Bebê baleado no útero da mãe morre no Rio

Claudinéia dos Santos Melo, que foi baleada na região pélvica no dia 30 de junho, recebeu no início da tarde de ontem, dia 30, a triste notícia de que o seu filho morreu na UTI do Hospital Adão Pereira Nunes. Arthur Cosme de Melo foi vítima de bala perdida ainda no útero da mãe, e teve o pulmão perfurado e sofreu graves lesões na coluna. Claudinéia estava grávida já de 39 semanas, e ia ao mercado quando se viu em meio ao fogo cruzado entre PMs e traficantes na Favela do Lixão, região central de Duque de Caxias.

A Secretaria Estadual de Saúde do estado do Rio de Janeiro informou que o bebê piorou o seu quadro clínico e, às 14:05 da tarde de ontem (domingo), Arthur não resistiu e acabou falecendo. A piora foi provocada por uma hemorragia digestiva intensa, que aconteceu no final da madrugada de domingo, por volta das 5:30.

Confira a nota: “A família do paciente foi informada e esteve na unidade ainda pela manhã, recebeu todas as informações sobre o estado de saúde do paciente, que esteve gravíssimo nas últimas horas. Todos os procedimentos para reverter o quadro foram adotados, porém não houve resposta clínica do paciente. A família foi imediatamente informada e esteve novamente reunida com a chefia da UTI Neonatal e equipe médica. O corpo do paciente será encaminhado ao Instituto Médico Legal, procedimento que é padrão em casos de violência (vítima de perfuração por arma de fogo, como é o caso)”.

O comunicado ainda se solidarizou à dor da família no final do texto.

Caso

Claudineia dos Santos tem 29 anos de idade, e estava grávida de 39 semanas quando foi atingida no quadril enquanto ia ao supermercado. O tiroteio começou quando traficantes avistaram a viatura da Polícia Militar e a atacaram. Embora exista a informação de que os policiais não revidaram, a Polícia Civil ainda não fechou o inquérito que investiga a autoria do tiro. A bala perfurou o bebê no peito e parte da orelha, que acabou por provocar um coágulo no cérebro.

Ainda consciente, Claudineia foi atendida e encaminhada ao Hospital Moacyr do Carmo, onde os médicos rapidamente realizaram o parto. Assim que a Cesariana foi concluída, Arthur foi entubado e levado para a UTI, onde a equipe médica realizou os primeiros atendimentos. Logo em seguida, o bebê foi encaminhado para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, cidade também situada na Baixada Fluminense. Sua paraplegia foi diagnosticada lá, mas especialistas acreditavam que o bebê poderia recuperar os movimentos se ele sobrevivesse. No início deste mês, dia 6, Claudineia recebeu alta médica, mas ainda não havia abraçado seu filho, que continuava internado em estado grave.

A 59ª Delegacia de Polícia Civil, de Duque de Caxias, continua realizando investigações e já ouviu os dois policiais militares que estavam na ocorrência. “Todos os indícios que nós temos até agora indicam que esse tiro partiu dos traficantes”, disse a delegada Raíssa Celles. De acordo com o depoimento dos PMs, ambos estavam saindo da Favela do Lixão quando foram atacados, e que não revidaram

“Todos os indícios que nós temos até agora indicam que esse tiro partiu dos traficantes. Serão ouvidos os familiares, a própria vítima, para que ela nos informe o que que ela viu, se ela chegou a ver alguma coisa, e os policiais militares serão reinquiridos sobre a possibilidade de identificação dos autores dos disparos da arma de fogo”, disse a delegada da 59ª DP, Raíssa Celles.

Os dois policiais militares do batalhão de Duque de Caxias foram ouvidos. Em depoimento, eles disseram que estavam saindo da Favela do Lixão quando foram atacados, e que não revidaram. Também disseram que levaram Claudineia imediatamente ao hospital quando constataram que a gestante fora atingida. A 59ª DP também fez uma reprodução simulada do caso na Favela do Lixão, e mais depoimentos serão colhidos até o fechamento e conclusão do inquérito.