Proposta de “Ônibus Rosa” é criticada
Diário da Manhã
Publicado em 17 de agosto de 2018 às 00:26 | Atualizado há 3 semanasDepois de quase dois anos tramitando na Câmara Municipal de Goiânia, os vereadores aprovaram na sessão da última quarta-feira o projeto, de autoria do vereador Fábio Zander, que cria uma frota de ônibus exclusiva para atender as mulheres com o principal objetivo de combater o assédio sexual. Batizado de “Ônibus Rosa”, o projeto já foi aprovado em segunda e última votação e seguirá agora para a sanção ou veto do prefeito Iris Rezende.
A aprovação do projeto recebeu críticas de especialistas em transporte e do movimento feminista. A alegação é que a implantação, além de criar um situação ruim para as mulheres que continuarem utilizando o transporte público normal, não resolve o problema do assédio sexual, podendo até piorá-lo com a geração de mais conflitos. Outro questionamento levantado foi a falta de um debate amplo com os diversos setores da sociedade sobre a implementação do projeto.
O projeto estabelece que a porcentagem e horários de veículos para a referida linha serão estabelecidos pela Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos da Região Metropolitana de Goiânia (CDTC -RMTC), não podendo ser inferior a 30% do totalidade da frota. De acordo com a proposta, o serviço será oferecido de segunda a sexta-feira, nos horários de pico: entre 5h e 8h; 11h e 14h e entre às 17h e 20h.
O projeto prevê ainda uma série de outras normas para seu funcionamento, como a proibição da circulação dos “Ônibus Rosa” com passageiros do sexo masculino, com exceção de crianças de até 14 anos, acompanhadas de um responsável. Também os motoristas da frota terão de ser do sexo feminino, dentre outras exigências previstas no projeto com o objetivo de combater o assédio sexual às mulheres no transporte coletivo.
O vereador Fábio Zander alega que o projeto tem alto “alcance social”, que foi implantado na capital paulista e no Estado do Rio de Janeiro, além de cidades europeias como Madri e Roma que teriam adotado este meio de transporte. “É fundamental ao poder público oferecer segurança para as mulheres que andam de ônibus, que são muitas vezes assediadas e desrespeitadas em seus direitos de ir e vir. A Câmara, portanto, dá um importante passo rumo na defesa dos direitos femininos”.
O vereador afirma ainda que o projeto é importante no sentido de proteger as mulheres devido a falta de segurança nos ônibus especialmente nos horários de pico, quando ocorre o tumulto para entrar e, após estar dentro dos ônibus, ter que enfrentar a grande lotação que é geralmente quando ocorre o assédio. “São nesses horários que são praticadas as violências de toda ordem, psicológica, moral e sexual. Ofensas claras à dignidade, decoro e intimidade de uma mulher”, disse em defesa do projeto após a matéria ser aprovada em segunda votação na Câmara Municipal de Goiânia.
CRÍTICAS
O especialista em trânsito Antenor Pinheiro, gestor de mobilidade urbana, vê de forma de diferente e faz críticas à aprovação do projeto. Ele afirma, ao contrário do vereador, que a implantação do sistema não deu certo em lugar nenhum onde tentou ser implementado. Diz ainda que não é desta forma, segregando as mulheres, que vamos resolver o problema do assédio sexual.
“Na verdade falta informação ao vereador e à Câmara Municipal de Goiânia que aprovou esta matéria absurda. Faltou também um debate maior em torno do assunto. Esta matéria é vencida onde houve a tentativa de implantá-la como em São Paulo, no Rio, Curitiba e em países da Europa. Assédio não se combate com segregação da mulher. O que é preciso é fazer políticas públicas. Além disso a implantação do projeto é impraticável financeiramente, já que terá um aumento de custo em torno de 20% em um sistema de transporte que já enfrenta grandes dificuldades de operação. É tecnicamente inviável a implantação do projeto”, afirma Antenor.
A advogada Sara Macêdo, integrante da Frente Autônoma Feminista, também faz duras críticas ao projeto do vereador Zander Campos aprovado na Câmara Municipal de Goiânia. “Não é uma postura muito pedagógica segregar as mulheres. As pessoas têm que entender que o comportamento dos homens é que tem que mudar em relação à mulher e não isolá-las para que esta situação criminosa não ocorra. É uma medida paliativa que não resolve o problema. Não acredito na viabilidade do projeto até porque temos um sistema de transporte público caótico na nossa capital. Não se combate o assédio sexual desta forma”, diz.
Sara Macêdo também afirma que a informação do vereador é equivocada quando diz que o projeto deu certo em outras cidades, Estados e países. “Na Índia, por exemplo, tem um vídeo na internet que mostra muita violência e barbaridades cometidas inclusive contra homens que se aproximam do metrô rosa implantado com o mesmo objetivo, uma verdadeira barbárie social. Em países da Europa, as próprias mulheres barraram o projeto, não deixando este ser implementado por acreditar que iria gerar mais violência e por não acreditar que a segregação das mulheres é um caminho para coibir o assédio sexual. Em Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba, o projeto também foi vetado com o apoio das mulheres”.
Da mesma forma que o especialista em mobilidade urbana Antenor Pinheiro, que acha a aprovação do projeto na Câmara Municipal de Goiânia uma grande perda de tempo, uma grande bobagem, a advogada e integrante da Frente Autônoma Feminista, Sara Macêdo, também tem o mesmo pensamento e não acredita que o projeto será sancionado e implantado, até porque, segundo ela, faltou debate sobre o assunto e o projeto foi construído por um grupo conservador que não tem a mínima relação com a luta das mulheres.
Não é uma postura muito pedagógica segregar as mulheres. As pessoas têm que entender que o comportamento dos homens é que tem que mudar em relação à mulher e não isolá-las para que o assédio não ocorra” Sara Macêdo, advogada Além de absurdo, é tecnicamente inviável a implantação do projeto, não se combate assédio com segregação da mulher” Antenor Pinheiro, especialista de trânsito
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