O tratamento por meio de comidas
Diário da Manhã
Publicado em 7 de agosto de 2018 às 00:29 | Atualizado há 2 semanasPesquisador Michael Greger, clínico-geral americano e considerado um dos maiores especialistas em nutrição da atualidade, disse para a revista “Veja” que a alimentação saudável pode ajudar e muito no tratamento de doenças crônicas.
Mas ele fala o que muita gente não quer ouvir: “A melhor base científica disponível evidencia que a dieta saudável é aquela que minimiza a ingestão de alimentos processados e carnes, e maximiza a ingestão de vegetais, feijões (soja, ervilha seca, grão de bico e lentilha), frutas em geral e grãos integrais (quinoa, arroz, aveia, trigo sarraceno)”. Ou seja, sugere a mudança dos hábitos alimentares. E pouco desejam fazer isso.
A relação comida e morte tem como mediador o risco de hipertensão arterial, o colesterol e glicemia alta, além do diabetes. Conforme a reportagem, a cada ano, 610 000 americanos morrem vítimas de doenças cardíacas. O Brasil segue o ritmo: 300 mil pessoas sofrem infartos todos os anos.
Michael Greger diz que entendeu a importância da mudança de hábito alimentar com o caso da avó: ela foi sentenciada à morte aos 65 anos após diagnóstico de doença cardíaca terminal. Motivo: acúmulo de placas de gordura nas artérias do coração.
Ocorre que a avó paterna viveu mais 31 anos. E sem remédios ou cirurgia. O que ela fez? Mudança do tipo de alimentação.
- O DM publica trechos da entrevista realizada pela “Veja”:
A ALIMENTAÇÃO DA AVÓ
Por volta dos 9 anos de idade, eu vi minha avó ser sentenciada à morte, aos 65 anos. Ela tinha uma doença cardíaca irreversível. O fluxo sanguíneo para o coração estava prejudicado devido ao acúmulo de gordura em suas artérias ao longo dos anos, e ela tinha fortes dores no peito e pernas. Acabou em uma cadeira de rodas. Foi quando minha avó ouviu falar de um médico chamado Nathan Pritkin, pioneiro na chamada “medicina de estilo de vida”, que se tornara conhecido por reverter quadros terminais de doenças cardíacas. O que aconteceu depois foi narrado na biografia do médico: após três semanas de uma dieta exclusiva à base de vegetais (plant based diet) e uma rotina gradativa de exercícios físicos, minha avó Frances não apenas saiu da cadeira de rodas, como viveu mais 31 anos, chegando aos 96.
MAIS VEGETAIS VERDES
Nossas artérias podem relaxar e ficar livres de gordura se ingerirmos mais vegetais verdes, frutas e alimentos naturais e integrais. Não sou eu que digo isso, é a ciência. Há estudos publicados. As pessoas passam a vida agredindo suas artérias com maus hábitos alimentares, falta de exercício, ou tabagismo. Depois os médicos prescrevem estatinas (medicamento para reduzir o colesterol ruim). Ao invés de evitar um ataque cardíaco, é preciso evitar o aparecimento do colesterol alto: tratar a causa, não a consequência. Por isso, nunca será tarde ou cedo demais para prevenir, tratar ou até mesmo reverter doenças crônicas, associadas ao estilo de vida da pessoa.
SEM CIRURGIA
O primeiro estudo sobre reversão de doenças cardíacas foi publicado em julho de 1990, pelo médico Dean Ornish ‘The Lifestyle Heart Trial’ (ou “ensaio sobre coração e estilo de vida”). Ele provou por meio de angiografia (exame médico utilizado para verificar anormalidades nas artérias e sistema circulatório) que casos de doenças cardíacas poderiam ser revertidas: artérias poderiam se dilatar sem drogas ou cirurgia. Estudos sobre reversão do diabetes tipo 2 datam da década de 70. Mas há trabalhos mais antigos, como casos de reversão de insuficiência renal, obesidade mórbida e pressão alta, que datam dos anos 50. Pense que não havia tantos remédios naquela época, até porque, tampouco, havia tantos casos de doenças crônicas. A esperança não vinha de drogas; vinha da comida.
E A GENÉTICA?
Genes são responsáveis por cerca de 20% das doenças crônicas comuns. Os outros 80% são provenientes de como vivemos e, principalmente, de como comemos. Pessoas de uma mesma família tendem a comer dietas semelhantes e, assim, tendem a ser acometidas por doenças crônicas semelhantes, como pressão alta, colesterol alto, diabetes tipo 2 e obesidade. A dieta é o contribuinte número um para que surjam doenças crônicas, mas também pode evitá-las e tratá-las. Se fizermos parte de uma família que come uma dieta baseada em vegetais, nossos parentes provavelmente terão baixo índice de risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Por outro lado, se somos parte de uma família que abusa de carne ou laticínios, certamente o risco será maior. E, de novo, não por questão de genes, mas por hábitos alimentares. Genética pode até “apontar a arma”, mas o estilo de vida “puxa o gatilho”
A DIETA SAUDÁVEL
A melhor base científica disponível evidencia que a dieta saudável é aquela que minimiza a ingestão de alimentos processados e carnes, e maximiza a ingestão de vegetais, feijões (soja, ervilha seca, grão de bico e lentilha), frutas em geral e grãos integrais (quinoa, arroz, aveia, trigo sarraceno). Vegetais da família dos brócolis, os chamados crucíferos, podem prevenir danos ao DNA das células e serem promissores agentes anticâncer devido, acredita-se, a um componente que se forma quase que exclusivamente nestes tipos de vegetais. Alimentação, de fato, trata doenças.
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