Cotidiano

Educação vem de casa

Diário da Manhã

Publicado em 29 de setembro de 2016 às 02:26 | Atualizado há 8 anos

“Vejo que nos arredores de escolas, de hospitais, etc, os motoristas se acham no direito de parar onde e como quiserem. Às vezes, vejo que param no meio da rua, ligam o pisca-alerta e pronto: já acham que estão blindados e podem fazer o que quiserem só porque ligaram o pisca-alerta”. Essas são as palavras de desabafo da carioca Viviane Neves, 29, publicitária e servidora pública que reside em Goiás há pouco mais de 7 anos. Mesmo acostumada com o trânsito acelerado no Rio de Janeiro, ela admite que nunca entendeu como Goiânia pode ser tão diferente em número de transtornos nas vias públicas.

E não é pra menos, já que a frota de veículos registrados da capital goiana se aproxima da metade registrada pela capital fluminense, que é a segunda maior cidade brasileira. Conforme a mais recente estatística do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), de junho deste ano, o município de Goiânia apresentava 1,1 milhão de veículos. Em uma simples comparação, há aproximadamente um automóvel para cada morador da maior cidade goiana.

Na visão da publicitária Viviane, o grande fluxo de veículos goianiense segue uma lógica desordeira e sem respeito às leis de trânsito, que só é agravada com a falta de preocupação dos motoristas com o próximo, seja pedestre, ciclista ou os próprios veículos. No dia 23 de setembro deste ano (um dia após seu aniversário), ela foi atingida por um motociclista enquanto atravessava uma faixa de pedestre em sua bicicleta, na Avenida 85. O sinal vermelho para os veículos lhe permitia atravessar a faixa com segurança, o que não ocorreu. Além do dano causado, ele não teve sequer a educação de prestar socorro.

Geração em evidência

Tentar evitar que qualquer irresponsabilidade (e acidentes) ocorra ainda é um desafio das autoridades de trânsito. Muitas instituições preocupadas com melhorias e segurança nas vias públicas já projetam seus esforços na educação de crianças. Porém, é essencial que o comportamento adequado venha de casa.

O coach e psicólogo Adriano Henrique Gualberto – perito em trânsito e que atua em clínica especializada de reabilitação de condutores em Goiânia – explica que crianças absorvem estímulos externos, provenientes dos seus ambientes de convívio.

E não há estímulos tão fortes quanto os da família, que é o primeiro modelo observado para determinar os padrões de certo e errado. Conforme os argumentos de Gualberto, o comportamento humano tem obviamente um início para construção da personalidade de qualquer indivíduo. Caso este início seja positivo, a positividade vai por esse caminho. Entretanto, o mesmo também pode ocorrer com o que é negativo.

Gualberto ressalta ainda que quando um adulto demonstra educação correta, a criança tende a seguir o que é correto. “Hoje, sabemos que há muitas influências negativas no trânsito, seja o celular, o horário apertado, a dificuldade de lidar com a ansiedade. E essas coisas têm predominado”.

Para o psicólogo, falta treino para as pessoas serem educadas ao ponto de seguirem as regras, diante de tantas adversidades. “A partir do momento que você sai de casa, você deixa sua individualidade e então precisa seguir a coletividade. O trânsito não é só o seu veículo; ele é uma série de elementos que precisam de integração”, pontua Adriano Gualberto.

Força do exemplo

O exemplo é o maior trunfo repassado pela secretária executiva Kelly do Amaral, 29, para sua filha Isabelle que, com apenas 5 anos, já entende algumas das regras mais básicas dos motoristas e passageiros. “Ela sempre presta atenção em tudo o que eu faço, tanto no sinal ou dentro do carro. Se a avó dela entra no carro, por exemplo, e não coloca o cinto de segurança, a minha filha logo diz: ‘– Vovó, tem que colocar o cinto!’ – Saber que ela já entende isso é gratificante”, conta orgulhosa a mãe educadora.

Para a estudante universitária, Raema Pereira de Castro, 26, a educação nas ruas precisa começar quando um motorista se coloca no lugar dos outros ocupantes da via pública, seja os demais condutores ou mesmo os pedestres.

Mãe do pequeno Francisco, de 6 anos, ela sente que tem em mãos a responsabilidade de colocar em prática o modelo de educação passado por seus pais. Todos os dias, busca seu filho na escola onde estuda, exatamente no horário de maior fluxo de veículos em Goiânia: no fim do expediente comercial. E é nessa hora que a mãe coloca em xeque toda sua paciência como motorista.

Sua principal vantagem é saber que, por estar ao lado do filho, o momento se torna uma etapa adequada para demonstrar que é possível transmitir respeito à próxima geração apenas por meio de bons exemplos. “Quando estou com ele, fico ainda mais comprometida em seguir o que é certo”, conclui Raema.

Alguns projetos, como é o programa Detranzinho, para conscientizar crianças sobre a necessidade de educação de motoristas e pedestres, implantado em 2013 no Estado de Goiás, pode ser fundamental para diminuir os registros de acidentes.

No ano de sua implantação, o Detranzinho já pode ter colaborado com a queda no número de acidentes conforme os índices apontados pelo Detran-GO. Considerando apenas os sete primeiros meses de 2012, foram registrados 23.623 vítimas em acidentes, apenas em Goiânia. Em 2013, o registro foi de 12.421, quase a metade para o mesmo período.

 

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