Monstrinhos que curam

Desde seu lançamento, há menos de 20 dias, o jogo de realidade aumentada para smartphones Pokémon GO, das empresas Nintendo e Niantic, tornou-se um dos maiores fenômenos já vistos na história dos jogos virtuais. Apesar de ainda não ter sido disponibilizado em boa parte do planeta, o aplicativo já colocou a Nintendo à frente da Sony no ranking das desenvolvedoras de video-games em faturamento, fato que não ocorria desde o lançamento do primeiro Playstation nos anos 1990. Mesmo sendo alvo de várias críticas relacionadas à segurança, especialistas afirmam que Pokémon GO pode ser mais que um jogo de entretenimento e traz benefícios no quadro de pacientes com ansiedade e depressão.

Muito se tem falado sobre os perigos aos quais o jogo submete os usuários. Tanto por expô-los a ambientes deconhecidos quanto por aumentar a vulnerabilidade dos mesmos aos assaltos e à violência urbana em geral. Um corpo em decomposição foi encontrado por um jogador e várias pessoas já foram presas por utilizarem o aplicativo para criar emboscadas para roubar smartphones. O fato de pokémons do tipo fantasma terem sido colocados em cemitérios e velórios também não foi muito bem recebido por todos. Apesar de ter sido criticado por promover situações inusitadas e até mesmo perigosas, o jogo é motivo de comemoração para aqueles que possuem depressão ou algum tipo de transtorno de ansiedade.

Análise

Vários veículos de comunicação ao redor do mundo sugeriram que o jogo pode trazer benefícios para a saúde física e mental de jogadores que sofrem de depressão e ansiedade social, pois ele engloba ambientes externos e exige a movimentação dos jogadores. John Grohol, estudioso dos impactos da tecnologia no comportamento humano há mais de vinte anos, afirmou, através do site Engadget, especializado em games, que para pacientes com esse quadro clínico um dos maiores desafios é a inexistência de motivação para realizar atividades simples. “As pessoas depressivas sentem a vontade de sair de casa e de tomar um ar fresco, mas é uma atividade que elas não conseguem conceber, muito menos realizar”.

O especialista destaca ainda a quantidade de depoimentos de jovens que se dizem melhores depois que começaram a jogar Pokémon GO. “Observando a quantidade fenomenal de pessoas que expressaram os benefícios e seu estado de saúde mental é algo muito original. É a primeira vez que vejo algo parecido com isso ser causado por um jogo”, afirma. Grohol considera que o fato dos jogadores precisarem sair de casa e percorrer vários ambientes enquanto jogam acaba colocando-os em uma condição menos sedentária e de maior contato com a realidade social em que vivem. “As pesquisas são muito claras quanto a isso. Quanto mais você se exercita, mais isso vai ajudar a diminuir os efeitos da depressão”.

Depoimentos

O pesquisador afirma que os impactos positivos da atividade física e da vivência dos ambientes de sua cidade têm efeito semelhante ao de tratamentos clínicos. “Funciona como um antidepressivo, e ele tem efeitos poderosos. É provavelmente uma das coisas mais benéficas que uma pessoa depressiva pode fazer, especialmente se ela não tem acesso a outros tipos de tratamento, como psicoterapia e medicamentos”. Uma reportagem do jornal britânico online The Independent trouxe vários depoimentos de jogadores que afirmam sentirem-se revigorados e motivados devido ao jogo. “Não me sinto tão enérgico há anos”, contou Jenesse Pope, de 24 anos.

As afirmações do Dr. Grohol também podem ser reforçadas por depoimentos extraídos da página do Twitter de adeptos do jogo. “Pokémon GO honestamente ajudou muito com minha depressão e ansiedade. Estou realmente falando com pessoas e sendo mais ativa. Amo muito isso”, contou a internauta Jenny Death. “Sinceramente, não tenho essa sensação confortável em sair de casa há anos. Isso é incrível”, comemorou a usuária Neil Tyson. Apesar dos benefícios apresentados, o jogo também vem sendo criticado por sua inacessibilidade para aqueles que possuem deficiências físicas. O jogo torna-se mais difícil ou impossível para aqueles que não estão aptos para deslocar-se ou utilizar as mãos.