Déficit de professores na rede pública chega a 9 mil
Diário da Manhã
Publicado em 15 de maio de 2018 às 03:15 | Atualizado há 4 semanasApós publicação do extrato de declaração de dispensa de licitações n°03/2018 no Diário Oficial de Goiás em 26 de fevereiro deste ano, a Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás (Segplan) contratou o Instituto Quadrix para realizar concurso público que deve contemplar professores de Matemática, Química, Física e Biologia a atuarem no Ensino Fundamental e Médio. O pleito pode abrir vagas para 900 profissionais, mas o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego) estima que o déficit de educadores na rede pública de ensino seja de pelo menos 9 mil, o que representaria apenas 10% da demanda e, portanto, o edital não seria suficiente para suprir a necessidade do momento e tampouco empossar professores com formação específica.
No momento, o número necessário para cobrir o déficit de educadores é dez vezes maior do que anunciado em fevereiro pelo governo estadual no edital do concurso público. A última vez que houve pleito à área de educação foi durante a gestão de Alcides Rodrigues (PP), em 2010, antecessor de Marconi Perillo no Palácio das Esmeraldas. De lá para cá, a Universidade Federal de Goiás (UFG) mostrou que pelo 60% dos professores não têm formação nas disciplinas que lecionam. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC), Goiás ocupa a 18° posição no ranking dos Estados brasileiros que possuem a maior quantidade de docentes sem cursos de licenciatura.
O doutor em História e professor de estágio da UFG, Rafael Saddi, explicou que a situação da educação pública no Estado é complicada. De acordo com ele, a Seduce certamente possui o quantitativo acerca do déficit exato de professores, mas a pasta ainda não os divulgou. “Grande parte dos professores assume turmas que não tem nada a ver com sua formação”, diz. Para o historiador, tornou-se comum ver licenciados em história ministrando aulas de sociologia, arte e filosofia. “Além disso, não há concurso desde 1998 para funcionários administrativos na área de educação”. Ao DM, a Seduce garantiu que um novo pleito irá atender essa necessidade, porém não informou quando as provas devem ocorrer.
Em entrevista concedida à Televisão Brasil Central em fevereiro deste ano, a secretária de educação, Raquel Teixeira, disse que os profissionais selecionados por meio de concurso público iriam ganhar salário base de R$ 3.126,34. Na primeira fase do processo de seleção, de acordo com Teixeira, 1.416 profissionais podem ser convocados, todavia apenas mil serão selecionados inicialmente para assumir as salas de aula. Segundo declaração da titular da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) em janeiro, boa parte dos professores deveriam estar empossados até o mês de abril, o que não se concretizou. Para Teixeira, problemas burocráticos foram os responsáveis por provocar o adiamento do certamente.
Ligado ao Centro Acadêmico de Letras da UFG, o estudante universitário José Pedro Moraes de Araújo, 22, reconhece que o ofício de professor é difícil. Para ele, a carga horária é “extenuante” e não é raro ver profissionais que “precisam abdicar de sua vida para conseguir cumprir seu compromisso” com a sociedade. “Como eu acredito em uma educação pública realmente libertadora, vejo que a forma com que ela vem sendo imposta não é a mais ideal, porque a gente ouve falar mais em crise do que qualquer outra coisa”, afirma o futuro professor. “Ao invés de se investir mais em um elemento de extrema importância para a sociedade, o governo vem enxugando verbas à educação”.
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
Durante o período em que Goiás ficou sem realizar concurso público para professor, ventilou-se a ideia de que a educação pública do Estado seria entregue às organizações sociais (OS). Como reação a possível privatização do ensino público, estudantes protestaram contra aquilo que consideravam um desmonte e ocuparam escolas públicas. A Seduce acreditava que os gastos com educação iriam diminuir caso a terceirização fosse colocada em prática. Um edital de chamamento das OS previa desembolso mínimo de R$ 250 e máximo de R$ 350. No modelo estatal, segundo a pasta, as despesas eram de R$ 388,90.
Em janeiro de 2016, foi publicado no Diário Oficial do Estado o primeiro edital de chamamento para as OS. Na época, o objetivo da Seduce era chegar à marca de 200 escolas administradas por organizações sociais até o final do ano, o que não se concretizou, mas foi suficiente para provocar revolta no movimento secundarista e em professores insatisfeitos com a medida. Segundo a Casa Civil de Goiás na ocasião, sete entidade foram consideradas aptas para participar do processo, dentre elas a Associação Educacional Olimpo e o Instituto de Educação, Cultura e Meio Ambiente. No entanto, nenhuma das duas empresas que concorreram tinham sede própria em Goiânia.
De acordo com a proposta do governo do Estado, as organizações sociais, que são entidades privadas sem fins lucrativos, iriam cuidar da administração, infraestrutura das escolas e ficariam responsáveis pela contratação de professores e funcionários administrativos. No ano passado, porém, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) moveu uma ação junto ao Tribunal de Contas de Goiás contra a Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) onde pedia por meio de liminar a suspensão do chamamento público que determinava a transferência da gestão das escolas públicas às Organizações Sociais (OS) na região do entorno do Distrito Federal.
Como eu acredito em uma educação pública libertadora, vejo que a forma com que ela vem sendo imposta não é a mais ideal, porque a gente ouve falar sempre em crise” José Pedro Moraes de Araújo, estudante de Letras Grande parte dos professores assume turmas e ministra conteúdos que não têm nada a ver com suas formações”
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