Cotidiano

Petrobrás deixa de fabricar adubos e produtor reage

Diário da Manhã

Publicado em 14 de abril de 2018 às 01:42 | Atualizado há 7 anos

O fechamento de fábricas de fertilizantes pela Petrobras está ocasionando preocupações aos produtores brasileiros. O adubo é peça vital no desenvolvimento das plantações. A opinião gene­ralizada é a de que a demanda só tende a crescer. Os fertilizantes são apontados como responsáveis, ao lado de tecnologias em crescente uso, pelas sucessivas safras recor­des no Brasil. A uréia é, também, um dos fortes componentes na ra­ção do rebanho. E Goiás não foge à regra. Maurício Velloso, presidente da Associação Goiana do Novilho Precoce, é um dos articuladores em Brasília (DF) pela desativação da proposta da Petrobras de fechar unidades de fábricas de fertilizan­tes nitrogenados em municípios de Camaçari, na Bahia, e Laran­jeiras, em Sergipe.

Como decorrência de sucessi­vas reuniões no Congresso Nacio­nal, impulsionadas pelas entida­des classistas rurais em diferentes estados brasileiros, a empresa aceitou suspender o fechamen­to por 120 dias. Mas, os represen­tantes do meio rural querem uma solução definitiva para o proble­ma. Ontem, durante encontro de confinadores em Goiânia, patro­cinado pela Agropecuária Grande Lago, com sede em Jussara, Vale do Araguaia, o assunto foi comen­tado por criadores. A crítica foi generalizada porque no caso da uréia, é um ingrediente impor­tante na ração animal.

MERCADO EM EXPANSÃO

Durante reunião da comissão geral no plenário da Câmara Fe­deral nesta semana, deputados do governo e da oposição criticaram a decisão da Petrobras de fechar uni­dades produtoras de fertilizantes. Segundo Maurício Veloso, dirigen­te classista e produtor em Goiás, “o mercado de fertilizantes do Brasil está em plena expansão e que em 2017 o agronegócio teve aumento de produção em mais de 13%, ga­rantindo um certo equilíbrio na ba­lança comercial do País”. “Não seria mais justo ampliar a produção da Fafen para que o Brasil possa ocu­par cada vez mais este mercado?”

Na visão do deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que tam­bém pediu a sessão, o tema é de interesse nacional. “Numa eco­nomia com 13 milhões de desem­pregados, qualquer política que estimule o desemprego já seria extremamente grave”, disse. Ele estima em torno de cinco mil de­sempregados diretos nesse seg­mento. “Há ainda impacto na ar­recadação tributária de mais de R$ 1,5 bilhão por ano em estados pobres”, acrescentou. Os deputa­dos defenderam que seja anula­da esta decisão do presidente da Petrobras, Pedro Parente.

IMPACTO

Fernando Figueiredo, presi­dente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), observou que a questão vai além. Segundo ele, a hibernação (pa­rada da produção da atividade industrial) da Fafen coloca em risco a atividade de muitas em­presas que hoje são clientes da Petrobras e que ficarão sem for­necimento local.

Diretor do Sindipetro Bah­ia, Radiovaldo Costa disse que o fechamento das unidades deve provocar a importação de ferti­lizantes de locais como China e Rússia. Para ele, a defesa da Petro­bras como empresa pública forte, que valorize o conteúdo nacional, é estratégica para o País.

Kim Kataguiri, coordenador nacional do Movimento Brasil Li­vre (MBL), defendeu que a prio­ridade do Estado deva ser educa­ção, saúde e segurança pública, e não a produção de óleo, gás e fer­tilizantes. Na visão dele, se a Pe­trobras fosse privatizada haveria geração de emprego. “Não é efi­ciente deixar nas mãos do gover­no uma empresa que explora pe­tróleo e que, na prática, só serve de balcão de negócios para quem ocupa o governo”, opinou.

IMPORTAÇÃO DE INSUMOS

Os deputados da Comissão de Minas e Energia da Câmara defenderam, em audiência pú­blica, uma ação política coorde­nada para mudar o fato de que o Brasil tem que importar 80% dos insumos para a fabricação dos fertilizantes que consome. De acordo com os convidados ou­vidos, a dependência, que chega a 95% no caso do potássio, deixa os agricultores a mercê da pro­dução de poucos países.

José Carlos Polidoro, da Embra­pa, disse que o Brasil tem produção suficiente para apenas uma safra. “Quem milita no tema há muito tempo sabe o que aconteceu em 2008. Que foi só ter um problemi­nha lá na Rússia com a jazida de potássio deles. Pisaram no tubo lá dos quatro grandes fornecedores de potássio. E o preço de todos os fertilizantes NPK praticamente do­brou da noite para o dia. Isso acon­teceu num ano. Voltou ao normal? Voltou. Mas é um alerta que nós te­mos que ter”, disse.

RESERVAS

Ao mesmo tempo, o deputa­do Reinhold Stephanes (PSD-PR) lembrou que o País tem grande po­tencial de exploração, sendo que o Amazonas pode conter a tercei­ra reserva de potássio do mundo. Segundo Vicente Lobo, do Minis­tério de Minas e Energia, faltam investimentos no setor que pode­riam ser atraídos tanto com incen­tivos fiscais quanto com a exigên­cia de contrapartidas das empresas que adquirem áreas de exploração.

O deputado Ronaldo Bene­det (PMDB-SC) disse que tam­bém existe uma ação de grupos estrangeiros contra a exploração de áreas como a Renca, Reser­va Nacional de Cobre e Associa­dos, no norte do Pará, que tem reservas de fosfato; e Anitápolis, em Santa Catarina, que também tem o mineral.

NOTA DA PETROBRAS

Em nota, a Petrobras afirmou que o abastecimento do merca­do de uréia fertilizante será feito por importação, “sem prejuízo para as companhias misturado­ras de adubo, e disse que reali­zará investimentos no Porto de Aratu para viabilizar a importa­ção de amônia e o atendimento ao Polo Petroquímico de Cama­çari. Para CO2, há alternativas de suprimento no Polo.

Para o diretor industrial da Carbonor, Ascanio Muniz Pepe, a solução apresentada pela Pe­trobras não é tão simples quanto parece. A empresa é uma das 15 que serão afetadas pelo fecha­mento da Fafen-BA e, atualmen­te, importa 100% do gás carbô­nico utilizado na produção.

“Esse assunto precisa ser deba­tido com mais profundidade, por­que o posicionamento da Fafen foi muito simplista, como se o efeito fosse mínimo, mas não é nem para as empresas nem para as pessoas. Estamos trabalhando para não pa­rarmos nossa produção, temos al­gumas alternativas, mas essa me­dida afeta os negócios”, disse.

O diretor contou que o efei­to dessa medida impacta dire­tamente na produção de algu­mas empresas e pode resultar na redução de postos de trabalho, mas disse que será preciso anali­sar caso a caso. Em relação a Car­bonor, ele disse que os dirigentes ainda vão discutir as mudanças. A empresa também vai solicitar uma reunião com representantes da Fafen-BA nos próximos dias para debater o assunto.

Além da Bahia, a Fafen de Sergipe também será fechada. A Petrobrás informou que o fe­chamento das duas fábricas está previsto para acontecer até o fi­nal dos primeiros semestres des­te ano. Um plano detalhado deve­rá ser divulgado em abril.

Na Bahia, cerca de 700 empre­gos serão afetados por conta da medida. Só no ano passado foram cerca de R$ 200 milhões de pre­juízo na unidade baiana e outros R$ 600 milhões no estado vizinho.

 

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