Salve-se quem puder
Diário da Manhã
Publicado em 27 de março de 2016 às 22:14 | Atualizado há 2 semanasOcorrências de furtos e roubos a usuários do transporte coletivo, na Capital, dentro dos ônibus, terminais e pontos de espera têm levado as vítimas ao pânico e a atitudes desesperadas como a ocorrida no dia 17 de março, deste mês, em que um estudante de apenas 15 anos reagiu a assalto e acabou matando o assaltante.
O caso ocorreu dentro do ônibus do eixo Anhanguera, que faz a ligação intermunicipal de Goiânia e Trindade, no Jardim Clarisse. Após o agressor dar voz de assalto e roubar uma corrente e celular do adolescente, o menor teria tomado a arma do próprio bandido e o atingiu com golpes de canivete. O assaltante, agora vítima, tentou fugir, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
“O sentimento de impotência é imenso. Não temos mais a liberdade de sair a qualquer hora do dia tranquilamente” define a psicóloga Dábyla Ferreira Martins, 24 anos, sobre a sensação de insegurança que sente ao usar o transporte coletivo em Goiânia. Ela que mês passado foi vítima de um arrastão dentro do ônibus que usa com frequência para ir ao trabalho relata os mementos difíceis que passou sob o controle dos bandidos.
A psicóloga recorda que estava voltando do trabalho, na linha 020, rota: Terminal Isidória a Terminal Praça da Bíblia, quando cinco rapazes entraram no ônibus, pagaram a passagem e para surpresa de todos, deram voz de assalto. “Estavam armados com faca e revólver. Fizeram arrastão em todo o ônibus, levaram mochilas, bolsas, carteiras, celulares e dinheiro, no meu caso, R$ 70,00” descreve.
Perplexa com a ousadia dos criminosos Dábyla ressalta o grau de indiferença praticado pelos agressores ao abordarem as vítimas no ônibus, como se humanos não fossem os passageiros. “Eles chegaram a fazer um corte no braço de um rapaz ao meu lado e borrifaram perfume no rosto de uma mulher”, expõe resoluta a ação do grupo.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) os crimes ocorreram, majoritariamente, no Eixo Anhanguera, principal corredor do sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia. Dados da 1ª Delegacia Regional de Polícia de Goiânia revelam que em 2015 foram registradas 2.760 ocorrências de furtos e roubos, só no Eixo Anhanguera.
Mas, é sabido que a realidade pode ser pior, uma vez que muitas vítimas deixam de registrar o boletim de ocorrência, desacreditadas que a justiça possa, de fato, fazer alguma coisa para lhes reaver os bens perdidos. Conforme análise da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO), parte considerável dos furtos e roubos ocorre durante o embarque dos passageiros nos veículos e durante o tempo de espera nas plataformas dos terminais e nos pontos de espera.
Contudo, a PM adverte que um dos fatores que torna os usuários mais vulneráveis à ação dos bandidos é, na grande maioria, a falta de atenção por parte do passageiro que acabam exibindo objetos de valor como o uso de fones de ouvido e celulares, sem se atentarem para o risco que correm.
Liberdade negada
A vendedora, Edivânia Rodrigues, 36 anos, usava fone de ouvido, ao entrar no ônibus, quando, de repente, em meio à confusão de pessoas tentando entrar no coletivo, todas ao mesmo tempo, tudo silenciou. “Assim que o ônibus chegou, ao tentar entrar, em meio ao tumulto, percebi que o celular havia parado de tocar ao colocar a mão no bolso notei que havia sido roubada. Imediatamente gritei denunciando o roubo”, diz.
Passageiros sensibilizados com a situação da vendedora ofereceram lhe um celular para acionar a polícia, ela o fez, mas recorda. “Liguei, porém acabei desistindo de registrar o boletim de ocorrência porque considerei que a polícia dificultou o procedimento”, declara. “Já fui roubada três vezes, sinto-me uma pessoa muito frustrada, desacreditada, desamparada em relação à segurança. Não acredito mais em melhora nenhuma é daí para pior. Estão sambando na nossa cara” desabafa.
Megaron Luz Lima não esquece a frieza do olhar dos agressores, ele e quatro amigos saiam do Terminal Bandeiras, no ônibus linha 003 quando quatro indivíduos os abordaram. “Fomos roubados no Terminal Bandeiras, Setor Sudoeste, os elementos nos ameaçaram caso não entregássemos nossos pertences iria esfaquear a gente”, narra.
Gabriel da Silva, 18 anos, estava no ponto de espera de ônibus, no Jardim Alto Paraíso, em Aparecida de Goiânia, quando os assaltantes chegaram e deram voz de assalto. “Eles se mostraram bastante agressivos, estava indo trabalhar faço a mesma rota todos os dias e não tenho como mudar essa realidade, minha vida está aqui”, lamenta por se considerar sem saída, no que se refere à violência presente no bairro onde mora.
