Faltam vagas em leitos de UTIs
Diário da Manhã
Publicado em 8 de julho de 2016 às 03:01 | Atualizado há 9 anosObras inacabadas de hospitais públicos complicam situação no Estado
A falta de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais que atendem o Sistema Único de Saúde (SUS) parece estar longe de ser resolvida. Isso porque o número de leitos para internação ainda está em falta. Atualmente, Goiânia possui 450 leitos de UTI reservadas aos pacientes para tratamento pela rede pública de saúde. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS), o número é suficiente para atender a população da Capital, porém, o município atende também outras cidades do interior goiano. Com isso, a superlotação e, consequentemente, a falta de novas vagas se deve à grande demanda de pacientes do Estado que vem tratar na cidade.
A demora no atendimento por falta de UTIs é grande e gera superlotação em Centros de Assistência Integral à Saúde (Cais), Centros Integrados de Assistência Médica Sanitária (Ciams), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Unidade Básica de Saúde (UBS). Cerca de 20 pacientes, sob o risco eminente de morte e complicações sérias, aguardam uma vaga em UTI para que possam dar continuidade ao tratamento intensivo na rede pública de saúde na Capital.
Estado
Em Goiás, a falta de vagas em UTIs tornou-se um problema já que o aumento na demanda por unidades de terapia não vem sendo suprida ao longo dos anos. Em Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal, obras de um hospital estão paradas há 15 anos por causa de uma questão judicial. A unidade deveria atender seis cidades goianas se estivesse em funcionamento.
Também no Entorno de Brasília, as obras do Hospital Geral de Águas Lindas de Goiás estão 60% concluídas e a estimativa é que a unidade atenda 250 mil pessoas a partir de 2017. Ao todo, serão 134 leitos, sendo 10 para UTI adulto, 10 de UTI pediátrica e 10 para UTI neonatal. As obras do hospital ficaram paralisadas por cinco anos, quando pertenciam à Prefeitura de Águas Lindas. O governo estadual assumiu sua responsabilidade em 2013, quando retomou de imediato as obras.Segundo pesquisa, as condições ruins do sistema de saúde são uma das principais causas do afastamento de médicos do setor público
Em algumas regiões do Estado, o difícil acesso aos hospitais que oferecem esse tipo de serviço também complica o atendimento a quem possui casos de urgência. Existem cidades do interior que sequer possuem hospitais com UTIs. Desta forma, pacientes de outras localidades acabam vindo em busca de tratamento em Goiânia, provocando a superlotação em hospitais do município.
Em março deste ano, no Hospital São Marcos, em Itumbiara, no Sul do Estado, a UTI que atendia pelo SUS ficou fechada por uma semana devido à falta de repasse de verba pública. Em um dia de portas fechadas, duas pessoas morreram à espera de leitos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em Goiás seriam necessários 900 leitos em UTIs para suprir toda a demanda. Mas, por outro lado, de acordo com informações da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás (AHEG), são 305 hospitais particulares em Goiás com 381 leitos de UTI no total, sendo 39 neonatal, 5 pediátrico e 327 adulto. O presidente da AHEG, Fernando Honorato, diz que “em Goiânia não faltam vagas de leitos em UTIs na rede particular, apenas nas unidades que atendem pelo SUS”.
Segundo pesquisa, as condições ruins do sistema de saúde são uma das principais causas do afastamento de médicos do setor público
[box title=””]Menos médicos à disposição da população
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP, entitulada Demografia Médica no Brasil 2015, apresenta um dado em relação à inserção dos 432 mil médicos registrados no País: 21,6% destes profissionais trabalham no setor público e 26,9% só atuam no setor particular. Os demais, 51,5%, atuam nas duas esferas.
A pesquisa mostra que, depois dos hospitais, os médicos do setor público ocupam com mais frequência os serviços de atenção primária em saúde (23,5%), que inclui unidades básicas (UBS) e Programa de Saúde da Família (PSF), seguidos dos serviços de atenção secundária e especializada (4,8%), que são os ambulatórios de especialidades, Assistência Médica Ambulatorial (AMA), Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro de Referência de Aids, Hemocentro, Saúde do Trabalhador, etc.
De acordo com Mário Scheffer, professor da FMUSP e coordenador da pesquisa, essa ausência de médicos na atenção secundária (4,8%) do setor público acarreta um grande problema para o SUS: a longa espera para consultas e exames de especialidades médicas, para cirurgias eletivas (aquelas que se pode agendar a data para a realização do procedimento cirúrgico).
Segundo a pesquisa, 58,2% dos médicos do País optam por atuar no setor público. Os outros 41,8% disseram preferir a esfera privada. A estrutura do sistema de saúde é uma das principais causas do afastamento do médico do setor público, já que o sistema público estaria subfinanciado e sem investimento em ampliação da rede pública. Contudo, o professor Scheffer explica que os dados da amostra não podem ser utilizados para analisar o funcionamento do programa Mais Médicos, no qual entre suas ações está a contratação de médicos para a Atenção Primária de regiões onde há dificuldade de permanência ou ausência de médicos.
SUS
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais do Senado na quarta-feira (5), negou a intenção de diminuir o tamanho do SUS e reafirmou compromisso de aperfeiçoar o controle dos gastos e melhorar o atendimento médico e hospitalar público. Uma série de problemas na saúde pública, como as crises nas Santas Casas e as filas para transplantes de órgãos, foi apontada pelos senadores..[/box]
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