Cotidiano

Família sobre duas rodas

Diário da Manhã

Publicado em 14 de outubro de 2015 às 02:48 | Atualizado há 3 dias

 

Motociclistas de todo o país estão no parque de Exposições Agropecuárias de Goiânia desde quinta-feira (24). A primeira edição do Goiânia Ciclo Festival reúne centenas de pessoas que tem o motociclismo como estilo de vida. São mais de 200 motoclubes espalhados em acampamentos e quiosques. Tatuagens, jaquetas de couro e motos exóticas desfilam pelo evento, que se transformou em uma pequena cidade do motociclismo.

Com o tripé “família, trabalho e irmandade”, o motoclube Abutres tem mais de 4 mil sócios no Brasil e em outros países. “A família é o nosso suporte e o clube é nossa diversão, nossa ideologia”, explica o policial aposentado Dreher, 50 anos, que faz parte do Abutres e prefere se identificar pelo ‘nome de guerra’. “Nosso apelido é nossa identidade”, diz.

Ele e seu amigo Magrão, 48 anos, já viajaram para várias cidades do brasil em suas motos. “Já fui para o Maranhão, Piauí, Bahia. A gente sai sem destino. Tem só data de ida, não de volta”, conta Magrão, que ostenta diversas tatuagens nos braços.

A dupla descreve um sentimento de unidade dos motociclistas, ao ponto de chamar uns aos outros de irmãos. “Aqui tem pessoas de níveis sociais diferentes, mas quando estamos aqui, somos todos iguais”, diz Dreher.

Rivalidades

Dreher garante que não há clima de disputa entre os motoclubes que participam do evento. “Não existe rivalidade no nosso meio, isso aí é folclore”, conta.

Para a pedagoga Camilla Cavalcante, 31 anos, que faz parte do motoclube Erudita, nem todos os grupos tem uma boa relação. “Uns [clubes] são só de solteiros, outros só homens, são mais machistas”, diz. Camilla divide a vida de motociclista com o filho e o marido, que é professor de música.

Ela conta que os grupos rivais tem a prática, em momentos de disputa, de pedir para “baixar a bandeira”, que é quando um motociclista é constrangido a arrancar o brasão de seu motoclube da jaqueta. Caso ele se recuse, pode ser o começo de uma briga física. Cada grupo tem um brasão. O do Abutres é um abutre e o do Erudita é uma coruja.

Camilla Cavalcante, pedagoga, explica que existe clubes só de solteiros, mas há também os de família

Seleção  

Para fazer parte de um motoclube, o ingressante passa por uma ascensão. No caso do Abutres, o aprendiz começa fazendo parte do Raça. Uma espécie de treinamento de motociclista, onde a pessoa aprende aquele estilo de vida e pratica tarefas subalternas, como ser vigilante, lavar motos e o banheiro. Entretanto, cada grupo tem um processo seletivo diferente.

O empresário Tubarão, 37 anos, é diretor do Canis Lupus. Ele explica que no caso do seu clube, a pessoa começa usando apenas uma camiseta e conforme o integrante ganha confiança do resto do grupo, vai poder usar o colete de couro com o brasão da equipe.

“Não é só falar que quer entrar. Para ser motociclista de verdade tem que ser correto, gostar de viajar, ser companheiro e amigo”, explica Tubarão os critérios para ser aceito no grupo.

Viagens

As viagens coletivas, em que vários motociclistas atravessam estados, dependem da sintonia entre os participantes. Na rodovia, motos mais potentes protegem as mais frágeis, sinais corporais indicam onde há buracos e perigos. “A gente viaja de 80 quilômetros por hora para baixo”, diz Tubarão.

“Tem essa ideia de que quem mexe com motociclismo são uns vagabundos, que só vivem disso”, se queixa Camilla Cavalcante. “Ser motociclista é ser amigo de verdade. Se precisar de uma casa, de um prato de arroz, de um dinheiro emprestado”.

Para Camila ser motociclista é ser amigo de verdade

Evento

O Goiânia Ciclo Festival segue até amanhã. Durante a noite, shows de rock são apresentados no palco principal. Quiosques alugados por motoclubes também oferecem shows e atrações independentes. Motos exóticas chamam atenção, como uma réplica do modelo do filme Top Gun.

Hoje às 15 horas, motociclistas sairão em carreata do Parque Agropecuário até o Autódromo de Goiânia. O festival é organizado pelas empresas 4Click e Galpão Produções. A entrada é gratuita para quem estiver motorizado, o público comum paga R$ 10.

]]>

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias