistema de transportes, mas não cumpriram.
“[No último aumento] fui contra, quando a passagem foi de R$ 3,30 para R$ 3,70. Ali eles apresentaram a planilha [de custos] e prometeram vários investimentos que não fizeram”, disse Marlúcio em entrevista à Rádio 730. O deputado também alega que a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo se limita a discutir somente questões relacionadas ao aumento.
“A CDTC só convoca a gente para aumentar passagem. Não convoca para discutir segurança, para discutir sobre os pontos de ônibus que estão caindo, para discutir fiscalização. Não dá para votar a favor de um projeto desse, aumenta-se a passagem e não tem investimento”, pontua.
Outro político que se manifestou contrário ao aumento foi o vereador Allysson Lima (PRB). Ele protocolou no Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) uma ação civil contra o reajuste na tarifa. No documento, o parlamentar argumenta que o aumento proposto corresponde à 9,5%, enquanto que o recente aumento no salário mínimo, de R$ 17,00, corresponde à 1,8%. “Como pode o Trabalhador pagar um aumento de 9,5% na tarifa de transporte público enquanto seu salário teve reajuste de apenas 1.81%?”, questiona o texto do documento.
Assim como Marlúcio Pereira, o documento do vereador também questiona o não cumprimento das obrigações estabelecidas no contrato de concessão por parte das concessionárias. Entre os compromissos firmados, os principais estão relacionados à segurança nos ônibus, terminais e pontos de ônibus, bem como a revitalização de terminais e pontos de ônibus.
Se aprovado, a tarifa de ônibus em Goiânia será, pela primeira vez, maior do que a de São Paulo, que já tem aumento definido para R$ 4. A votação do reajuste deve acontecer após o dia 14 de janeiro. Isso porque, segundo o gabinete do presidente Gustavo Mendanha, o político está viajando e só volta no dia 14.
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