Doenças do mofo
Diário da Manhã
Publicado em 11 de novembro de 2016 às 01:54 | Atualizado há 2 semanasEm apartamentos, escritórios e principalmente nas casas, o clima quente e úmido dessa época do ano se torna ideal para a proliferação de fungos que causam o mofo: um vilão que não prejudica somente as paredes, mas também a saúde dos seres humanos.
Por isso, especialistas alertam sobre a importância da escolha da casa onde se pretende morar ou, ao construir, planejar com cuidado as construções. O mesmo se repete quando o assunto é o local de trabalho. A pneumologista Tatiana Veloso alerta que as consequências diretas para quem passa muitas horas em ambientes com cheiro de mofo são: pouca ventilação, o desencadeamento de alergias e infecções respiratórias.
Ela explica que com o aparecimento da umidade, os fungos começam a se reproduzir e através do ar se espalham pelo ambiente facilitando as contaminações. “O perigo está no fato de você desencadear alergias, asmas, sinusite, dermatite. O mofo é desencadeante para exacerbar uma crise asmática e nesse caso a indicação é reduzir todo tipo de infiltração na casa”, esclarece.
A especialista acrescenta que a má ventilação das casas é um grande problema, tendo em vista que contribui para a acumulação de umidade e, consequentemente, de mofo. A inalação, descreve ela, piora, por exemplo, “a rinossinusite alérgica”. Por isso, ela afirma ser crucial que os ambientes da casa tenham ventilação adequada.
Ainda sobre a luminosidade e ventilação dos ambientes ela acresce que um erro frequente ocorre quando, na tentativa de evitar mofo, as pessoas fecham portas e janelas. Essa ação, na verdade, aumenta a proliferação de fungos e ácaros, o que ajuda a piorar os quadros virais. “Os ácaros podem desencadear doenças, por isso as roupas têm que ser passadas, para evitar o contato com ele. Além de ser essencial o cuidado com o dia a dia da habitação”, completa.
O mofo e as doenças psicológicas
De acordo com o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, frequentemente quando se fala em ambiente mal ventilado e mal iluminado as pessoas só pensam nas alergias, mas existem ainda as doenças psicológicas. Ele revela que ambientes insalubres afetam não só a saúde física, mas também a emocional.
“A pessoa que mora ou trabalha em um ambiente escuro, sem iluminação e ventilação se entristece e pode inclusive se tornar depressiva. Isso pode gerar problemas psicológicos e baixa produtividade. Em uma residência, por exemplo, uma criança em seu local de estudo não vai render em seu processo de aprendizagem, então tem esses aspectos psicológicos também” adverte.
Precaução ao construir
Para o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, é possível prevenir o problema dos ambientes sem ventilação, mofados, úmidos e com infiltração com bastante antecipação, ainda na construção da casa. Para isso ele menciona a importância de contratar um arquiteto para a criação de um projeto coerente com a iluminação e ventilação adequada, pensando inclusive no fator emocional.
“Não adianta o arquiteto fazer um projeto coerente e quando for construir não ser feito uma impermeabilização, por exemplo, isso vai gerar mofo. O ambiente pode ser ventilado o tanto que for, mas a parede mofada vai proliferar ácaro e fungos, então para funcionar um bom projeto tem que ter uma boa execução”.
Ele orienta que, caso a pessoa resida na casa, os cuidados com a manutenção do local são o segredo para ter um ambiente saudável. “Chegou o inverno, vai mofar? Para evitar que o mofo apareça, crie o hábito de abrir as janelas durante o dia. Caso seja inevitável, surgiu o mofo e ele já esteja dominado a parede, é necessário lixar e pintar”.
Crises de asma aumentam
A asma é uma das doenças crônicas mais comuns em todo o mundo, afetando cerca de 10% da população. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), ocorrem anualmente no Brasil aproximadamente 350 mil internações causadas pela doença, constituindo a quarta maior causa de internação no País e a terceira causa entre crianças e adultos jovens.
Caracterizada por uma inflamação crônica das vias aéreas, a asma causa um estreitamento reversível dessas vias, levando à limitação variável da passagem do ar e atinge indivíduos de todas as faixas etárias. “Aproximadamente um terço de todos os pacientes asmáticos possui pelo menos um familiar com a doença ou outro tipo de alergia”, afirma Jaime Rocha, infectologista e integrante do corpo clínico do Laboratório Atalaia.
Ele observa que é preciso ficar atento, pois, se não for tratada de forma adequada, a asma pode levar à morte. No mundo, estima-se que a doença seja responsável por 250 mil mortes anuais, sendo que no Brasil essa taxa é de aproximadamente duas mil por ano. “Apesar de não ter cura, quando o paciente é acompanhado por um especialista, o controle da doença pode ser alcançado com desaparecimento dos sintomas por meses ou até anos”, comenta o médico.
Para o diagnóstico da doença, o especialista informa que o histórico clínico do paciente deve ser considerado. “Além disso, o médico pode demandar uma série de exames complementares”, reforça. Jaime lembra que uma pessoa com sintomas respiratórios como tosse, cansaço ou falta de ar deve procurar um médico. “Nesta época do ano há um aumento nos índices de crises de asma devido ao frio, poeira, mofo, fumo e por conta das pessoas permanecerem mais tempo em ambientes fechados, aumentando a exposição aos fatores desencadeantes”, conclui.
Proteção contra asma
Fatores desencadeantes da asma mais habituais incluem várias ações:
- Exposição a alérgenos, tais como ácaros domésticos: na roupa de cama, nos tapetes e nos estofados felpudos, bichos de pelúcia, poeira domiciliar.
- Exposição a animais com pelo, baratas, pólen e mofo.
- Exposição a irritantes ocupacionais.
- Exposição à fumaça do tabaco.
- Exposição à poluição aérea.
- Infecções (virais) respiratórias.
- Exercício físico, emoções fortes.
- Irritantes químicos e remédios (tais como aspirina e betabloqueadores).
- Refluxo gastroesofágico.
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