Mercúrio abolido por dentistas
Diário da Manhã
Publicado em 5 de novembro de 2015 às 23:15 | Atualizado há 9 anosProjeto de lei em tramitação na Câmara Federal dispõe sobre a proibição do uso de amálgama dentária, composta por mercúrio, para restauração dentária. De acordo essa proposta, a saúde dos profissionais da área e de pacientes, bem como o meio ambiente, podem ser protegidos. No amálgama dentário, possui mercúrio que é considerado o segundo metal mais contaminante que existe.
Em entrevista ao DM, o presidente do Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO), Jean-Jacques Rodrigues explica que a visão do conselho é contra a proposta da eliminação do uso de amálgama dental, contida no Projeito de Lei 654/15. “O Grupo Brasileiro de Professores de Dentística e a Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) já se posicionou contra a proposta e também na Convenção de Minamata, assinada por cento e quarenta países estabeleceu a redução gradual do mercúrio, sem, no entanto, proibir as restaurações de amálgama no mundo”.
De acordo com o presidente Jean-Jacques, o amálgama é o resultado da trituração da limalha de prata com o mercúrio e depois entulhado e condensado na cavidade dental, onde recebe uma escultura e polimento. E apresenta boa resistência e estabilidade dimensional, com um baixo índice de recidiva de cárie.
Ele ainda completa que a execução de amálgama tem menos passos clínicos e é mais tolerante às condições bucais. Ao contrário das restaurações adesivas (resinas), que dependem de um alto nível técnico e são bastante sensíveis à técnica. E quando não observada, leva a um alto nível de insucessos.
Questionado sobre qual material seria mais apropriado para substituir o amálgama, o cirurgião-dentista e presidente do CRO-GO explica que existem vários, mas nenhum com as mesmas características e facilidade de uso. Porém para substituir, existem as resinas compostas fotopolimerizáveis e os ionômeros de vidro restauradores ou ainda os modificados com resina.
“O problema não é a substituição de um material por outro. A questão é a indicação do material para cada necessidade individual. Existem casos, e não são poucos, em que o paciente encontra-se em uma condição de alto risco de cárie e os materiais resinosos não são indicados como material de primeira escolha”, diz Jean-Jacques. Para ele, o material que melhor atende as necessidades, nesses casos é o amálgama, pois além de possuir uma longevidade de duas a três vezes maior que os demais materiais.
A restauração de amálgama tem um curso significantemente mais barato do que das resinas, o que pode facilitar o acesso de tratamento odontológico. Mesmo assim, essas restaurações estão sendo cada vez mais substituídas pelas de resinas.
O projeto de lei
De acordo com o projeto, o mercúrio existe na natureza em três formas básicas, sendo o mercúrio elementar ou metálico, inorgânico (sais de mercúrio) e o orgânico (metilmercúrio). O mercúrio elementar é o mais emitido no meio ambiente e utilizado para fazer o amalgama de pratarestauração odontológica.
Sendo assim, o mercúrio é absorvido pelo nosso organismo e sua exposição a altos níveis de vapor de mercúrio, pode resultar em graves desordens neurológicas. A uma temperatura de 32°centígrados, a amálgama já emite fumos altamente tóxicos, portanto, ao retirar uma restauração (intervenção mais perigosa), o simples contato da broca com a restauração durante sua remoção provoca a volatização do vapor de mercúrio em altos níveis tóxicos, expondo os trabalhadores e pacientes através da pele.
O projeto ainda cita que não bastasse esse risco, o mercúrio elementar produz também o metilmercúrio que vai direto para o esgoto contaminando o solo, o ar e a cadeia alimentar, sendo assim são repassados a carga tóxica ao seres humanos.
Para o relator do projeto, deputado federal Luiz Nishimori,existe um aumento significativo no uso de determinados medicamentos das seguintes categorias de doenças: neuropsicológicas, neurológicas, respiratórias, e cardiovasculares sendo usados por dentistas da prática pediátrica que costumam fazer com frequência restaurações de amálgama de mercúrio.
Ainda segundo o projeto de lei 654/15, a Organização Mundial da Saúde e várias agências federais de pesquisas e saúde dos EUA confirmam que o uso de amálgama dentário é a maior fonte de exposição humana ao mercúrio elementar. O mercúrio possui efeito cumulativo, portanto causa perturbação crônica e progressiva das funções metabólicas e celulares dos indivíduos a ele expostos. E na literatura científica, há uma vasta produção de estudos que revelam que o mercúrio derivado do amálgama dentário se espalha pelo corpo.
Alguns países já aboliram o amálgama é o caso da: Suécia, Dinamarca e Noruega, enquanto Países como Alemanha, Finlândia, Áustria e Canadá que vem tomando medidas restritivas para liberação do mercúrio dental, principalmente em crianças e mulheres grávidas.
O projeto está em tramitação na Câmara e falta ser analisado conclusivamente pelas comissões de Seguridade Social e Família; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
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