Memória religiosa na Cidade de Goiás
Redação
Publicado em 4 de junho de 2017 às 02:00 | Atualizado há 1 semanaDois excelentes livros, ambos escritos a seis mãos, contribuem e muito para contar a especial memória religiosa na Cidade de Goiás. O primeiro, Por uma História da Saudade: Itinerários do Canto do Perdão na Cidade de Goiás – Séculos XIX e XX, de Clóvis Carvalho Britto, Guilherme Antônio de Siqueira e Paulo Brito do Prado. Esse último co-autor, descendente de Bartolomeu Bueno da Silva, tem sido nos meus últimos pleitos de pesquisa sobre a encantadora história vilaboense, um importante colaborador. Bem, o segundo livro, Os Sentidos da Devoção: o Império do Divino na Cidade de Goiás – Séculos XIX e XX, traz a coletiva assinatura de Clóvis Carvalho Britto, Paulo Brito do Prado e Rafael Lino Rosa.
Sobre o primeiro livro, o professor titular da UFRN, Dr. Durval Muniz de Albuquerque Júnior apresentador da obra comenta:
Recomendo fortemente a leitura desse livro que é, como diz seu próprio título, uma história da saudade, dessa saudade encarnada pelos habitantes de Goiás, essa saudade encenada pela própria cidade, essa saudade que motiva a elaboração e a efetivação de rituais como o do Canto do Perdão, onde toda a cidade parece espiar os possíveis pecados que a levaram a ser deserdada pelo divino, desertada das graças e honras do Todo Poderoso. Tomada como bode expiatório do dito atraso e incivilidade do território de que era capital, se viu relegada a condição de cidade do passado, de cidade museu, de cidade altar onde se busca desesperadamente o retorno à casa ou as graças do Pai, através da realização de rituais que buscam reconciliar a cidade com o próprio tempo. Em busca de um tempo reconciliado, Goiás investe na saudade, nos rituais da saudade, que tentam apaziguar os conflitos entre os tempos, entre os diversos itinerários do tempo, fazendo com que a cidade finalmente encontre um caminho para existir, no presente e no futuro. É preciso percorrer e conhecer os itinerários da saudade, para deles poder escapar, para neles encontrar as possíveis veredas, as possíveis encruzilhadas, as prováveis bifurcações dos tempos, que ofereçam outros possíveis devires para a cidade e para seus moradores. Viver outros tempos, em que não mais se precise pedir perdão, tempos que não estejam molhados de pranto, em que os cantos sejam de alegria e de esperança, tempos cada vez mais doces, tempos de luz e não de trevas, tempos de ressurreição e não de Paixão em Goiás.
Quanto ao segundo livro, a professora Emérita da Universidade de Oakland/EUA, diz na apresentação da obra:
Os autores incluídos aqui demonstram que é possível preservar a rica história religiosa e cultural do Brasil. Utilizando esta coletânea de ensaios, especialmente com os alunos, vamos começar a preencher a história das tradições populares e a dos responsáveis por sua preservação, a exemplo da dos descendentes de africanos escravizados. Por isso esta obra enriquece não só a história regional, mas também a história do Brasil (…) É uma importante introdução a um dos grandes tesouros culturais do Brasil, os rituais dedicados ao Espírito Santo.
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