Privado e público
O Eixo Anhanguera tem 14 quilômetros de extensão, com 19 plataformas de embarque e cinco terminais. Com o objetivo de tentar reduzir o índice de furtos e roubos nos terminais de ônibus do eixo Anhanguera a Polícia Militar (PM) lançou em 2015 uma operação em que viaturas foram distribuídas ao longo do eixo para atender as ocorrências nos terminais do Novo Mundo, Praça da Bíblia, Praça A, Dergo e Padre Pelágio.
De acordo com informações da assessoria de comunicação do Consórcio da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo de Goiânia (Rmtc) no dia 1º de fevereiro deste ano, o Consórcio Rmtc assinou contrato com a Metrobus e passou a gerir os terminais e plataformas do Eixo Anhanguera. Até então, informou o órgão, que a maior incidência de crimes antes do contrato era registrada no Terminal Padre Pelágio. “Vigilantes já estão trabalhando nesses locais e a instalação de câmeras está em andamento”, confirmou.
O órgão informou que desde 2009 o Consórcio Rmtc tem tomado ações em prol da segurança dos clientes. Ressaltou que nos terminais geridos pelo consórcio existem hoje câmeras de segurança e vigilantes. Acrescenta que em projeto piloto, os ônibus já começaram a ser equipados com câmeras, sendo que 230 já contam com os dispositivos.
“Dezenas de controladores de segurança trabalham analisando as imagens em tempo real 24h por dia, 7 dias na semana. Estes terminais são controlados pela Central de Segurança de Transportes do Consórcio integrada ao Centro Integrado de Inteligência Controle e Comando (CIICC) da Secretaria de Segurança Pública (SSP). No total, são 1.312 câmeras nos terminais, ônibus, pontos de apoio e garagens. O cliente pode fazer denúncias pelo Whatsapp através do número 8591 8952”, esclarece a assessoria.
Informaram ainda que circulam hoje por Goiânia e região metropolitana cerca de 1.500 veículos (ônibus). Observando que a parceria com a SSP – GO foi iniciada de forma experimental em março de 2014 e, até janeiro deste ano, já recebeu e encaminhou à autoridade policial cerca de 4.800 denúncias que resultaram em mais de 200 detenções.
“Em 2015, mais de 80% das ocorrências foram atendidas. As denúncias são recebidas pelo posto do Consórcio Rmtc dentro do Centro Integrado de Inteligência, Comando e Controle da Secretaria da Segurança Pública (CIICC). Em seguida são analisadas a partir de um sistema pioneiro no Brasil de localização GPRS e vigilância eletrônica dos ônibus e terminais em tempo real. Depois de filtrar as informações e, se for o caso, o posto solicita rapidamente ao Comando de Operações da Polícia Militar (Copom) o apoio da viatura mais próxima ao local da ocorrência”.
Medo constante
Goianos opinam sobre o que pode ser feito pra combater a criminalidade em Goiânia. Na opinião da psicóloga Dábyla Ferreira Martins, para combater a criminalidade é preciso mais policiamento em toda a cidade, em todos os horários. “A justiça é muito falha, bandidos sabem que não serão presos e se forem, logo serão soltos. Falta educação apropriada, educação e acompanhamento assertivo principalmente quando se trata de jovens/menores” define.
No que refere à percepção que tem sobre o grau de insegurança, em Goiânia Dábyla se mostrou muito preocupada. “Segurança significa não ser refém da violência. Ter a liberdade de sair nas ruas sem medo. Para representar o grau de insegurança em Goiânia minha nota e dez. Muitos podem achar exagerado. Mas o sentimento de impotência é imenso”, avalia.
Megaron Luz Lima também é enfático ao pontuar que a segurança em Goiânia anda muito precária e se tivesse que dar uma nota para representar o grau de insegurança na capital à nota seria “dez”. “Segurança é você poder andar nas ruas sem preocupação, para que ela exista é necessário mais ações do governo na prevenção a jovens entrar na criminalidade. Como cidadão sugiro mais policiamento nas áreas com maior propensão a assaltos, maior número de policiais e mais facilidade em fazer denúncias”, evidencia.
Os maiores alvos de furtos e roubos nos terminais são aparelhos celulares, carteiras e bolsas, a vendedora, Edivânia Rodrigues acredita que para haver mudanças, não só em Goiânia como em todo o estado, é preciso investir em segurança nos terminais de ônibus. “Depois de ser roubada três vezes aprendi que não posso usá-lo dentro do ônibus ou enquanto estou na rua. Hoje em dia está assim, você tem as coisas, mas não pode usufruir mostrar dependendo lugar que estiver”, conclui.
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