Cultura

Arte decorativa

Diário da Manhã

Publicado em 4 de abril de 2017 às 02:46 | Atualizado há 2 semanas

Ao longo de toda uma vida, me deparei com elaboradas construções visuais e com uma profunda execução não visual que perpassa o âmbito político e atinge o mais profundo abismo que há dentro de alguns artistas de séculos passados – da extensa produção de Monet, Manet, Bazille, Degas, Cézanne, Delacroix, Goya, Bosch entre outros.

O fato é, por qual motivo a arte feita no Brasil atualmente e na cidade de Goiânia, em sua grande parte, se tornou objeto decorativo de clínicas psiquiátricas, odontológicas e de todo universo enfadonho que há nessas estruturas medonhas para simplesmente esconder o cinza das paredes e dos pacientes. Por que a maioria dos artista de hoje não conseguem estabelecer uma profundidade que ultrapasse a simples ilustração, a obviedade da composição entre diâmetro e cores?

Seria todo potencial artístico, todo fervor próprio da arte, direcionado apenas para compor um vazio na parede? Acredito que um simples vaso de plantas ocuparia com maestria tal buraco naquele espaço.

Mas o que esperar do traço crítico da multidão, nosso sistema de estrutura cultural alcança no máximo uma reprise de uma série norte americana mal elaborada. E os artistas, os donos do conhecimento prático e intelectual, sucumbiram a meras ilustrações em sequência, um colorido que vai salvar todas as clínicas esmaecidas de Goiânia e de todo território nacional? O pior de tudo é ver, no saguão do aeroporto de Guarulhos na cidade de São Paulo, uma imensa tela do maior ilustrador de clínicas psiquiátricas do mundo, o senhor Romero Britto – acho deprimente ver a imagem que o país transmite para os visitantes de fora, em termos de artes plásticas, obviamente. Os pintores tornaram-se decoradores mesquinhos, na sua grande maioria não por consideração ou paixão pela arte, mas por vício e vaidade – em nome de pretensos ecos da arte do passado.

Em relação a visão da massa, sabem apenas dizer se algo é feio ou bonito, não tem uma percepção de composição ou de intenção, mesmo porque a arte se trata de algo elitista. Na verdade não, com a possibilidade de adventos tecnológicos a maioria das pessoas podem ter acesso a história da arte, museus online e várias outras informações que abrange o mundo da arte, o que falta na verdade é informação, conteúdo que direcione ou até mesmo interesse por parte do imenso aglomerado de pessoas.

Compartilho da opinião de Émile Zola, ‘Une nouvelle manière en peinture: Édouard Manet’ publicado em Paris em 1º de janeiro de 1867, Zola publica uma pesada crítica aos artistas da época. No texto diz: “Com admiração e simpatia, iríamos direto a telas livres e estranhas, e as estudaríamos com calma e atenção para ver se uma face do gênio humano acabou de se revelar nelas. Passaríamos desdenhosamente diante das cópias, do balbuciar das falsas personalidades, daquelas imagens de um ou dois tostões, fruto apenas da habilidade das mãos. Gostaríamos de encontrar numa obra de arte antes de tudo uma presença humana, um recanto vivo da criação, uma nova manifestação da humanidade confrontada com a realidade da natureza”.

 

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