O cadáver está na terra mas a ideia esta de pé
Diário da Manhã
Publicado em 5 de julho de 2017 às 22:57 | Atualizado há 2 meses![](https://v2024.dm.com.br/wp-content/uploads/2025/01/1-5_noexif-1.jpg)
O escritor francês Victor Hugo publicou diversos livros em que a sociedade é o personagem principal. No papel, ele debatia e criticava, por exemplo, a miséria das classes sociais destacada fortemente no seu principal romance, chamado Os Miseráveis. Conhecido no século XIX como reformista, Victor se envolveu com política toda sua vida. Acreditava que o homem tinha o direito de usufruir os frutos do seu trabalho, mas reforçava a responsabilidade que acompanha esse possível enriquecimento pessoal. Não adotava na totalidade o discurso socialistas por luta de classes, porem criticava as misérias sociais.
De fato, Victor Hugo sempre buscou uma ponte entre o trabalho artístico e o movimento social. O que era destacado em um livro, como por exemplo a miséria, era também o que o autor tentava resgatar na vida política. Seu principal romance, Os Miseráveis, narra a história de um artesão, Jean Valjean, que foge da prisão e constrói uma nova vida por meio do trabalho. Com a empresa que monta, Valjean acaba trazendo prosperidade para região e usa da sua fortuna para fazer caridades. A situação é interrompida quando um policial decide interferir nas atividades privadas da sociedade civil.
Por esse e outros fatores, a obra Os Miseráveis representa claramente o que é a política para Victor Hugo e sua filosofia sobre a sociedade. Nesse mundo por ele criado existe uma cooperação entre classes e o empreendedor desempenha uma função especialmente benéfica para todos, ao contrário do Estado que por motivos moralistas se apresenta um risco para o bem de todos. Victor Hugo falou da miséria até seu último discurso onde disse que: “a questão social perdura. Ela é terrível, mas é simples: é a questão dos que têm e dos que não têm!
Em 1870, o escritor manifesta sua infelicidade com o início da Guerra Franco-Prussiana, a qual chamou de “guerra de capricho”. No dia 17 de setembro daquele mesmo ano, ele publica um chamamento ao levantamento da massa e resistência. No texto o escritor francês dizia que: “o significado da Comuna é imenso, ela poderia fazer grandes coisas, mas na verdade faz somente pequenas coisas. E pequenas coisas que são odiosas, é lamentável. Compreendam-me: sou um homem de revolução. Aceito, assim, as grandes necessidades, mas somente sob uma condição: que sejam a confirmação dos princípios e não o seu desrespeito. Todo o meu pensamento oscila entre dois pólos: civilização-revolução “. Sobre o fim da Comuna o escritor também disse que “o cadáver está na terra, mas a ideia está de pé”
Defensor dos Miseráveis
Nasceu no dia 26 de fevereiro de 1802 na cidade de Besançon, na França. Foi poeta, dramaturgo e romancista francês. É considerado mundialmente pelo importante trabalho com a língua francesa e também por ser um político e intelectual comprometido e influente em relação a história de seu país e da literatura no século XIX.
O pai era militar e por isso a família viveu em diversas cidades francesas, como Elba, Marselha e Nápoles. O pai de Victor Hugo acompanhou o novo rei José I (conhecido como Pepe Botella ou Pepe Garrafa), irmão de Napoleão Bonaparte, até a Espanha. Em Madri o jovem Victor Hugo e sua família moraram por dois anos.
No ano de 1815, Victor Hugo se estabelece na cidade de Paris onde estuda com o objetivo principal de se dedicar integralmente à literatura. Com 15 anos ganha um prêmio da Academia Francesa por um trabalho lírico que também é um prelúdio de seu primeiro grande livro de poemas de 1822 chamado Ode e Poesias Diversas.No mesmo ano casou-se com Adele Foucher, com quem teve cinco filhos. Fundou com Eugène e seus outros irmãos, também escritores, a revista Le Conservateur Litteraire, onde publicou o romance Bug-Jargal.
Sua quase infinita capacidade produtiva proporcionou grandes obras da literatura universal, com títulos como Cromwell (1827), Nossa Senhora de Paris (também conhecido como O Corcunda de Notre Dame) (1831) ou O Rei se Diverte (1832).
No ano de 1841 Victor Hugo ingressa na Academia Francesa mas abandona dois anos depois graças ao fracasso de Os Burgraves. Os anos que seguem são de extrema emoção na vida de Victor Hugo. Primeiro perde a filha Léopoldine afogada no rio Sena, depois a morte de um dos seus irmãos e, por fim, a decepção pela traição da esposa com um amigo. Nesse período se entrega a atividade política até ser nomeado par da França em 1845 pelo rei Luís Felipe de Orleans. Em 1848 apoia a candidatura de Luís Napoleão Bonaparte discursando sobre a pobreza, assuntos de Roma e a lei Falloux que já antecipava seu rompimento com o Partido Conservador.
Filosofia Política
Durante a Assembleia Constituinte o escritor intervém com seu famoso “Discurso sobre a miséria”. O debate parlamentar era sobre a lei de pensões e assistência pública, onde desprezavam a situação da população.
“O comunismo e o agrarianismo acreditam que resolveram este segundo problema [da distribuição de renda], mas estão enganados: a distribuição destrói a produtividade. A repartição em partes iguais mata a ambição e, por conseqüência, o trabalho. É uma distribuição de açogueiros, que mata aquilo que reparte. Portanto, é impossível tomar essas pretensas soluções como princípio. Destruir riqueza não é distribuí-la”. 1876 em Portugal
No ano de 1851 denuncia ambições ditatoriais de Luís Napoleão e, após o golpe, foge para a Bélgica. Entre 1843 e 1851 não publica nenhuma obra, mas foram nesses anos que Victor Hugo escreveu seu mais célebre trabalho: Os Miseráveis. Em 1852 se estabelece em Jersey, no Reino Unido e permanece na região até 1870, rejeitando anistia oferecida por Napoleão III.
Após a queda de Napoleão III, no ano de 1870, Victor Hugo retorna a Paris aclamado publicamente e eleito deputado. Na eleição seguinte perde e retorna ao governo em 1876 como senador de Paris. Usa o cargo para defender a anistia aos partidários da Comuna. Apesar disso, Victor Hugo está desiludido com política e retorna ao Reino Unido dois anos depois. De acordo que o ritmo das publicações diminui o prestígio de Victor Hugo aumenta.
No dia 22 de maio de 1885, com 83 anos, o escritor Victor Hugo faleceu na sua tão amada cidade de Paris. Contam que estava em domínio de suas faculdades mentais quando faleceu e ainda conversava sobre política, questões sociais e filosofia. Victor Hugo é um dos escritores mais importantes da literatura não só pelo estilo inovador, mas também pela ponte entre arte e política no século XIX.
Citações de Victor Hugo
É certo que o homem fala a si mesmo; não há um único ser racional que o não tenha experimentado. Pode-se até dizer que o mistério do Verbo nunca é mais magnífico do que quando, no interior do homem, vai do pensamento à consciência, e volta da consciência ao pensamento. (…) Diz, fala, exclama cada um consigo mesmo, sem que seja quebrado o silêncio exterior. Há um grande tumulto; tudo fala em nós, excepto a boca. As realidades da alma, por não serem visíveis e palpáveis, nem por isso deixam de ser também realidades.
Politicamente falando, não há mais do que um princípio–a soberania do homem sobre si mesmo. Essa soberania de mim e sobre mim chama-se Liberdade. Onde duas ou mais destas soberanias se associam principia o Estado. Nesta asssociação, porém, não se dá abdicação de qualidade nenhuma. Cada soberania concede certa quantidade de si mesma para formar o direito comum, quantidade que não é maior para uns do que para os outros. Esta identidade de concessão que cada um faz a todos chama-se Igualdade. O direito comum não é mais do que a protecção de todos dividida pelo direito de cada um. Esta protecção de todos sobre cada um chama-se Fraternidade. O ponto de intersecção de todas estas soberanias que se agregam chama-se Sociedade.