Cultura

Mostra leva mundo mágico do cinema silencioso a Pirenópolis

Entre sexta e domingo, a II Mostra de Cinema Silencioso da Cinemateca Santa Dica de Goiás movimenta Pirenópolis com 30 filmes. Serão três dias de programação que oferece imersão ao mundo do cinema mudo, com exibição de produções feitas entre 1900 e 1930.

Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 23:04 | Atualizado há 2 semanas

Entre sexta e domingo, a II Mostra de Cinema Silencioso da Cinemateca Santa Dica de Goiás movimenta Pirenópolis com 30 filmes. Serão três dias de programação que oferece imersão ao mundo do cinema mudo, com exibição de produções feitas entre 1900 e 1930.

Diferentes nacionalidades e gêneros cinematográficos integram a programação da mostra, como comédia, romance, drama, suspense, terror e documentário. Sessões especiais, acompanhadas ao vivo por piano, estão também no evento. Há de se destacar ainda as exibições destinadas para crianças. O programa dispõe de recursos que garantem acessibilidade, com projeção especial de um filme acompanhado por audiodescrição.

Conforme o curador e professor Andros Anderson, a Mostra de Cinema Silencioso revive a experiência do cinema mudo. “O evento alia arte, cultura, história e entretenimento, promovendo lazer exclusivo na cidade mais charmosa de Goiás”, diz Andros, destacando que a mostra projeta filmes e traz oficinas focadas na formação de estudantes.

A mostra tem recursos da Lei Paulo Gustavo, importante mecanismo de fomento à cultura, por meio do Ministério da Cultura (MinC). Esse instrumento é operacionalizado pelo governo estadual, a partir de sua Secretaria de Estado da Cultura (Secult).



		Mostra leva mundo mágico do cinema silencioso a Pirenópolis
Marcus Vinícius Beck

O período silencioso, conhecido também como era do cinema mudo, desperta cada vez mais paixão nos cinéfilos. É objeto de dissertações e teses apresentadas em universidades, mas tem se mostrado, acima de tudo, momento histórico de experimentações estéticas, gêneros exóticos, estrelas extravagantes e aprimoramento da linguagem cinematográfica.

No começo, dizia o célebre roteirista francês Jean-Claude Carrière (1931-2021), a sétima arte “escrevia antes de saber como escrever, antes mesmo de saber que estava escrevendo”. “Era o Éden da linguagem”, conceituava Carrière, referência nos estudos da narrativa em cinema.

Em sua fase inicial, o cinema silencioso produziu fenômenos populares que marcaram a era moderna. No início do século 20, surgiram filmes de ação, aventura e faroeste americanos, além do expressionismo alemão, o construtivismo soviético, a vanguarda francesa, os ciclos regionais brasileiros, o melodrama escandinavo e o experimentalismo japonês.

Thomas Mann narra, em “A Montanha Mágica”, livro de 1924, uma sessão de cinema numa pequena cidade suíça. O escritor alemão descreve a forma como o desfile de imagens do filme mudo atua sobre os espectadores. Uma vida múltipla se sucede na tela, se revela em pedaços, entretém o público, inquieta-o na poltrona e deixa-o “numa agitação fremente”.


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Marcus Vinícius Beck

“Por mais que os filmes não tivessem imagens e sons sincronizados, havia efeitos sonoros ao vivo dentro das salas, muita música, comentaristas para as obras mais complicadas, programas impressos para acompanhar eventualmente as sessões e balbúrdia por parte do público, que não era nada silencioso durante as projeções dos filmes”, explica o coordenador da Mostra de Cinema Silencioso da Cinemateca Santa Dica de Goiás, Andros Anderson.

Dessa vez, a mostra expande os propósitos de sua primeira edição. Além dos já habituais clássicos do cinema silencioso, a curadoria se preocupou em fazer um recorte para discutir pautas contemporâneas, de modo a debater o pioneirismo das mulheres na realização de filmes nesse período, destacando o trabalho de atrizes, produtoras, roteiristas ou diretoras.

Representatividade

Nomes como Alice Guy-Blaché, Germaine Dulac, Clara Bow, Greta Garbo, Mabel Normand e Louise Brooks foram selecionados por Andros e Ciro para integrar a programação. Em matéria de representatividade, a II Mostra de Cinema Silencioso da Cinemateca Santa Dica de Goiás apresenta os primórdios do cinema negro norte-americano, ao exibir o filme “Dentro de Nossas Portas”, do cineasta Oscar Micheaux, drama racial lançado em 1920.

Ativista antirracista, a ensaísta americana bell hooks analisa que, na visão de Micheaux, o importante era contar “histórias originais da vida negra”. “Dentro de Nossas Portas” é a segunda obra dirigida por ele e, conforme a pesquisadora Kênia Freitas, seria o longa ficcional mais antigo dirigido por um negro nos EUA com cópia ainda existente.


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Marcus Vinícius Beck

O expressionismo japonês, por sua vez, se faz representado na II Mostra de Cinema Silencioso da Cinemateca Santa Dica de Goiás com o terror “Página de Loucura”, que saiu em 1926. Impressiona, aqui, o roteiro: dispensa linearidade. De certa forma, esse filme antecipa experimentos vistos no curta “Um Cão Andaluz”, de Buñuel e Salvador Dalí.

Já “Coração Delator”, suspense de 1929 adaptado de conto homônimo assinado por Edgar Allan Poe, ganha sessão com opção para audiodescrição. Outras produções de destaque são “Tabu”, de F.W. Murnau e R. Flaherty, ápice do cinema etnográfico mudo, e “Faina Fluvial”, do português Manoel de Oliveira, espécie de sinfonia de cidades. “Como não poderiam ficar de fora, destacamos ainda os grandes comediantes da era silenciosa”, afirma Ciro.

Nesse grupo de artistas, estão Charles Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd. “Convidamos o público, com entusiasmo, para essa experiência rica e fascinante de viajar no tempo pelo cinema, em um programa de lazer cultural na histórica Pirenópolis, onde as paisagens naturalmente nos convidam a um olhar apurado e atento para os silêncios que revelam o sublime da beleza de acolher o valor do silêncio nas nossas vidas”, encerra Ciro Marcondes.

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