Instituição filantrópica pode ser fechada por decisão do Governo de Goiás
Diário da Manhã
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 03:12 | Atualizado há 4 semanasO Governo de Goiás decidiu desocupar a ONG Centro de Cidadania Negra de Goiás (Ceneg) para abrigar um presídio semiaberto no local. A ação vai desarticular completamente um movimento que atua junto ao Centro de Referência da Juventude (CRJ) e que desempenha papel fundamental na produção de cultura no Estado.
A desocupação da instituição dará espaço a um presídio na comunidade do Setor Morais, região Leste de Goiânia. E para impedir a ação do governo moradores em conjunto com presidentes de bairros juntamente com lideranças religiosas e empresários em parceria ao CRJ Goiás convidam a todos para participarem nesta quarta feira (5), às 19h, da Audiência Pública que acontecerá no Ceneg/CRJ a fim de tentar mudar a decisão da Secretaria de Planejamento e Gestão (Segplan).
O CRJ, juntamente com o Centro de Cidadania Negra de Goiás (Ceneg), é uma instituição filantrópica que oferece mais de 30 atividades a serviço da comunidade atendendo mais de 100 mil famílias. A Ceneg/ CRJ atua na comunidade há mais de 8 anos, quando ocupou um espaço que era o antigo Hotel Tucano, para dar vida e tirar das ruas jovens em situação de vulnerabilidade social.
O fato está mobilizando toda população da região Leste de Goiânia, que está assustada com a notícia de desocupação de uma entidade que promove o bem social, arte e cultura na comunidade para colocar em seu lugar um presídio. O presidente da instituição, Aluisio Arruda, 45, inconformado com a situação, fala a sua opinião sobre a notificação recebida na ONG no último dia 27 de agosto para a desocupação do prédio dentro de 30 dias:“A população está em pânico aqui na região, e nós também, estamos incrédulos com essa decisão do governo do Estado, por isso, vamos mobilizar as pessoas para que eles revoguem essa decisão. Como podem fechar uma instituição filantrópica que realiza ações sociais há oito anos? Estamos inconformados”, diz. Segundo o presidente da ONG CRJ Goiás, na audiência que vai ocorrer na instituição estarão juntando assinaturas de um abaixo assinado que será entregue ao Governo de Goiás, mostrando a insatisfação dos moradores e dos cooperadores da instituição.
O rapper Fábio Henrique (vulgo Lp Bronks), 38, conta que no início de sua carreira como cantor de Hip Hop chegou a dar aulas a convite do presidente da ONG, Aluisio Arruda (vulgo Black), e que em parte do caminho se perdeu nas drogas, mas graças à instituição hoje é um homem realizado e com família: “ eu e meu irmão Charles, fomos acolhidos pelo Black, pois estávamos em uma época difícil e tivemos a oportunidade de dar aulas de rimas para as crianças da favela! Mas, infelizmente, houve um momento em que me perdi no mundo das drogas, e o CRJ me resgatou e hoje sou totalmente reabilitado. E ele ainda conta que agora faz parte integral da comunidade que se tornou a ONG. “Agora com minha esposa, estamos integrando a Equipe Multidisciplinar, voluntariamente, desta causa tão importante e necessária para o povo desfavorecido e excluído da nossa cidade! Sou grato a esse magnífico projeto, onde hoje posso retribuir a todos menos favorecidos com o meu conhecimento que adquiri através do hip hop”, acrescenta.
Em nota ao Diário da Manhã, a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan) informou que na manhã da última segunda-feira (3), o secretário de Gestão e Planejamento, Joaquim Mesquita, recebeu os representantes do grupo Ceneg/CRJ: Elmo Rocha, Aluísio Black e José Geraldo, além do deputado Tales Barreto e a representante do deputado Marcos Abrão; Nathália Sales, para discutirem sobre a desocupação da Entidade Filantrópica Ceneg/CRJ do local. Em reunião, o secretário afirmou “que vai assegurar a permanência da entidade no local, e da desistência da construção do presídio”. Como notificado em documento no dia 27 do mês de agosto à Ceneg. E nesta ocasião teria estabelecido que a Superintendência de Patrimônio tome as providências necessáriasimediatamente. Porém, não foi entregue até a data de ontem nenhum documento aos representantesdaONGqueindiquequeoespaço tenha sido cedido à instituição para que ela se torne permanente no local.
A jornalista Kariny Bianca, 24, conta que há vários profissionais envolvidos na ONG e a indignação de cada um com essa notificação do governo. “Alunos, professores, psicólogos, museólogos, advogados, jornalistas, assistentes sociais, grupos culturais, comunidades tradicionais, empresas locais e cooperadores das ações, todos os envolvidos estão perplexos com a intimação recebida, sem qualquer explicação por parte do Governo de Goiás”, expõe.
