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Diário da Manhã

Publicado em 21 de março de 2017 às 01:48 | Atualizado há 1 semana

Cineasta, crítico de cinema, jornalista, roteirista e professor. Éric Rohmer é um dos nomes mais influentes do cinema francês do século XX. Foi o último dos diretores pós Segunda Guerra Mundial da chamada novelle vague (ou “new wave”–grupo de cineastas franceses das décadas de 1950 e 1970 que faziam filmes com narrativas experimentais) a estabelecer-se no cenário cultural europeu. Rohmer também era editor de um jornal influente do meio cinematográfico, o Cahiers du cinéma, quando a maioria de seus colegas (incluindo Jean-Luc Godard e François Truffaut), começaram um período de transição de críticos de cinema para diretores e passaram a ganhar grande atenção internacional.

A carreira de Rohmer passou a ser mais visada por volta de 1969, quando seu filme Minha noite com ela foi indicado ao Oscar. Ele também venceu o Festival Internacional de San Sebastián com o filme O joelho de Claire em 1971, além do Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza com o filme O raio verde em 1986. Depois de sua morte, em 2010, seu obituário no The Daily Telegraph (tradicional periódico britânico fundado em 1855) descreveu o diretor como “o mais durável cineasta da novelle vague”, que “continuou fazendo filmes que o público sente vontade de ver” mesmo 50 anos depois da explosão e ápice do movimento. Ele nasceu em Tulle, no centro-sul da França, no dia 21 de março de 1920, exatamente 97 anos atrás.

Em 1950 Rohmer dirigiu seu primeiro curta-metragem em película de 16mm: Journal d’un scélérat. O filme estrelou o escritor Paul Gégauff e foi feito com uma câmera emprestada. Em 1951, munido de um orçamento maior providenciado por amigos, filmou outro curta em 35mm: Présentacion ou Charlotte et son steak. O filme, de 12 minutos de duração, foi co-escrito e estrelado por Jean-Luc Godard, hoje um dos cineastas vivos mais respeitados da frança, diretor de Acossado e O demônio das onze horas. Esse projeto só foi finalizado em 1961, dez anos depois. Sua carreira começou a ganhar maior reconhecimento com uma série de filmes chamada Six Moral Tales (Seis contos morais), inspirado pelo clássico Aurora, filme mudo de 1927.

 

Contos morais

Entre os filmes desta série estão seus trabalhos mais famosos. O quarto “conto moral”, Minha noite com ela, foi rodado com dinheiro levantado por François Truffaut (diretor de Os Incompreendidos), que gostou do roteiro. Foi o primeiro sucesso comercial de Rohmer, e ganhou exibição no Festival de Cannes de 1969, além de indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O quinto conto, O joelho de Claire, filmado em 1970, também teve vários prêmios e foi definido por Vincent Canby, crítico do The New York Times, como “um filme próximo da perfeição”. Foi o segundo filme de Rohmer rodado em cores. Segundo o diretor, “A presença do lago e das montanhas é mais forte em cores do que em preto-e-branco. A cor verde é essencial no filme, não consigo imaginá-lo em preto-e-branco”.

 

Comédias e provérbios

Nos anos 1980, Rohmer embarcou em sua segunda série de filmes, chamada Comédias e Proverbios, onde cada obra era baseada em um provérbio popular. O primeiro filme dessa série foi The Aviator’s Wife, baseado em uma idéia que Rohmer teve ainda nos anos 1940. O filme foi seguido por Um casamento perfeito (1981). Na época, ele declarou: “o que me interessa é mostrar como a imaginação de alguém funciona. O fato de que a obsessão pode substituir a realidade”. O terceiro filme da série, e também o mais conhecido, Pauline na praia (1983), venceu o Urso de Ouro (Prêmio de Melhor Diretor) no Festival Internacional de Berlim, e também foi contemplado com o prêmio de melhor roteiro pelo Boston Society of Film Critics and Awards.

Os filmes de Rohmer se concentram-se em protagonistas inteligentes e articulados, que frequentemente falham em satisfazer seus desejos. O contraste entre o que eles dizem e o que eles fazem abastece grande parte do drama dos filmes. O crítico Gerard Legrand uma vez disse: “ele é um cineasta raro que está sempre convidando o espectador para ser inteligente, mais do que seus personagens”. O diretor povoava seus filmes com pessoas por volta dos vinte anos. Boa parte de suas obras emergem num ambiente de luz do sol, céu azul, grama verde, areia da praia e águas límpidas. Ele explicava: “Me perguntam por que a maioria dos meus personagens são jovens. Eu não me sinto à vontade com pessoas mais velhas. Não consigo fazer alguém de 40 anos soar convincente”.

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