Crime contra a diversidade
Redação
Publicado em 1 de agosto de 2016 às 20:10 | Atualizado há 5 dias
Criada por agressores virtuais ainda não identificados, a página ‘Antes e depois da Federal’ surgiu no Twitter no dia 31 de julho, e em menos de 24 horas já reunia mais de cinco mil seguidores. A ideia é simples: os criminosos fazem uma comparação de fotografias antigas e recentes de estudantes da Universidade Federal de Goiás e se divertem com comentários que exploram todas as possibilidades imagináveis de preconceito. Simultaneamente, exalam um tom de superioridade moral simplesmente por acreditarem que o comportamento do ser humano deve ser padronizado. Para os responsáveis e seguidores da página, quem não se sente contemplado com o modo de vida que eles seguem merece ser ridicularizado e exposto.
“Conteúdo preconceituoso? Nem legenda estamos usando. Expondo pessoas? As fotos já estavam nas redes sociais. Processo? Humanas não tem dinheiro pra isso”. Esse comentário foi feito por um organizadorda página. A frieza e falta de humanidade é visível em frases estéreis, sem respeito à vida, aos familiares e à bagagem cultural de várias minorias. Os apoiadores do crime virtual afirmam erroneamente que o fato das fotos terem sido publicadas pelos próprios estudantes atacados dá direito à página em contextualizá-las da forma que bem quiserem, adaptando as imagens das vítimas àquilo que chamam de humor.
A constituição brasileira criminaliza o uso indevido de imagem. Postar fotos de terceiros sem autorização é uma atitude passível de processo. Está no Artigo 5 Inciso X da Constituição Federal: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando direito à indenização pelo dano material ou moral”. Os agressores argumentam com infantilidade e sarcasmo. Parecem não perceber o peso de suas atitudes na vida dos atingidos. “Não entendo porque estão irritados com a página. Vocês têm vergonha do que se tornaram?”, publicou um perfil falso do Twitter especializado em ridicularizar estudantes da área de humanas.
Denúncia
A diversidade sexual parece ser algo que ofende bastante as pessoas que criaram e que seguem a página. Também existe muito machismo por ali. A quantidade de homens que expressam “tristeza” com o antes e depois de mulheres que segundo eles deixaram de ser atraentes é impressionante. Mulheres que se apresentam ao mundo de forma diferente da que os homens que se sentem no direito de ditar regras sobre as suas aparências são tratadas como objeto através de comentários como “ainda da pra comer”. Uma estudante negra foi chamada de “diabo” e de “burra” pela forma como decidiu usar seu cabelo.
Uma campanha foi realizada por internautas para derrubar a página no Facebook dos agressores, que em seguida migraram para o Twitter. O DmRevista conversou por telefone com um estudante que foi vítima de ameaças dos próprios criadores da página. Ao ver fotos de amigos expostas nesse crime que é visto como brincadeira por mais de cinco mil pessoas, ele procurou alertar os donos que a atitude deles é passível de punição jurídica, e que as vítimas já estariam se organizando para cobrar posicionamento tanto da Universidade quanto da Justiça. A partir dessa defesa, ele passou a ser bombardeado com ofensas e inclusive ameaça de morte.
O estudante, que preferimos não identificar, contou que tenta reunir as vítimas do crime virtual para conseguir o apoio necessário para que não haja impunidade e os agressores sejam identificados. Pessoas transsexuais são alvos constantes de postagens, que no momento ocorrem com bastante frequência, questão de minutos. Os agressores tratam as vítimas como se elas merecessem ser diminuídas e zombadas por se afirmarem através de imagens na internet. Nos comentários dos fãs dessa aula de ignorância é possível percebem que a simples existência de pessoas trans incomoda bastante gente. Gays, lésbicas, tatuados, e adeptos a partidos de esquerda e negros também são alvos frequentes.
Os agressores ofendem as vítimas e suas famílias ditando regras, chamando pessoas de lixo e de poluição visual, como se o abuso e a falta de respeito que eles chamam de “integridade moral” lhes desse o direito de escolher aquilo que deve ou não existir no mundo. Tecem comentários abusivos sobre as cores, os cabelos, as roupas e até mesmo atitudes artísticas ou profissionais. Para eles, tudo tem que ser padronizado. A diversidade, na mente desses agressores, não deve existir e é vista como um efeito colateral da educação recebida pelos estudantes agredidos. Em momento algum eles se colocam no lugar das vítimas expostas, por que para eles, quem se veste assim ou assado vale menos.
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