No local as pessoas encontram serviços gratuitos como: Atendimento Jurídico, Psicanálise e Assistência Social, entre outros. Com a intenção de resgatar jovens das ruas em situações vulneráveis como drogas e falta de educação cultural, e oferecer qualidade de vida, oportunidade de estudos, e auxílio na educação desses jovens e adolescentes.
A ONG atende hoje famílias com faixa etária entre 06 a 80 anos. As pessoas procuram o local em busca de diversas atividades como: várias modalidades de cursos, recolocação no mercado de trabalho, grupos de estudos para vestibular, e participação em festivais de música e dança que o CRJ promove anualmente, para além dos trabalhos realizados na instituição.
A psicóloga do Grupo, Luciana Penna, 44, diz que “a população da Região Leste de Goiânia encontra no CRJ um espaço de acolhimento para as necessidades psicossociais e tratamento terapêutico para um grande problema da nossa sociedade, a dependência química”. E ela acrescenta a importância desse trabalho para a comunidade local, pois, trata-se de um setor carente: “Como psicanalista, realizo atendimentos individuais com a participação da família, em uma região de extrema vulnerabilidade social. A saída da nossa Equipe Multidisciplinar, deixará um vácuo irreparável na comunidade local!”, justifica.
COMUNIDADE CARENTE
É fato que toda comunidade carente precisa, antes de ter um presídio, qualidade de vida, oportunidades tanto de estudos como de trabalho, para que os danos causados pelo capitalismo na sociedade carente sejam ao menos reparados com auxílio básico que garante moradia, educação e segurança pública. Estes que são por lei deveres do governo. Uma ONG funciona com o propósito de devolver antes de mais nada, esperança para essas famílias, e um presídio além de fomentar violência no bairro, irá ocasionar a destruição de mais uma casa que atende de braços abertos àqueles desamparados pelo próprio governo. E a advogada Ana Flávia, 42, da Ceneg/CRJ, expõe claramente a sua opinião sobre essa situação. “Desocupar o prédio para a construção de um presídio é um erro, porque você deixa de fazer a prevenção; que é trabalhar esses jovens para que eles sejam encaminhados para o mercado de trabalho”. Ela também relata da falha do Sistema Prisional de Goiás. “Ampare um sistema que precisa de muito mais apoio e estrutura que é o sistema prisional, do que simplesmente a transferências desses presos para diminuir o contingente dentro do complexo”.
O CRJ faz o bem para a comunidade local, levando alegria, lazer, e capacitação desde crianças até idosos. Fechar a ONG implicaria em desativar não só uma instituição que agrega bens, porque este não é o caso do CRJ) mas sim ao desserviço a uma comunidade que é tão carente de atendimento de saúde pública, de prestações básicas como habitação, lazer, e educação, e principalmente segurança pública. A advogada da organização expõe sua opinião: “Então ao invés do governo desativar a ONG que precisa de um espaço que seja “cedido”, porque nós não temos verbas para alugar um espaço, ou para comprar, ele deveria fazer programas em conjunto com essas ONGs, não somente com a nossa, mas com outras também”, expõe.
Hoje a ONG Ceneg/CRJ realiza ações em todo Estado de Goiás e sobrevive de doações tanto de trabalho, como de assistência para mantimentos internos para que possam continuar de portas abertas atendendo à população, “levando o bem sem olhar a quem”, e prestando serviços gratuitamente. A instituição recebe doações de segunda à sexta das 8h às 18h. Se você também quer fazer parte dessa organização basta ir até o local e se informar sobre os serviços prestados e quais as formas de ajuda que a casa precisa.
SERVIÇO
O que: Audiência Pública
Onde: Centro de Cidadania Negra de Goiás (Ceneg) e Centro de Referência da Juventude de Goiás (CRJ)
Endereço: Avenida Independência, Quadra 23, Lote 9/E, Nº 41–Setor Morais, Goiânia–GO, CEP:74620-040.
Dia: quarta feira, 05, às 19h
O que acontece no Ceneg/CRJ
A atividades acontecem no CRJ de segunda à sexta das 8h às 18h: atendimento jurídico, psicanálise e assistência Social, ponto de cultura hip hop, oficinas culturais para crianças e adolescentes, biblioteca comunitária, palestras de prevenção às drogas e debates com temas relacionados aos direitos humanos, FeirArte–Feira de Arte e Cidadania, encontros de comunidades tradicionais e atividades socioculturais.
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