Cotidiano

O que está por trás da destruição

Redação

Publicado em 3 de maio de 2018 às 02:10 | Atualizado há 1 semana

Um acidente doméstico, causado pela explosão de um botijão de gás ou de uma panela de pressão, é a princi­pal hipótese para o incêndio ocorri­do na madrugada de segunda-feira no edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou, no Largo do Paissan­du, no centro de São Paulo.

A principal linha de investiga­ção foi revelada ontem pelo se­cretário de Segurança Público do Estado, Mágino Alves. “A primei­ra linha de investigação é que foi provavelmente um acidente do­méstico. É o que se fala até ago­ra. Uma briga de casal também ocorreu. Mas parece que também ocorreu um acidente doméstico. Parece que uma explosão de boti­jão ou de uma panela de pressão. Isso vai ser apurado no seu devi­do tempo”, disse Mágino.

Dois botijões de gás encontrados nos escombros foram encaminha­dos para perícia no Instituto de Cri­minalística de São Paulo. Objetos e destroços encontrados também se­rão alvos de perícia do Instituto de Criminalística de São Paulo.

A hipótese de uma acidente do­méstico, que poderia ter sido cau­sado por uma briga de casal, coin­cide com declarações de moradores do quinto andar do prédio, onde o incêndio começou. Sobreviventes relataram que ouviram um casal brigando e, logo em seguida, uma explosão no local, que poderia ser a panela de pressão ou botijão de gás.

O fogo começou por volta das 1h30 de ontem, espalhando-se ra­pidamente até o desabamento do prédio, que ocorreu por volta das 3 horas. O local abrigava a antiga superintendência da Polícia Fe­deral em São Paulo, localizada na avenida Rio Branco, na região do Largo do Paissandu.

O Corpo de Bombeiros atendeu ao chamado pouco depois do início do incêndio, que também atingiu o prédio ao lado e uma igreja lutera­na inaugurada em 1908.

Quarenta e quatro pessoas são consideradas desaparecidas pelo Corpo de Bombeiros. O número é o resultado de cadastrados pela Prefeitura de São Paulo no edíficio ocupado e que ainda não procu­raram assistência. Um rapaz caiu durante a tentativa de resgate e ainda não foi localizado.

Desabrigados de prédio que desabou ficam na rua e reclamam por moradia

Largo do Paissandu decidiram pas­sar a madrugada na rua em vez de ir para albergues oferecidos pela prefeitura. “A gente não quer ser es­quecido pelo governo”, disse a ven­dedora ambulante Jéssica Matos, 20 anos, que sobreviveu ao incên­dio do edifício. Ela passou a noi­te com a mãe e a irmã, deficiente mental, na calçada do largo.

“A noite foi fria. Acordei com a garganta doendo, estou um pou­co rouca. Minha irmã, que é espe­cial, ficou mal e foi com o pessoal de saúde. Aqui é a rua, né? Não tem nenhuma cobertura”, disse Jéssica. Ela acredita que se o gru­po se separar em albergues será mais difícil uma resposta do go­verno. “A gente não quer alber­gue, a gente quer moradia. Tan­to prédio por aí. Coloca a gente lá que a gente está precisando”.

A auxiliar de limpeza Marta da Cruz, 54 anos, também passou a noi­te na calçada do Largo Paissandu. “Morava lá há 7 anos, desde o come­ço. Não era bom morar lá, era me­donho, mas era sobrevivência por­que aluguel está muito caro aqui no centro”, disse. Ela morava com um gato que não conseguiu salvar do in­cêndio. “Era minha companhia. Ele fugia sempre que eu tentava pegar ele”, lamentou. Marta saiu do prédio em chamas apenas com a roupa do corpo e recebeu doações já na rua.

Por causa dos quarteirões inter­ditados muitas pessoas estão im­pedidas de entrar nos locais de tra­balho. A cabeleireira Neide da Silva, 72 anos, não conseguiu chegar no salão de beleza que mantém pró­ximo ao largo. “Eu queria pegar o secador para trabalhar em um local aqui perto. Já falei com a mulher do aluguel que ela vai ter que me dar um prazo maior, porque esta sema­na vai ser difícil”, disse.

O restaurante Estrela do Paissan­du, também no largo, abriu apenas para receber fornecedores e apoiar o trabalho do Corpo de Bombeiros, dos policiais militares e dos jorna­listas. “Os clientes da rua mesmo não conseguem entrar. A gente abriu aqui para apoiar quem está traba­lhando. Tem banheiro, se quiserem usar, e tomar um café”, disse o pro­prietário Josias Queiroz.

O prédio comercial e residen­cial na esquina com a Rua do Boti­cário, embora na área interditada, foi autorizado a abrir. O zelador do edifício disse que muitos mo­radores e funcionários, no entan­to, não conseguiram permanecer no local, incomodados pela fuma­ça dos escombros.

Os trabalhos do Corpo de Bom­beiros continuaram pela madruga­da com cerca de 100 homens. On­tem pela manhã foi utilizada uma escavadeira para retirar os escom­bros, pois não há interferência na parte estrutural do prédio, tendo em vista que ainda estão sendo fei­tas buscas por desaparecidos.

A equipe de assistência social permanece no local para acolher os sobreviventes. Terça-feira foi feito o cadastro das famílias de­sabrigadas. Na manhã de hoje, foram oferecidos serviços como banho, atendimento médico e ali­mentação às pessoas que passa­ram a noite na praça.

 

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