O verdadeiro espírito natalino
Diário da Manhã
Publicado em 23 de novembro de 2017 às 01:59 | Atualizado há 7 anosA data cristã celebrada por grande parte dos brasileiros costuma, na teoria, propagar o espírito natalino carregado de solidariedade e senso de comunhão. Porém, outro espírito permeia cada vez mais essa época do ano: o consumismo. Será que quando se tornarem adultas, as crianças de hoje irão se lembrar dos momentos em reunião com familiares e amigos ou apenas do brinquedo que ganharam ou deixaram de ganhar? O Natal perdeu sua essência? Afinal, qual é o verdadeiro significado dessa data?
“A principal razão para celebrarmos o nascimento de Cristo é para que nos lembremos da sua missão, que segundo São Paulo em carta aos Efésios diz que Jesus veio ao mundo para destruir o muro da separação. Esse muro é a representação do afastamento das pessoas de Deus, e para que nos tornemos divinos, primeiro devemos ser humanos. Essa foi a mensagem de Deus ao nos enviar seu filho, que veio nos resgatar e nos mostra o caminho”, explica o padre Rafael Magul, pároco da Igreja Católica Ortodoxa de São Nicolau, em Goiânia.
O Natal certamente é um dos eventos mais importantes do ano para um católico. Mas o consumismo é o que pulula no imaginário de todo o mundo, onde se prega que o presente é o símbolo representante da data. E esse consumismo, na verdade, contraria vários pontos oriundos do ensinamento cristão. Entre eles estão o altruísmo, e não a cobiça com os presentes; a sobriedade, e não a ostentação de árvores, luzes e enfeites; a felicidade imaterial gerada pelo amor como renúncia, e não o prazer material; a comunidade de iguais e fraternos diante de Deus, e não o individualismo e a concorrência entre diferentes modalidades, mais ricas ou mais pobres de convividade.
“Se nosso comportamento e estilo de vida não lograrem transformação, se nossas obras de caridade, e se até mesmo nossa vida espiritual, nossas orações e nosso culto não buscarem a transformação, de nada adianta. A mudança deve vir do amor porque é a mesma razão por que Jesus veio ao mundo, com o seu amor ele marcou toda a civilização humana e nos mostrou o caminho que devemos seguir. Compete a nós, agora, respeitar sua palavra e levar seus ensinamentos adiante”, complementa o religioso.
E ele continua. “Em Jesus se fez uma nova civilização, que é a civilização do amor. O amor que é muito mais forte do que tudo, mais forte do que a ambição, mais forte do que a avareza, a própria desunião e mais forte do que a morte. O amor sempre vence, e esse amor nos dá uma melhor qualidade de vida. O Natal nos serve para celebrarmos essa renovação em nossas vidas junto à família, o seio do amor e que melhora todas as formas de viver.”
Quando questionado sobre os terríveis acontecimentos no mundo atual, onde a violência tem se tornado cada vez mais presente e se manifesta com acontecimentos cada vez mais brutais, o padre Rafael menciona coisas simples e de origem no seio familiar a relação entre felicidade e amor. “A violência que vivemos hoje é a falta de Jesus em nossos corações. No sentido geral, e para ser mais concreto, é muito importante entender que a violência pode estar entranhado em nossas raízes. A violência vem da infelicidade, e uma criança cuja família não a cria com amor, uma criança cujos pais são ausentes ou não atendem suas necessidades, se torna infeliz.”
Para o religioso, a felicidade deve vir da mãe e do pai, que com dedicação e orientação, ensinam e preparam a criança para viver num mundo onde parece que Jesus está cada vez menos presente. “Jesus deve ser levado dessa forma, com mães presentes e pais presentes, drogas e violência ausentes, e é ao construir um mundo arraigado no amor e na felicidade que a violência simplesmente deixará de existir. Pegue o exemplo de Maria, que acompanhou Jesus desde o nascimento até o fim da sua vida, até no dia em que foi crucificado”, pontua.
Valores como a solidariedade não devem faltar hoje, de acordo com ele. “Quanto mais irmãos precisam, mais nós devemos sentir. São João Damasceno disse: ‘o mais rico não é aquele que mais tem, é aquele que mais dá’. Então no espírito de Natal devemos refletir: o que estamos acumulando em nossas vidas, bens materiais ou bens espirituais? Com certeza chegaremos à conclusão que em 2017 fizemos muitas coisas boas, mas também veremos que muitas coisas boas deixamos de fazer. E é nessas coisas que deixamos de fazer que precisamos pensar e nos transformar para que, no ano que vem, venhamos a ser melhores. O Natal é isso, é renovação, é família, amor, felicidade e uma celebração à vida”, conclui padre Rafael Magul.
Se nosso comportamento e estilo de vida não lograrem transformação, se nossas obras de caridade, e se até mesmo nossa vida espiritual, nossas orações e nosso culto não buscarem a transformação, de nada adianta. A mudança deve vir do amor”
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