Cotidiano

“Ou Brasil promove reformas ou quebra”

Diário da Manhã

Publicado em 12 de setembro de 2018 às 02:41 | Atualizado há 1 semana

O Brasil promove as reformas básicas com o advento do novo governo, a partir do próximo ano, ou ele “quebra de uma vez”. Esta a opinião generalizada na Interconf 2018 (Conferência Inter­nacional de Pecuaristas). Aberta on­tem pela manhã, no Centro de Con­venções de Goiânia, o encontro que reúne mais de mil pecuaristas en­cerra-se hoje às 18 horas. A abertu­ra oficial coube a Maurício Velloso, presidente da Comissão de Pecuá­ria de Corte da Faeg e da Associação Goiana do Novilho Precoce e que falou em nome da Assocon (Asso­ciação Nacional da Pecuária Inten­siva). A economista Zeina Latif, da XP Investimentos, mais uma vez brilhou nesta Capital, ao proclamar a necessidade das reformas, com ênfase para a Previdência.

No painel Mercado e Política, Zeina Latif discorreu sobre os de­safios atuais, futuros e perspectivas econômicas nacionais. Na atuali­dade, as oscilações na taxa de câm­bio, volatilidade do real, a incerteza no quadro político, desaceleração da China e o comportamento do governo Trump “mexem na eco­nomia brasileira”. Essas incertezas precisam ter um fim com o adven­to de um novo governo a ser elei­to em outubro deste ano, segun­do a palestrante. “Quem vencer com a garantia das reformas pre­videnciária e trabalhista, as pers­pectivas políticas e econômicas tendem a melhorar sensivelmen­te”, acredita, considerando o ano de 2019 como “muito importan­te”. Ela fez alguns comparativos com anos anteriores para conside­rar 2019 como o “ano da verdade”.

Zeina bateu na tecla da importân­cia do pleito de outubro, observando que “será a eleição mais importante da história recente do Brasil”. Ao ba­ternanecessidadedasreformas, lem­brou que o brasileiro na década de 60 tinha em média seis filhos. Hoje, um casal se limita a praticamente dois filhos. Mas, a pessoa vive bem mais. Em 2030, haverá o dobro de pessoas idosas em relação a 2015, o que cor­responderá a 17% do Produto Inter­no Brasileiro (PIB) apenas com Pre­vidência. Em sua opinião, o quadro é grave, porque a ameaça de colapso é real, podendo comprometer inclusi­ve a folha de pagamento do funcio­nalismo também nos Estados.

Nos demais setores da economia brasileira, ela vê necessidade de au­mento dos índices de produtividade. Fez graves acusações ao Custo Bra­sil, que impede a melhoria no am­biente de negócios. A carga tributá­ria impede novos investimentos e a consequente geração de empregos. Dentro de um plano de um novo go­verno, Latif vê necessidade “de pelo menos simplificação da estrutura tri­butária”. Mais uma vez, considerou o Brasil“umaeconomiafechada”, onde é alta a taxação dos insumos. Ela de­fende a universidade pública para to­dos. E disse que “70% dos jovens não sabem matemática básica”.

O governo Michel Temer, em sua opinião, foi corajoso. Com uma po­pularidade de 6%, formulou algu­mas reformas. A greve dos caminho­neiros prejudicou seriamente o Brasil com o encarecimento dos fretes. Dis­se, ainda, que Temer não terá maio­res abalos porque mantém a inflação controlada. “A sociedade não aceita inflação galopante”, emitiu opinião. Daí o povão vai para as ruas. Zeina entende que está ocorrendo avan­ços institucionais, regras são impos­tas para o orçamento público, para evitar a fatura alta no próximo ano. A economista teme, no entanto, a elei­ção de um presidente medíocre, que impeça as reformas reclamadas de forma urgente pelo Brasil.

