Loucas por loucos
Diário da Manhã
Publicado em 11 de agosto de 2016 às 03:40 | Atualizado há 2 semanasO que leva uma mulher de boa instrução, estabilidade financeira e bem relacionada a realizar vigílias ao redor de tribunais, ceder entrevistas a veículos de comunicação prestando apoio e declarando seu amor por homens presos, acusados de crimes que envolvem muita violência. É algo semelhante à Síndrome de Estocolmo, onde a vítima passa a desenvolver empatia para com seu agressor, após longos períodos em que fora agredida por ele. Um exemplo da Síndrome de Estocolmo que tivemos na televisão brasileira foi na novela “A Regra do Jogo”, onde a personagem Kiki, interpretada por Deborah Evelyn, se apaixona por Zé Maria (Tony Ramos), seu carcereiro, que a manteve presa por mais de uma década. A vítima fictícia se apaixonou por seu algoz, tendo inclusive uma filha, fruto do relacionamento amoroso ocorrido no cárcere.
Mas aqui, falamos de mulheres que jamais tiveram contato com o acusado, mulheres que nunca foram tocadas ou ameaçadas por eles. Como explicar esse amor platônico que elas desenvolvem por serial killers famosos? Não é só a beleza física dos acusados, algo de mais peculiar e íntimo esta ligado a esta atração, um tanto quanto espantosa. Vejamos o caso do famosíssimo “Maníaco do Parque”, que de bonito não tinha nada, porém, apenas em seu primeiro mês na prisão, recebeu mais de mil cartas de mulheres que se diziam apaixonadas por ele, que gostariam de cuidar do psicopata e até mesmo constituir família com ele. “Não precisas me dizer nada, eu confio cegamente, irrestritamente em ti. Nós dois somos uma só pessoa, uma só alma, um só amor”, a frase anterior fora retirada de uma das milhares de cartas recebidas por Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque. Em 2002, Francisco casou-se com uma mulher chamada Marisa Mendez Levy, de cerca de sessenta anos, que conhecera através das cartas que recebia. Segundo ele, a esposa é graduada em História, de origem judaica e oriunda da classe média. Bruna Moreno de Miranda revelou que elas e suas colegas que atuam no caso de Thiago Gomes da Rocha, o “serial killer de Goiânia”, recebem e-mails e mensagens via WhatSapp de mulheres querendo saber como proceder para terem um encontro com o acusado.
Charles Manson também é um psicopata de sangue frio. Ficou famoso por ter assassinado a facadas a atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski. Sharon Tate estava no oitavo mês de gestação. Condenado a prisão perpétua nos anos de 1970, Charles Manson conseguiu licença para se casar com uma jovem de 26 anos, que se diz apaixonada pelo assassino desde sua adolescência. A namorada de Charles Manson, Afton Elaine Burton, mais conhecida como “Star”, planejava se casar com o criminoso para expor seu corpo em um caixão de vidro após a sua morte.
Jornais irlandeses publicaram recentemente uma nota em que afirmavam que o serial killer irlandês Mark Nash estava de coração partido. Isso porque uma de suas admiradoras, com quem mantinha um relacionamento através das grades e que Mark a chamava de “minha esposa”, simplesmente parou de visitá-lo. Mark Nash foi levado ao hospital após uma severa greve de fome, em protesto à ausência de sua amada.
Sondra London,a rainha dos assassinos em série
A adolescente Sondra London teve um relacionamento estável com seu namorado Gerard Schaefer, jovem este que se tornaria um famoso serial killer e escritor. Condenado por dois assassinatos e suspeito de mais 34 outros crimes, Schaefer confessou o assassinato de uma lista entre 80 e 110 mulheres, num período de oito anos, na década de 1970. Schaefer publicou um livro chamado “Killer Fiction”, onde muitos acreditam ser baseado em assassinatos reais. Para a concretização da obra, London foi sua principal auxiliar nesta tarefa, levando-o para revisitar o local de alguns de seus crimes.
Após vinte anos de muito amor (fotos disponíveis na internet comprovam o “bom” relacionamento do casal), London abandonou Schaefer para se relacionar com outro criminoso, Danny Rolling, “O Carniceiro de Gainesville”. Pode-se afirmar que, apesar de Schaefer ter sido o primeiro grande amor de Sondra London, o ápice de sua “louca paixão” por criminosos perigosos foi em 1994, no julgamento de Danny Rolling, quando o acusado, no momento em que deveria falar em juízo, aproveitou a oportunidade para cantar, literalmente, para London. Afinal, qual mulher não sonharia com uma serenata de amor? Dentro de um tribunal, vindo de um terrível assassino, nem tanto. O casal se conheceu em 1992 e anunciou o noivado em 1993. London também escreveu um livro, “Making of a Serial Killer”, em parceria com seu novo amor, Danny.
No livro, eles relatam que Danny Rolling se sentia possuído por uma entidade malígna, a qual chamavam “Gemini”, mas que logo virou motivo de piada quando, no tribunal, relacionaram tal história com clássicos do terror, como O Exorcista III. O final deste pseudoconto de fadas não teve um final feliz, já que a Justiça do Estado americano da Flórida impediu que Sondra London e Danny Rolling se casassem. O ponto final deu-se em 2006, quando Rolling foi executado.
Visão de especialistas
Veja no quadro a seguir algumas das explicações de psicanalistas para esta estranha atração que mulheres sentem por homens violentos, ressaltando que o que menos importa para as mesmas nesse quesito é a beleza.
- Fantasia de resgate: as admiradoras de serial killers querem acreditar que elas têm a habilidade de mudar alguém tão cruel e poderoso quanto um assassino em série;
- Necessidade de criação: muitas mulheres dizer ver uma criança nesses assassinos e sentem um desejo enorme de criar e proteger essa parte deles;
- O namorado perfeito: ela sabe onde ele está (cadeia), e ao mesmo tempo em que ela pode dizer aos outros que existe alguém que a ama, ela não tem que passar pelos estresses diários intrínsecos à maioria dos relacionamentos; ela pode manter essa fantasia amorosa por bastante tempo;
- Necessidade de drama: durante o julgamento, os eventos e os acontecimentos diários na vida dos serial killers pode atrair mulheres que gostam de uma atmosfera contraditória, com a possibilidade de que algo surpreendente possa acontecer;
- Hibristofilia: algumas pessoas ficam excitadas sexualmente por outros que cometem violência;
- Exclusividade: existe um verdadeiro sentimento de apropriação sobre determinado serial killer – que de alguma forma é especial – entre aquelas que se sentem intimamente associadas a ele;
- Recuperar o “macho perdido”: mulheres que foram abusadas, negligenciadas ou que cresceram sem a figura paterna buscam no assassino essa necessidade;
- Fantasias vicárias: algumas mulheres desejam viver além de seus pensamentos de violência através de uma pessoa que realmente poderia machucá-la;
- Baixa autoestima: algumas mulheres acreditam que não podem encantar um homem e, tendo em vista que prisioneiros são sozinhos e desesperados, acaba sendo uma maneira fácil de se envolver;
- Atenção: quando elas se envolvem com assassinos, pessoas começam a falar sobre elas, e até mesmo ficam famosas, saindo em reportagens da mídia;
- Eminência: de ninguém, elas se transformam em alguém;
- A chance de mostrar o seu valor: elas se voltam contra o mundo numa acalorada discussão a favor do amado;
- Síndrome da Bela e a Fera: elas gostam da ideia de estarem tão perto de um perigo que provavelmente não iria machucá-las, mas sempre há uma chance – a emoção de estar no fio da navalha.
*fonte: O Aprendiz Verde
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