Goiás faz feio nos índices de violência
Redação
Publicado em 6 de junho de 2018 às 01:40 | Atualizado há 2 semanas
O ”Atlas da Violência 2018”, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), trouxe dados estarrecedores sobre a violência em Goiás. Considerado o principal estudo científico quantitativo sobre violência do país, baseado em dados do Ministério da Saúde (DataSus) e que serve de base para as pesquisas das Nações Unidas (ONU), o atlas mostra que as políticas públicas de segurança pública de Goiás e as ações sociais destinadas à redução da violência da última década não surtem efeito ou na pior das hipóteses fracassaram.
Visível nos números, o aumento dos casos é escalar e típico – como o assassinato de um jovem de 19 anos, ontem, dentro do Campus Samambaia, da Universidade Federal de Goiás (UFG), ou a morte da vendedora grávida Denise Ferreira da Silva, assassinada pelo marido na última segunda-feira, 4.
Os dados do atlas são de 2006 a 2016 – ano de fechamento dos homicídios. Logo, a morte do jovem dentro do campus (ver reportagem na página 4) ou da grávida só estarão computados no “Atlas 2020”.
De 2006 até 2016, Goiás teve um aumento de 72,2% na taxa de homicídios. Apesar dos esforços utilizados pelo Estado, de 2011 até 2016 ocorreu um incremento de 21,4%.
Os dados negativos ou positivos do “Atlas 2018” simbolizam as estratégias de enfrentamento da violência e as ações efetivas para contê-las. Estados como São Paulo, Paraíba, Paraná, Distrito Federal e Espírito Santo reduziram a mortalidade. Ou seja, tem como conter a violência através de políticas públicas e ações de inteligência. A questão é como cada Estado gere um dos problemas mais graves da sociedade.
Os dados revelam uma curva ascendente em Goiás: exatamente a partir de 2011 ocorre um grande salto de mortes violentas. Goiás salta de 26,3 mortes por 100 mil habitantes em 2006 para 37,4. Em 2016, Goiás apresentou uma taxa de 45,3 mortes pela escala de 100 mil. Não é a primeira vez que Goiás aponta dados negativos. Desde 1999/2000 as taxas têm aumentado assustadoramente, conforme outro estudo, o “Mapa da Violência”, do Instituto Sangari, tem demonstrado em sua série histórica que inicia ainda na década de 1970.
As gestões do Estado durante estes anos até agora deixaram um rastro de sangue pelas ruas de Goiás em diversos segmentos: jovens, jovens negros, mulheres, dentre outros delimitações.
Principal gestor de Goiás durante os anos com maiores índices de violência, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) respondeu a escalada com a criação do Serviço de Interesse Militar Voluntário Especial (Simve) logo em seu terceiro mandato. Mas a polícia inédita criada apenas em Goiás foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Diante da falta da falta de policiamento suficiente, o Governo de Goiás anunciou no ano que marca a pesquisa do “Atlas da Violência 2018” mudanças orçamentárias para atender com urgência a epidemia de homicídios.
O Governo de Goiás, segundo Marconi Perillo (PSDB), teria investido, sozinho, cerca de R$ 3 bilhões por ano no setor de Segurança Pública. O valor representaria 12,5% do orçamento estadual.
O atual governador, José Eliton (PSDB), chegou a assumir a Secretaria de Segurança Pública durante grave período de crise do setor, cujos números aparecem no Atlas 2018. Não adiantou muito. Ele próprio foi vítima de violência, ao ser atingido em um atentado ocorrido em Itumbiara, em que morreu o prefeito de Itumbiara, José Gomes.
O ano do atentado: 2016, que entra justamente na estatística do “Atlas 2018”. Diga-se de passagem, entram nas estatísticas divulgadas agora, além do prefeito José Gomes, o autor Gilberto Ferreira do Amaral e o policial militar Vanilson Pereira, que atuava no momento do atentado.
O “Atlas 2018” demonstra que existe um acumulo de violência em Goiás, cujas motivações variam por diversos pretextos. Estudos sobre violência da UFG apontam, dentre os motivos, a questão da desigualdade social, o acumulo de pessoas nos centros urbanos (caso da região do Entorno do Distrito Federal), a violência policial, a disputa entre gangues, a ampliação do tráfico de drogas, violência contra jornalistas, o machismo e a misoginia contra a mulher, a falta de solidariedade nas comunidades, dentre várias outras motivações.
O “Atlas” diz que em 2016 ocorreu um recorde de assassinatos no Estado: 3036 pessoas foram mortas em Goiás. É possível perceber que os dados são aviltantes com o passar dos anos: 2006 (1509), 2007 (1521), 2008 (1792), 2009 (1902), 2010 (1979), 2011 (2272), 2012 (2793), 2013 (2975), 2014 (2887), 2015 (2997) e 2016 (3036).
DESTAQUE NACIONAL
Neste período, enquanto o Brasil teve uma variação de 25,8%, Goiás registrou a surpreendente taxa de 101,2%. Os homicídios se acumulam em diversos segmentos, caso dos jovens. Goiás é o oitavo estado no país em termos de assassinatos da juventude – taxa de 96,4%.
Trata-se de um Estado mais perigoso do que São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Tocantins, etc. Apenas Estados do Norte e Nordeste aparecem na frente de Goiás, o líder absoluto em todas espécies de violência dentre os estados do Centro-Oeste.
A taxa de homicídios de jovens homens por grupo de 100 mil chega a ser absurda para um estado em clima de “paz”. Goiás registra 177, 2 por 100 mil pessoas – número maior do que qualquer zona em guerra no mundo. Nos últimos dez anos, a morte de mulheres cresceu 66,4%. Uma conquista: em relação a 2015 para 2016 ocorreu uma queda de -6,7%.
No acumulado da década, todavia, o dado é uma alerta para a mulher goiana: enquanto no Brasil a média de variação é de 6,4%, em Goiás ela chega a 45,4%.
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