Cotidiano

Uma nação de inadimplentes

Diário da Manhã

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 00:18 | Atualizado há 7 anos

O cartão de crédito pode ser um aliado dos consumi­dores que não podem pa­gar por um bem à vista, mas depen­dendo do seu uso também pode provocar desequilíbrios financei­ros. Dados do Indicador de Uso do Crédito apurados pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacio­nal de Dirigentes Lojistas) revelam que, em cada dez usuários de car­tões de crédito, três (28%) não pa­garam a fatura integral no último mês de dezembro, sendo que 15% entraram no crédito rotativo. Os en­trevistados que pagaram a fatura cheia somam 68% da amostra e 3% não quiseram responder.

Os juros cobrados pelos bancos quando o cliente não paga o valor integral da fatura do cartão de cré­dito são altos e chegam a 335% ao ano, em média, segundo dados ofi­ciais do Banco Central.

De acordo com o levantamento, no último mês de dezembro, 46% dos brasileiros recorreram a alguma modalidade de crédito, sendo que o cartão de crédito foi o mais comum, com 37% de menções. Em segui­da, aparecem o crediário ou carnê, com 17% de utilização, cheque es­pecial (9%), empréstimos (9%) e fi­nanciamentos (8%). Os que não se utilizaram de nenhuma modalida­de somam 54% dos consumidores.

Por conta do período de fes­tas, que tradicionalmente aquece as vendas nos últimos meses do ano, o Indicador de Uso do Cré­dito alcançou o maior valor des­de janeiro de 2017, início da série histórica. Em dezembro, o índice ficou em 31,0 pontos, em uma es­cala que varia de zero a 100, sendo que quanto mais alto, mais eleva­do também é a utilização de mo­dalidades de crédito. O resultado ficou bem acima do observado em novembro, quando o indica­dor marcou 23,7 pontos.

Segundo o levantamento do SPC Brasil, considerando os brasileiros que utilizaram cartão de crédito em dezembro, 44% notaram aumento do valor da fatura, enquanto 20% re­duziram os gastos no cartão e 29% veem estabilidade. Na média, a fatu­ra dos usuários chegou a R$ 966,32.

A pesquisa ainda mostra que o uso do cartão já não se limita a compra de itens de alto valor, que geralmente precisam ser parcela­dos. As despesas correntes de todo mês também são feitas a crédito. As compras de supermercado fo­ram o tipo de aquisição mais rea­lizada no cartão, citadas por 56%. Em seguida, estão as peças de ves­tuário e acessórios (45%), remé­dios (39%) e combustível (34%).

A avaliação do grau de dificul­dade para conseguir aprovação em empréstimos e financiamen­tos mostrou que 54% dos consu­midores dizem considerar difícil ou muito difícil a contratação do servi­ço, enquanto para 20% não é nem fácil nem difícil, e para 10%, fácil.

Considerando apenas aqueles que tentaram fazer alguma com­pra parcelada, 21% tiveram o crédi­to negado, sendo o motivo principal a insuficiência ou falta de compro­vação da renda, citada por 9%. Além de inadimplência, que fez com que 5% desses entrevistados não conse­guissem contratar financiamentos ou parcelar suas compras.

A economista-chefe do SPC Bra­sil, Marcela Kawauti, também avalia que cabe também aos consumido­res analisar a real necessidade de se endividar. “Em muitos casos, o con­sumidor tem o crédito aprovado e faz escolhas com as quais, depois, não consegue arcar, comprome­tendo o orçamento por longo pe­ríodo de tempo. Então, antes de to­mar essa decisão, é preciso avaliar as condições de prazo, juro. Cabe ava­liar ainda se as parcelas não com­prometerão o pagamento de outras despesas e a reserva financeira, que também deve ser vista como um compromisso”, afirma.

A pesquisa abrangeu 12 capitais das cinco regiões brasileira, a saber: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Hori­zonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiâ­nia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamen­te 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com ida­de superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as clas­ses sociais. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.

 

]]>

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias