Eles podem pautar o tema ambiental
Welliton Carlos da Silva
Publicado em 13 de agosto de 2015 às 01:56 | Atualizado há 1 semanaO discurso ecológico é um dos mais emblemáticos da política e da atividade social. Migrou da sociedade civil para o Estado após forte pressão. E chegou a fórceps, quando as primeiras pesquisas de qualidade do ar passaram a ser divulgadas nas sociedades industriais, em meados do século passado.
Após o Brasil reconhecer o direito ambiental como essência da Constituição Federal de 1988, o País passou a tratar o assunto com mais atenção e zelo.
Na década de 1990, o país realizou a Eco 92 e de repente tudo que era ambiental se transformou em modismo e também compromisso público. Qualidade do ar, devastação das florestas, poluição, tudo, enfim, estava em pauta.
Nas faculdades de Direito, o tema se desmembrou do Direito Administrativo e tornou-se assunto de proa, como Direito Ambiental. Nas faculdades de Jornalismo, surgiu a especialidade Jornalismo Ambiental, antes um ramo a mais do Jornalismo Científico. E aos poucos as gestões passaram a tratar do meio ambiente com diferenciação.
Espremidos pelo ativismo, gestores públicos se adequaram às mudanças sociais sem aceitar plenamente o discurso catastrófico. Passado este tempo de embates, o assunto se socializou a ponto de se transformar em assunto de games, novelas, produções cinematográficas.
A abertura do Festival Internacional de Cinema Internacional (Fica), em Goiás, serviu para evidenciar que é possível tratar do meio ambiente em várias formas de ação – a começar da cultura.
Na ocasião, o vice-governador José Eliton, responsável pela abertura do tradicional festival goiano, tratou do tema como compromisso de presente e futuro: “O Fica tem reconhecimento nacional e internacional ao propor uma discussão sobre os caminhos que devemos seguir para assegurar um futuro mais sustentável para o nosso planeta”.
Segundo o vice-governador de Goiás e secretário de Desenvolvimento Econômico (SED), é preciso que a moderna forma de gerir tenha atenção redobrada aos mecanismos de proteção ambiental, inclusive à devida aplicação aos princípios do direito ambiental.
Como José Eliton, outros expoentes nacionais têm colocado o assunto de novo na agenda. É o caso do empresário Nélio Fonseca, de Pernambuco; do empresário João Doria Jr., de São Paulo, e de lideranças religiosas de segmentos mais tradicionais.
As novas lideranças tratam meio ambiente na mesma moeda de outros assuntos emblemáticos – como o agronegócio ou desenvolvimento econômico. Mas sabem que sem respeito ao arcabouço protetivo, o sistema econômico desaba.
Em 2014, José Eliton foi convidado a participar de uma reunião em São Paulo que envolveu os segmentos do agronegócio e meio ambiente. Durante a divulgação do prêmio da revista Produz, idealizada por um apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), os temas colocados em pauta diziam respeito ao etanol verde e a busca de consensos e soluções de desenvolvimento sustentável.
ministério
O primeiro ministro do Meio Ambiente brasileiro iniciou a gestão tendo como enfoque efetivar ações sustentáveis para o País. Não deu certo.
Em 1985, o goiano Flávio Peixoto assumia a Pasta com a missão de introduzir o tema ambiental na pauta dos gestores.
Apesar do pioneirismo, a Pasta não teve visibilidade – mas serviu para inspirar gestores novos do País, como o governador Marconi Perillo, em sua primeira administração de Goiás, quando investiu na criação de agência e secretarias ambientais e na instituição do Fica.
Mais de três décadas depois, o cenário administrativo brasileiro cobra o retorno da política ao tema ambiental. Durante a campanha de 2014, Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente na primeira gestão do ex-presidente Lula, não conseguiu emplacar o tema nos grandes debates.
Em São Paulo, Fernando Haddad enfrenta dificuldades culturais de estabelecer em São Paulo uma gestão que atenda as novas demandas ambientais – caso da implantação dos pacotes de mobilidade.
Desafios para breve
Articular a produção com a defesa ecológica será o grande diferencial dos próximos anos. Empresários e políticos contrários ao discurso ambiental, firmados em solo fértil apenas do agronegócio, e dos agrotóxicos, não representam mais a sociedade civil cada vez mais preocupada com a qualidade de vida.
Por isso em Recife a diferença começou no próprio setor empresarial. O pesquisador Nélio Fonseca ganhou o Prêmio Vasconcelos Sobrinho, conferido pela Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH) por atuar como uma formiguinha e plantar árvores. “Planto desde criança, por influência dos meus pais. Mas a primeira atividade coletiva foi no colégio, quando eu tinha 16 anos. Mobilizei um grupo de representantes de sala e plantamos árvores lá mesmo”, diz Nélio.
Apelidado de “menino do dedo verde”, o jovem tem como missão espalhar árvores. Já distribuiu 20 mil árvores da Mata Atlântica.
Como Nélio, João Doria Jr. tem usado sua influência no setor empresarial para conseguir mudar mentalidades. Ele tem utilizado a Lide, entidade que reúne lideranças empresariais, para tratar de assuntos como sustentabilidade e gestão ambiental – caso das entidades que defendem, por exemplo, a Mata Atlântica.
Doria tem realizado ações e um fórum ambiental em diversos espaços e cidades.
Ele propõe novos enfoques para a universalização do acesso à energia limpa, formulação de programa de governança dos oceanos com a recuperação dos ecossistemas marinhos, reconhecimento de que a atmosfera é um bem comum e que a contaminação por gases do efeito estufa e outros poluentes precisa ser eliminada de forma gradual e um tema urgente: a regulamentação e cumprimento do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, enfocando na geração de empregos por meio da valorização da cadeia de reciclagem, entre outros assuntos.
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