Torcida de colégio privado provoca alunos de instituição federal: “Sua mãe é empregada da minha”
Diário da Manhã
Publicado em 9 de novembro de 2017 às 19:57 | Atualizado há 7 anosFoto: Hudson Silva/ IFRN Natal
Uma partida de basquete entre o Colégio Marista de Natal e o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) causou polêmica nas redes sociais. Isso porque ao término do jogo, alguns alunos da escola privada gritaram aos rivais ofensas como: “Sua mãe é minha empregada.”
O Grêmio Estudantil Djalma Maranhão, do IFRN, se pronunciou sobre o assunto por meio de nota.
“Durante a final do basquete juvenil masculino dos JERNs entre IFRN-CNAT e Marista, tivemos o desprazer de vivenciar no ginásio de nossa escola um lamentável episódio de disseminação do discurso de ódio manifestado pela torcida da equipe visitante. (…) Esses foram alguns dos cânticos de cunho misógino e discriminatório entoados pela torcida do Marista — uma afronta ao que está posto em nossa Constituição e, sobretudo, aos Direitos Humanos”, diz um trecho.
Em comunicado público, o Colégio Marista garantiu que a atitude dos estudantes “não comungam com a proposta pedagógica e evangelizadora da instituição, nem representam os estudantes, professores e colaboradores deste Colégio”.
Após as polêmicas, o IFRN recebeu o diretor da escola privada, José de Assis Elias de Britos e da vice-diretora pedagógica, Ilcemara Cavalcante. Um novo jogo amistoso foi combinado entre equipes para o dia 18 de novembro.
“Trabalhamos focados em resolver conflitos a partir do diálogo, isso tem que prevalecer em qualquer situação. A gente tem um projeto pedagógico que busca o diálogo. O que o diretor fez foi abrir esse canal, o que também foi uma ação do outro diretor. Não existe disputa institucional”, comentou a diretora substituta do Campus Natal-Central do IFRN, Lusimar Barbalho da Silva.
No site da instituição federal, o diretor geral do Campus Natal-Central do IFRN, José Arnóbio de Araújo Filho, também repudiou os acontecimentos dentro e fora de campo.
NOTA NA ÍNTEGRA DO GRÊMIO ESTUDANTIL DJALMA MARANHÃO
Ontem (31/10), durante a final do basquete juvenil masculino dos JERNs entre IFRN-CNAT e Marista, tivemos o desprazer de vivenciar no ginásio de nossa escola um lamentável episódio de disseminação do discurso de ódio manifestado pela torcida da equipe visitante.
“1, 2, 3, 4, 5 mil. Queremos Bolsonaro presidente do Brasil”, “O meu pai come a sua mãe” e “Sua mãe é minha empregada” (essa última sendo usada de forma pejorativa, ao nosso ver, com intuito de desmerecer a profissão de inúmeras mulheres brasileiras) foram alguns dos cânticos de cunho misógino e discriminatório entoados pela torcida do Marista – uma afronta ao que está posto em nossa Constituição e, sobretudo, aos Direitos Humanos.
Momentos como esse revelam um pouco das intenções políticas de, infelizmente, boa parcela da sociedade brasileira: de levar a presidência um deputado extremamente machista, LGBTfóbico, racista e defensor de um dos períodos mais sombrios da História do Brasil, os “Anos de Chumbo” da Ditadura Civil-Militar (1964-1985); de reverter direitos conquistados com muito empenho e suor pelas minorias e camadas desfavorecidas social e economicamente ao longo dos anos; e, em especial, de cercear as nossas liberdades individuais e coletivas.
Além disso, é bastante triste ver que, mesmo com toda a ascensão da luta dos movimentos sociais por um país livre de qualquer opressão, mais justo e digno para toda a população, ainda há uma juventude que não reconhece esse avanço e propaga ideais tão intolerantes e hostis.
Acreditamos que pensamentos, tais quais os manifestados na tarde de ontem, vão totalmente de encontro aos valores de tolerância, inclusão e cidadania fomentados pelas diversas práticas esportivas e não compactuam nem um pouco com os princípios pregados por uma Instituição de Ensino como o Marista.
Por fim, apesar desses insultos, que tem por fito discriminar e oprimir, não serem tão incomuns, cremos sim na possibilidade de um mundo melhor, pois já dizia Paulo Freire: “mudar é difícil, mas é possível”.
NOTA NA ÍNTEGRA DO DIRETOR-GERAL DO CAMPUS NATAL-CENTRAL
No dia 01 de novembro deste ano, após a realização da partida final de Basquetebol masculino, entre o IFRN e o Colégio Marista, tem circulado na internet uma postagem proveniente da torcida adversária, que classifica o Campus Natal-Central do IFRN como “um antro de ódio e intolerância”. Diante desse fato e da oportunidade do contraditório, a Direção do Campus Natal-Central emite alguns esclarecimentos.
Em primeiro lugar, o IFRN possui um canal direto com a comunidade, que é a Ouvidoria, a qual poderia acolher essa denúncia e apurar todos os fatos, sem a necessidade de exposição de duas Instituições reconhecidamente sérias e comprometidas com a formação ética e humana do estudante para além dos aspectos meramente instrumentais. A exposição em redes sociais gera uma polarização, um acirramento de ânimos e disputas que não condizem com a função social das instituições de ensino referidas.
Em segundo lugar, o texto postado na rede social traz à tona apenas uma versão dos fatos, visto que acompanhei presencialmente a metade do jogo e, além disso, conversei com diversos alunos, professores e técnicos administrativos da instituição para apurar o que tinha ocorrido, e o que identifiquei foram alguns excessos de parte das torcidas, tanto do Campus Natal-Central do IFRN, quanto da Escola Marista de Natal, atitudes inaceitáveis, que não se coadunam com a filosofia do esporte, tampouco com os princípios educativos voltados para uma formação humana integral, preconizados por estas instituições.
Em terceiro lugar, imputar ao IFRN a característica de ódio e intolerância é ignorar – ou não reconhecer – os pressupostos que fundamentam esta instituição de ensino, marcada pela diversidade cultural advindas da heterogeneidade do seu público alvo.
Ressalto ainda o excelente comportamento dos atletas em quadra que, além de um bom nível técnico, demostraram muito respeito com as torcidas, com os adversários e com os árbitros, validando a extrema competência dos profissionais envolvidos, tendo proporcionado um bom espetáculo desportivo, que resultou em uma comemoração sem incidentes, agressões ou insultos após o final do jogo, o que contradiz a pecha de ódio e intolerância dos nossos alunos e alunas, visto que 80% da torcida presente no ginásio era constituída por alunos e alunas de todo o Instituto Federal e não só do Campus Natal-Central.
Acrescento ainda que os jogos da amizade de algumas escolas particulares do RN, CE, PE e PB aconteceram nas dependências do Campus Natal-Central, pois entendemos que este é um espaço público, que precisa ser socializado com toda a sociedade e, em nenhum momento, ocorreu hostilização por parte de nossos alunos.
Por último, espero que as concepções ideológicas que tanto têm feito mal ao país não contaminem os corações e mentes dos nossos jovens, nesses tempos em que a exposição demasiada nas redes sociais e a judicialização de processos têm dado a tônica, substituindo o diálogo, que é a maior lição que podemos legar aos nossos jovens.
E, por fim, que possamos lutar sempre por uma sociedade mais inclusiva, mais tolerante, com mais amor e respeito ao próximo, independente da condição socioeconômica, ideológica ou de gênero.
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