Cotidiano

Impulso para a memória

Diário da Manhã

Publicado em 14 de dezembro de 2016 às 01:18 | Atualizado há 8 anos

Uma boa notícia para os esquecidos – principalmente para os que gostam de falar que “deu um branco na prova”. A comunidade científica está a um passo de desvendar como fazer com que relembremos coisas esquecidas.

Uma pesquisa realizada pelas universidades de Notre Dame e Wisconsin (EUA) indica que um impulso magnético pode ajudar a recordar lembranças antes dadas como perdidas.

A pesquisa trabalha com a memória de curta duração. Ou seja, aquela que não foi sedimentada por grande esforço, como repetição e interesse exacerbado da pessoa. A memória de curta duração não é o nome de seus parentes ou familiares, mas aquela informação que você acabou de aprender, a matéria recentemente estudada, o número de telefone que você fez questão de guardar de ‘memória’ de um amigo e o resultado de um jogo de futebol não muito ‘memorável’.

A pesquisa foi divulgada pela revista Science, que relatou os procedimentos básicos do estudo: as pessoas investigadas foram convidadas a recordarem de rostos, movimentos de orientação e palavras. Em seguida, os pesquisadores avaliaram as atividades cerebrais através de uma ressonância magnética e conseguiram checar onde ocorriam as ações físico-químicas no órgão.

A lembrança foi então resgatada com uma técnica de estimulação magnética transcraniana que fez os participantes se lembrarem das palavras e rostos que eles julgavam ter esquecido quando perguntados.

O estudo funciona assim: um pulso de corrente elétrica chega ao cérebro de forma não invasiva (sem machucar o paciente) e desperta as lembranças antes não recordadas. Em tese, ocorreria uma reativação dos neurônios. Ao serem perguntadas sobre os rostos, que antes não eram recordados, as pessoas que participaram do experimento voltaram a se recordar.

Para os estudiosos, a afirmação de que células cerebrais só ativam a memória se estiverem em constante atividade (prática reiterada) não é mais uma regra. No caso da memória de curto prazo, portanto, a lembrança pode vir à tona sem necessariamente se converter em memória de longa duração.

Os pesquisadores não sabem ainda ao certo como ocorrem as atividades cerebrais e para onde vão as lembranças perdidas. Na memória de longa duração sabe-se que elas ficam no hipocampo. Mas e na memória de curta duração? Depois de passarem pelo córtex, elas deveriam ser armazenadas em algum lugar, já que são recuperadas.

Não se sabe ainda que espécies de informações podem ser novamente acessadas. Afinal, diariamente inúmeras mensagens e informações são tratadas pela memória de curta duração e na teoria corrente são ‘jogadas fora’. A questão é: será possível lembrarmos a cor da camisa que usamos quando tínhamos três anos de idade em uma festa de aniversário?

Memória de curto prazo

A memória pesquisada pelas universidades Notre Dame e Wisconsin (EUA) trata do curto prazo, que depende do sistema límbico e processos de retenção e consolidação de informações novas.

Pesquisadores acreditam que a consolidação temporária da informação está relacionada com estruturas como o hipocampo, amígdala, giro para-hipocampal e córtex entorrinal.

Após certo tempo, as informações são enviadas para áreas de associação (neocórtex parietal e temporal). Segundo a pesquisa publicada na Science, a memória de longo prazo pode durar dias, meses e anos – quando apresenta lembranças de longuíssimos prazos. A pesquisa divulgada nesta semana não trata desta espécie, mas ajuda a entendê-la.

 

Substâncias do esquecimento

Outras pesquisas relacionadas com a memória indicam que algumas substâncias são produzidas no processo de lembrança/esquecimento.

Estudos em ratos sugerem que a ativação do sistema se dá por meio de substâncias neuro-hormonais, cujo melhor exemplo seria a ß-endorfina.

Ela surge quando ocorre o esquecimento e teria como função filtrar o cérebro de informações indesejadas ou que não sejam essenciais. Existem estudos que indicam que morfinas, encefalinas, ACTH e adrenalina  podem ajudar a produzir ß-endorfina, o que produziria esquecimento. Uma forte teoria é de que o estresse produz amnésia e esquecimento. Nestes casos, cientistas conseguiram ‘flagrar’ altas doses de ß-endorfina no corpo dos estressados.

Os pesquisadores indicam que apenas uma situação salva os pensamentos e lembranças da ação da ß-endorfina: a informação ser bastante importante para a pessoa ou repetida à exaustão.

Se existe este grau de atenção e esforço ocorreria, indica a pesquisa publicada na “Science”, a liberação apenas moderada de ACTH, noradrenalina, dopamina e acetilcolina – substância essencial para consolidar a lembrança.

O problema é que se tentar induzir a produção de algumas destas substâncias, como acetilcolina, ocorreria o efeito contrário, com o que chamam de “bloqueio dos canais iônicos”.

Os cientistas estudam ainda os efeitos da gaba (ácido gama-aminobutírico) na memorização. Existe um grupo de estudos que indica que drogas responsáveis pela liberação de gaba interferem na memorização das pessoas. Pela corrente majoritária de pesquisas, antagonistas desta substância teriam o poder de melhorar a memória.  Já os agonistas – substâncias produtoras da ação do gaba – teriam efeitos contrários.

Em algumas situações, tranquilizantes podem facilitar a ação do gaba e com isto prejudicar a memória. Para se ter ideia, existem vários relatos de esquecimento após uso de diazepam (benzodiazepinas, um dos mais populares tranquilizantes).

As pesquisas das universidades de Notre Dame e Wisconsin (EUA) precisam explicar várias questões, como a possibilidade dos impulsos magnéticos recordarem todas as lembranças ou apenas algumas. E mais: como tornar natural esta recuperação.

 

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