INCERTEZAS PREOCUPAM

Maurício Velloso, presidente da AGNP, ao abrir a Interconf, discor­reu sobre os desafios dos pecuaris­tas. “Os produtores não se encon­tram entusiasmados ante os sinais de incerteza que rondam o País”, dis­se. Analisou os mercados interno e externo e ressaltou o novo recorde na exportação de carnes, algo que os pecuaristas não comemoravam desde os reflexos da Operação Carne Fraca, posta em prática pela Polícia Federal. Ele levantou alguns custos de produção e considerou o cenário político como “o samba do crioulo doido” no tocante à relação com a indústria. Veloso entende que o cria­dor precisa ser contemplado com melhores preços no referente a uma carcaça e um couro de qualidade.

O encerramento das atividades da fábrica de fertilizantes nitrogena­dos da Petrobras em Camaçari (BA), anunciado em meados de março, prejudicou os pecuaristas do País, pois, a partir de então, o setor ficou totalmente dependente das impor­tações de ureia para suplementa­ção dos animais, observou. Na épo­ca do anúncio, a Petrobras alegou problemas financeiros. Segundo a companhia, somente em 2017 hou­ve prejuízo médio de R$ 200 mi­lhões. A unidade de Camaçari ini­ciou suas atividades em 1971, para produção de fertilizantes nitrogena­dos a partir do gás natural dos cam­pos produtores de petróleo da Bah­ia e de Sergipe. A fábrica produzia insumos como amônia, ureia fer­tilizante, ureia pecuária, ureia in­dustrial, ácido nítrico e hidrogênio.

Além das importações, Velloso destaca que a ureia pecuária tem in­cidência tributária de 10% em PIS/ Cofins, im­posto que não incide sobre a ureia direcionada para a agricultura. “O recente aumento do dólarimpulsionaasexportações, mas onera a produção de gado. Medica­mentos, por exemplo, ficam mais ca­ros porque são pagos com a moeda norte-americana. Custos altos leva­ram produtores à redução no paco­te tecnológico e a produtividade do gado foi comprometida”, explicou.

ELEIÇÃO DE PECUARISTAS

Ainda sobre os itens que eleva­ram as despesas dos pecuaristas, Velloso destacou o aumento nos preços dos grãos, que ocorre des­de o início do ano, com a quebra de safra da Argentina. Em um ano elei­toral, destacou que a “interlocução da pecuária com o governo precisa melhorar”. “Na política, temos de eleger representantes da pecuária capacitados”, acrescentou.

O executivo também disse que as intenções de confinamento caíram depois da greve dos caminhoneiros, em linha com a redução nas expec­tativas de consumo e do crescimento econômico do País. “As negociações feitas após a greve também foram prejudiciais”, acrescenta. A principal medida decorrente da greve, ocorri­da entre maio e junho, foi a tabela de preços mínimos para o frete rodoviá­rio que onerou os custos de transpor­tes de insumos, como a ração.

CAMINHOS IMEDIATOS

Leandro Bovo, diretor da Radar Investimentos, considera que a re­cuperação sustentável da arroba ten­de a ocorrer no médio prazo, entre os anos de 2019 e 2020. Para tanto, o setor dependerá de alguns gatilhos, como exportação aquecida, reten­ção de matrizes e redução no dife­rencial de base entre as praças pe­cuárias. Com relação às exportações, ele destacou o recorde de 144,4 mil toneladas de carne bovina in natu­ra atingido em agosto, conforme da­dos do Ministério da Indústria, Co­mércio Exterior e Serviços (MDIC).

“O comércio internacional pode dar um primeiro alento ao mercado pecuário, porque deve continuar em ritmo positivo”, estima. No en­tanto, “o Brasil precisa reduzir a de­pendência das vendas para a Chi­na, que representam quase 50% da proteína bovina que embarcamos”, alertou o especialista. Apesar de os chineses serem importantes com­pradores, ele acredita que a depen­dência faz com que o País fique sus­cetível a perdas caso haja qualquer mudança ou problema na capaci­dade de compra do país asiático.

