Interditada, Marginal continua insegura
Diário da Manhã
Publicado em 1 de março de 2018 às 00:41 | Atualizado há 1 semanaCom trechos interditados há 8 dias, a situação da Marginal Botafogo segue causando transtornos no trânsito da capital. De acordo com Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra), 15 pontos críticos estão recebendo reparos emergenciais. A conclusão de todos os serviços tem prazo estimado para 90 dias. Com o titular da Secretaria de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), Fernando Santana, disse que a previsão é de que a pista seja liberada ainda nesta semana, mas que não pode dar certeza por conta de possíveis chuvas. Enquanto isso, o motorista que trafega pela pista no sentido Sul-Norte precisa percorrer um desvio pelo Setor Leste Vila Nova. O trecho tem registrado congestionamentos, principalmente nos horários de pico, além de acidentes.
A Seinfra informou que as obras emergenciais na pista são de ‘’reparação de fissuras na pavimentação asfáltica, restauração do canal ao longo da marginal e confecção de gabião nas partes afetadas pela força das águas”. O gabião é uma estrutura construída com pedras que auxilia na contenção das águas. Os pontos que recebem esses reparos estão situados entre a Avenida Goiás Norte e a Avenida Fued José Sebba.
Construída em 1991, a via expressa, que interliga as regiões Sul e Norte da capital, canaliza as águas do Córrego Botafogo, por onde passa uma imensa caixa de concreto. A estrutura não consegue segurar totalmente o fluxo do rio e das chuvas e, com o passar do tempo, a água corroeu a base do concreto e se infiltrou na terra, onde atingiu a parte inferior do asfalto, nos dois sentidos da pista. O resultado é que, atualmente, a Marginal Botafogo possui vários pontos críticos de infiltração. Com a terra fofa, o asfalto está cedendo e não consegue suportar a força das águas. Após as fortes chuvas da última semana, circulou um vídeo nas redes sociais em que um condutor registrou fissuras na pista que demonstravam a fragilidade do asfalto e a ameaça de rompimento a qualquer momento.
Na madrugada de quinta-feira, 22, após as fortes chuvas que destruíram parte do asfalto da via, o garçom Nasser Augustus Najar, de 25 anos, que voltava do trabalho, foi surpreendido pela interdição da pista. Ao perceber a situação, Nasser conta que freou bruscamente para não colidir com as estruturas montadas. Um motorista que estava logo atrás, não percebeu a interdição a tempo de parar o carro e colidiu violentamente contra o veículo de Nasser, que teve ferimentos no braço e foi encaminhado para o Hospital de Acidentados.
Segundo o garçom, a sinalização na pista estava ineficiente. “A prefeitura tinha interditado com cones que não eram fluorescentes, com galhos e aquela faixa amarela e preta. Não tinha nenhuma sinalização de desvio e tudo estava escuro”, disse Nasser, alegando que vai acionar a prefeitura na Justiça. ‘’Vou processar a prefeitura por danos morais, por ter colocado minha vida em risco. É um absurdo continuar desse modelo o trânsito aqui em Goiânia. Para cobrar em radares o sistema funciona perfeitamente, a multa chega, a blitz funciona, eles apreendem carros, agora a segurança no trânsito, sinalização e asfalto de qualidade não existe. Toda vez que chove é essa catástrofe”, reclama.
Na última sexta-feira, 23, o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), autorizou a liberação orçamentária de R$ 1,3 milhão para que seja realizado o estudo de diagnóstico e reparos em toda a extensão da Marginal Botafogo. O serviço será realizado por uma empresa de consultoria de projetos que será contratada a partir de processo licitatório. Espera-se que todo o levantamento leve um ano para ser realizado. Após o diagnóstico, a prefeitura disse que irá realizar outra licitação, referente à obra de execução dos reparos necessários com base no estudo. Esta nova etapa, segundo previsões da Seinfra, só deve ter início em 2019 e custo total estimado em R$ 35 milhões.
O vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-GO), Ricardo Veiga, afirma que a Marginal “precisa de uma intervenção mais completa”, se referindo às intervenções emergenciais que a prefeitura realiza quando ocorrem problemas na pista. Segundo ele, somente uma revitalização completa e a longo prazo resolveria as fragilidades da via. “Existem trechos em que precisaria ser reavaliada a capacidade do canal da pista e reconstruir isso de forma nova. Não existe uma solução definitiva porque não foram feitos os estudos”, afirma Veiga.
Em novembro de 2015, foram solicitadas à prefeitura intervenções de curto, médio e longo prazos na via, seguindo o projeto de recuperação do canal, elaborado em 2010, que se encontrava na Seinfra. Entretanto, foram realizadas apenas medidas paliativas de manutenção em algumas áreas danificadas do canal. Após 8 anos de elaboração, novos problemas surgiram na pista, o adensamento na capital se intensificou, principalmente na Região Sul, e o estudo ficou obsoleto. O processo licitatório para contratação de uma empresa para realizar o estudo de diagnóstico da Marginal ainda não tem data definida.
Somente o trecho da Avenida Araguaia e Independência está totalmente interditado. A orientação da SMT é de que os condutores evitem a via enquanto houver obras no local. Os motoristas que precisarem, ainda assim, passar pela via naquela altura devem acessar a Rua 200, no Setor Leste Vila Nova, depois a 4ª Avenida e a Rua 227, até chegar na Avenida Independência, onde é possível alcançar novamente a Marginal. Esse trajeto tem registrado congestionamentos que estão aumentando em cerca de três vezes o tempo normal para percorrer o caminho, além de transtornos aos moradores da região.
HISTÓRIA
Construída em 1991, com o intuito de desafogar o trânsito, retirando parte do fluxo de carros do centro da cidade, a Marginal Botafogo é hoje uma das principais vias da capital, interligando as regiões Sul e Norte de Goiânia, a partir da Avenida Jamel Cecílio até a Avenida Goiás Norte. Atualmente a via expressa recebe de 80 a 100 mil veículos por dia, de acordo com o secretário de trânsito, transporte e mobilidade, Fernando Santana. A população de Goiânia saltou de 920 mil habitantes, em 1990, para 1,4 milhão em 2017. O número de veículos na capital atingiu o recorde de 1,1 milhão em 2017, número que faz com que a relação entre população e veículos se aproxime de um para cada habitante.
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