O suco de uva da morte
Diário da Manhã
Publicado em 17 de novembro de 2015 às 22:22 | Atualizado há 6 diasNo dia 18 de novembro de 1978 circulava a notícia de que o congressista norte-americano Leo Ryan e outras quatro pessoas teriam sido mortas a tiros no noroeste da Guiana. Horas depois viria a informação de que 908 cidadãos estadunidenses haviam cometido um suicídio em massa. Foi a maior tragédia não natural em número de morte de civis dos Estados Unidos até o dia 11 de setembro de 2001, e foi também a única morte de um congressista do país durante serviço. Isso aconteceu em uma seita religiosa chamada de Templo do Povo e liderada por Jim Jones, que pregava uma espécie de “socialismo apostólico”.
O Templo do Povo foi fundado durante a década de 1950 na cidade de Indianápolis, nos EUA. Jim Jones visitou a América do Sul pela primeira vez na década de 1960. Uma filial do Templo do Povo foi instalada no Brasil nessa época, mas durou pouco tempo. Nessa viagem, Jones conheceu a Guiana, local que mais tarde seria palco de uma grande carnificina. A migração para o país foi definida em 1973, quando oito membros da comunidade desertaram e artigos críticos sobre a seita foram publicados em jornais.
Para Jones, cujos planos mais macabros eram ocultos, a Guiana seria ideal por ser um país pequeno e pobre o suficiente para que ele obtivesse influência e proteção política. Jones também via a Guiana como possibilidade de isolação e fuga da mídia. O Governo da Guiana também via vantagem em receber a comunidade devido a conflitos de fronteira com a Venezuela, que recusar-se-ia a utilizar forças militares contra cidadãos dos EUA. O Templo do Povo instalou-se na região noroeste do país, em um local de florestas e totalmente oculto.
Cerca de 500 pessoas começaram a construir Jonestown, que era vista por Jones como um “paraíso socialista”. Atualmente nada mais existe do acampamento. A área foi retomada pela selva amazônica e os materiais das construções recolhidos por índios nativos. Marceline, esposa de Jim Jones, descrevia o acampamento como “dedicado a viver em socialismo, com total igualdade social, racial e econômica”. Apesar da aparente causa, as condições de vida no acampamento eram precárias, e Jim Jones autoritário.
Mortes
O congressista Leo Ryan foi pessoalmente ao acampamento para certificar-se das histórias de desrespeito aos direitos humanos em Jonestown. Lá, as pessoas não tinham alojamento adequado, eram obrigadas a trabalhar por longas horas no calor, e muitas adoeciam por conta das condições climáticas. Ryan percebeu que algumas pessoas queriam deixar o local, mas eram impedidas pelo líder. Ao recrutar os que queriam deixar Jonestown em um caminhão, foi assassinado junto com outras quatro pessoas antes de decolar para os EUA.
Os membros da seita já haviam sido preparados para o caso de necessidade de um “suicídio revolucionário”. Após o ataque a Ryan, Jones informou seus seguidores de que o governo dos EUA destruiria o acampamento e torturaria idosos e crianças. O suicídio foi proposto e amplamente aceito. Caldeirões cheios de suco de uva, cianeto e valium foram preparados. Seringas foram usadas para envenenar os bebês e homens armados “incentivavam” aqueles que relutassem em participar da cerimônia.
Cada pessoa levou cerca de cinco minutos para morrer. Alguns poucos sobreviveram escondendo-se no próprio acampamento ou fugindo para a mata. Jim Jones morreu com um único tiro na cabeça, mas até hoje não se sabe ao certo se foi ele mesmo que tirou a própria vida, ou se foi assassinado. Atualmente discute-se se a tragédia deve ser chamada de suicídio em massa ou assassinato em massa. 913 americanos perderam a vida.
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