Outro gatilho é a provável reten­ção de matrizes, que, por uma ques­tão de oferta, pode auxiliar os preços da arroba bovina. “O diferencial de base entre as praças pecuárias pelo País e a referência de São Paulo está cada vez mais estreito, então as in­dústrias não conseguem segurar o avanço nos preços das ofertas por muito tempo. Mais cedo ou mais tarde, os frigoríficos terão que pagar mais em SP”, explica sobre o merca­do físico do boi gordo.

No curto prazo, o ponto positivo é que a concorrência entre a carne bovina e a de frango pode diminuir porque os preços da proteína de ave não estão mais em níveis mui­to mais baixos que os da carne de boi. Em contrapartida, a tabela de fretes gera incertezas sobre a pre­cificação na dieta do gado. “Nes­te contexto de incertezas, inclusive política e econômica, os pecuaris­tas precisam evitar a criação de dí­vidas indexadas à arroba”, sugere.

MERCADO DE COMMODITIES

Rafael Marsola, da Cargill, ana­lisou o mercado das commodities agrícolas para este ano, “volátil” em sua visão. Os preços sofrem altera­ção rápida hoje em dia em decor­rência, também, da velocidade da informação. Emsuaopinião, atual­mente os fundos de investimentos movem o mercado. A guerra comer­cial entre os Estados Unidos e a Chi­naestáfavorecendooBrasil, pelome­nosporenquanto. Graçasàstaxações impostas pelos americanos.

O Brasil deve exportar um recorde de 76,1 milhões de tonela­das de soja em 2018, diante do forte apetitechinês, contribuindoparaque os estoques finais do país sul-ameri­cano caiam ao menor nível em pelo menos quase duas décadas. O Brasil é o maior exportador global da olea­ginosa e viu suas vendas serem be­neficiadas neste ano pela tensão co­mercial entre os dois.

A disputa entre as duas maio­res economia do mundo culminou com Pequim taxando a soja norte­-americana e se voltando cada vez mais ao produto brasileiro.

Na véspera, um executivo de uma esmagadorachinesajáhaviaditoque no ano-safra 2018/19 a China foca­rá na soja do Brasil. O país deve pro­duzir neste ano um recorde de 118,8 milhõesdetoneladasdacommodity, levemente acima dos 118,7 milhões considerados anteriormente e sensi­velmente maiores em relação às cer­ca de 114 milhões do ano passado.

O fato é que as fortes exporta­ções pelo Brasil em 2018 devem levar os estoques da oleaginosa a caírem para 1,465 milhão de tone­ladas, de 3,865 milhões na previsão anterior e 5,265 milhões em 2017.

Com relação ao milho, o esto­que mundial aumenta em um bi­lhão e cem milhões de toneladas, este ano. O Brasil deverá produzir 94,5 toneladas, constituindo-se no terceiro produtor do mundo. Todo o globo produzirá 28 milhões de to­neladas a mais e atenderá 32 mi­lhões também a mais. O produto transformado em ração atende aos setores de suínos e aves.

No debate sobre eleições des­te ano, Antônio de Salvo, da CNA; Luciano Vaccari, da Acrimat; Mau­rício Velloso, da Assocon; Barto­lomeu Braz, presidente da Faeg, reafirmaram a necessidade da re­forma de base no País, segurança jurídica, menos burocracia, menor carga tributária, fortalecimento do Mapa no próximo governo; ener­gia rural; ampliação de mercado interno e externo; meio ambien­te; presença maior do Itamarati nas negociações externas e de pro­moção dos produtos nacionais.

Maurício Velloso chegou a co­mentar que “Goiás precisa dispor de uma Secretaria da Agricultura’, numa abordagem semelhante à propos­ta do jornalista Wandell Seixas em recente artigo no Diário da Manhã quando defendeu a instituição da Secretaria do Agronegócio.

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