Operação Carne Fraca ainda reflete no mercado
Diário da Manhã
Publicado em 8 de abril de 2017 às 02:37 | Atualizado há 8 anosPouco mais de duas semanas após a deflagração da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, observa-se que os impactos no mercado pecuário têm sido mais intensos no contexto interno do que no externo, de acordo com pesquisas do Cepea. O mercado do boi gordo ainda é de ajustamento, após as confusões policiais e tributárias das últimas semanas, segundo constatação da Scot Consultoria.
Na primeira quinzena de março, os preços do boi gordo e da carne já estavam enfraquecidos no mercado brasileiro, mas o movimento de baixa acabou sendo intensificado após a divulgação da operação. Em Goiás, a arroba do boi gordo estava cotada, ontem, a R$123,80, com pagamento em 30 dias e com desconto do Funrural na ordem de 2,3%. A vaca gorda estava cotada a R$115,80, o preço bruto, com prazo de 30 dias. Os levantamentos foram feitos pelo Departamento Econômico da Federação da Agricultura.
O Indicador do boi gordo Esalq/BM&FBovespa (São Paulo) acumulou recuo de 3,72% em março (de 24 de fevereiro a 31 de março). Entre 29 de março e 5 de abril, especificamente, o Indicador caiu 5,5%, a R$ 133,98 nessa quarta-feira. Já quanto ao mercado internacional, segundo pesquisadores do Cepea, ainda que a operação tenha causado embargos temporários por parte de importantes compradores externos, o volume de carne bovina exportada pelo Brasil aumentou 24% de fevereiro para março, segundo dados da Secex.
Fortes quedas de milho e soja
As fortes quedas de preços do milho e do farelo de soja elevaram o poder de compra de avicultores brasileiros em março, apesar das desvalorizações do frango vivo. Em Goiânia, a Faeg confirma baixa nas cotações também. O milho foi cotado,ontem, a R$22,80 a saca de 60 quilos e a soja a R$52,80, cabendo ainda desconto de 2,3% para o pagamento do Funrural.
No dia 31, o produtor de aves paulista pôde adquirir 5,2 quilos do cereal ou 2,73 quilos do derivado da oleaginosa, em média, com a venda de um quilo do animal, os maiores volumes desde 30 de novembro de 2015 e respectivos aumentos de 13,9% e 1,6% no acumulado do mês.
Enquanto o frango vivo na Grande São Paulo se desvalorizou 4,6% no balanço de março, o milho e o farelo tiveram baixas acumuladas de 16,2% e de 6,1% em Campinas (SP). Segundo pesquisadores do Cepea, a desvalorização do animal é consequência da cautela de compradores após a deflagração da operação Carne Fraca. As quedas nos preços dos insumos, por sua vez, se dão pela oferta elevada no mercado, causada pelo bom rendimento da safra verão, conforme informações da Equipe Grãos/Cepea.
“Vendemos boi ou produzimos carne?”
Fernando Saltão, alto executivo da Associação Nacional da Pecuária Intensiva Associação dos Confinadores do Brasil (Assocon), com sede em Goiânia, apresentou um case aos pecuaristas presentes no Encontro de Confinamento e Recriadores, da Scot Consultoria, realizado em Ribeirão Preto (SP). Saltão participou do painel “Os detalhes fazem o sucesso de bilheteria”, com outros profissionais do setor e comentou sobre os riscos compartilhados na cadeia produtiva da carne bovina.
“Trouxe um exemplo para que os participantes desta importante cadeia produtiva reflitam se não é a hora de termos atitudes profissionais e encararmos o nosso negócio de uma forma mais ampla. Acusar sempre o outro elo da cadeia não nos leva a lugar algum. Afinal, o nosso ‘bem comum’ é vender carne com volume e qualidade”, destacou Fernando Saltão.
O executivo da Assocon lembrou um fato ocorrido em 2010, quando foi convidado por uma empresa do setor para falar sobre o fechamento do mercado norte-americano para carnes industrializadas. A audiência era composta por técnicos e pecuaristas. Na época, um lote de carne brasileira foi barrada nos EUA por apresentar resíduos de avermectina acima do LMR permitido.
“Por coincidência ou não, após a restrição americana o preço da carne caiu no mercado interno. Por consequência, o valor da arroba do boi gordo acompanhou a queda. Esta adversidade estava, nitidamente, longe da realidade dos pecuaristas e muitos chegaram a comentar que se tratava de um problema dos frigoríficos”, pontua Saltão.
Cadeia do boi prejudicada
Na prática, pouco importa que segmento foi afetado, diz o dirigente. “O fato é que toda a cadeia foi prejudicada: o pecuarista, pelo recuo da cotação do boi gordo; a indústria de sanidade animal, que investiu muito em desenvolvimento, marketing e insumos; o frigorífico, por não poder vender para o maior mercado do mundo. Mas, principalmente, perdeu o Brasil e a pecuária como um todo, pelos prejuízos econômicos e de imagem perante os EUA e o mundo”.
“Temos problemas para resolver. Isso não pode ser deixado em segundo plano. Transparência na pesagem, sistema padronizado da ‘toilete’, precificação e seus indicadores claros e confiáveis, comunicação com os consumidores (afinal, os nossos clientes). Temos oportunidades enormes, pois somos eficientes, principalmente em termos de custos de produção. Também temos gente competente. Só precisamos pensar mais estrategicamente. Juntos, sempre seremos mais fortes”, concluiu o CEO da Assocon.
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