Brasil vive inferno tributário, aponta Zeina
Diário da Manhã
Publicado em 24 de agosto de 2018 às 04:22 | Atualizado há 6 anos
O Brasil vive um inferno tributário, acusou, ontem, Zeina Latif, doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e economista-chefe da XP Investimentos, ao proferir palestra Perspectivas econômicas e políticas para o País: Impactos para o Agro, realizado no auditório da Faeg. Zeina discorreu sobre o atual cenário econômico e as perspectivas para os brasileiros com as eleições de outubro deste ano. Sua palestra chamou a atenção pelo realismo, mostrando aos mais de quinhentos participantes a necessidade da realização das reformas de base.
As reformas exigidas para que o Brasil retome o crescimento econômico e social e restabeleça a ordem política são inadiáveis no próximo governo, segundo a economista que trabalhou no Royal Bank of Scotland e hoje sempre presente nos debates televisivos. “São desafios para o novo governo a assumir em 2019.” Entre essas reformas, citou as da Previdência e Trabalhista. Zeina abriu um parêntesis para chamar a atenção para o governo Temer. “Com uma popularidade no máximo de 5%, teve a coragem de propor reformas”, lamentando que um presidente com pouco tempo de mandato os parlamentares tenham impedido os avanços.
O País gasta 13% de sua receita com a Previdência, observou, ao apresentar gráficos sobre as curvas demográficas que mostram o envelhecimento da população brasileira. De 1930 a 2015, dobrou o número de idosos. Esse ônus é da ordem de R$60 bilhões. Em 2917, 57% do orçamento federal foi comprometido com despesas da Previdência.
Em sua opinião, o próximo presidente terá que proceder cortes nas despesas e seguir fielmente a lei de responsabilidade fiscal. Agindo assim, poderá ganhar a confiança dos investidores. “O Brasil perdeu grau de investimento por causa da desconfiança”, disse,observando que o passivo atuarial está em 233% do PIB (Produto Interno Bruto) referente à Previdência.
CORAGEM PARA AS REFORMAS
A economista, sempre presente nos grandes debates pela televisão, manifesta esperança de que um governo recém saído das urnas promova as reformas necessárias já no primeiro ano. As razões apontadas: ainda conta com força política partidária, motivada inclusive pela distribuição dos cargos e cobrança dos eleitores. A pergunta que fica: “quem terá capacidade para promover as reformas?”
Ao analisar o Custo Brasil, defendeu mudanças das regras tributárias. Segundo ela, “um inferno num estado muito autoritário”. Essa tributação impede o nascimento e o crescimento das empresas, sobretudo as de grande porte. Em sua observação, essa condição impede ainda maior uso de tecnologia de ponta e o País deixa de competir com os de Primeiro Mundo. E fica num universo menor em termos de produtividade média, a exemplo do Chile, México, Argentina. “Muitas empresas e pouco produtivas”, resumiu.
Entende, no entanto, que a “concorrência comercial faz o empresário sair da zona de conforto”. O reajuste salarial no Supremo Tribunal Federal em sua opinião fere a lei de responsabilidade fiscal por causa do efeito cascata. Lembrou a propósito que a presidente Dilma Rousseff “levou cartão vermelho” porque feriu esses preceitos legais. Recomenda que não “se brinque” com a economia porque corre risco de não concluir o mandato.
Depois de analisar a greve dos caminhoneiros, que paralisou o País por dez dias, lembrou que o movimento trouxe novos problemas à sociedade, com encarecimento dos transportes e conseqüente custo de vida. Encerrando, comentou que a inflação está sob controle e que a economia se recupera, embora muito lentamente.
RESSACA DO IMPEACHMENT
Murillo de Aragão, advogado, jornalista e cientista político, além de debatedor do Programa Globo News Painel, em sua fala num dos painéis, considera que o País ainda viva a “ressaca do impeachment de Dilma”. O clima de discussão ideológica continua. Quanto a Lula, preso sob acusação de propinas em seu governo, disse que 37% do eleitorado crêem em sua inocência.
Segundo o conferencista, numa campanha política o pessoal em nome do Lula pode distribuir santinhos e favorecer o candidato petista à Presidência da República. Haddad, ex-prefeito de São Paulo, tem chance. Jair Bolsonaro é outro concorrente forte, com ibope que em alguns momentos chega a 27%, mas com média de 20% hoje. Alckmin atualmente com 7% tende a crescer em decorrência da coligação ampla e do conseqüente espaço na televisão.
Teceu considerações ainda sobre os demais candidatos. Mas, considerou, contudo a “cabeça do eleitor como um enigma”. Ainda, qualquer pisada em falso, durante a campanha, pode derrubar um candidato que hoje lidera as pesquisas de opinião pública. Em sua opinião, no segundo turno, os candidatos à sucessão presidencial adotarão comportamento mais moderado.
Na abertura, falaram o presidente interino da Faeg, Bartolomeu Braz, dizendo da importância do evento para Goiás, logística nos transportes, dando exemplo a manifestação dos caminhoneiros e lembrando da necessidade da formação de uma bancada ruralista, entre outros. Igor Montenegro, diretor superintendente do Sebrae, reconheceu os laços de parceria com a Faeg. Antônio Flávio Lima, superintendente da Agricultura, representando o governador José Eliton, disse dos esforços do governo atual no processo de desenvolvimento do agro.
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