Cultura

Os mortos pelo Fascismo

Diário da Manhã

Publicado em 22 de novembro de 2016 às 01:14 | Atualizado há 1 semana

No último dia quinze de novembro, o estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG) Guilherme Irish foi assassinado a tiros pelo próprio pai, que em seguida cometeu suicídio. A causa mais provável para a tragédia seria uma discussão entre pai e filho, em que  o pai se opunha ao posicionamento de Guilherme, que participava ativamente das ocupações escolares ocorridas na Capital, contra a PEC 55/2016, anteriormente PEC 241/2016, que tem como principal objetivo o congelamento dos gastos públicos para educação, saúde e previdência social para os próximos vinte anos.

Os câmpus da Universidade Federal de Goiás, em especial o Campus II – Samambaia, estavam ocupados desde o dia 25 de outubro. No dia dez de novembro, a Justiça determinou a reintegração de posse dos prédios públicos ocupados pelos estudantes, que se recusaram a abandonar os locais, prometendo resistir inclusive à força policial. Após a morte de Guilherme Irish ter sido noticiada, milhares de jovens em todo o País se sensibilizaram com o fato, prestando homenagens e notas de apoio via internet. Estudantes envolvidos nas ocupações escolares em Goiânia organizaram para hoje, 22 de novembro, um ato em memória de Guilherme Irish, a partir das dezesseis horas, no Bosque dos Buritis, em Goiânia. Na ocasião, outros nomes de pessoas assassinadas durante movimentos estudantis e de resistência à opressão serão lembrados.

No evento organizado no Facebook, a organização comentou sobre o fato ocorrido no dia 15 deste mês: “A trágica morte do Guilherme Irish em Goiânia nos leva a refletir sobre a sociedade que estamos construindo e o que desejamos para nosso futuro, tendo em vista que essa sociedade é organizada a partir de classes sociais e do Estado, mas não somente destes. É elemento fundamental para funcionamento e manutenção dessa sociedade, a violência que não somente se expressa pela truculência policial mas também pelas informações divulgadas pelas mídias (telejornais, imprensa, revistas, etc) e, a partir disso, a violência vai sendo disseminada, chegando em nossas casas e fazendo parte do nosso dia-a-dia ao ponto de acharmos normal situações de linchamentos, assassinatos, encarceramento e outras agressões, não somente físicas”.

A historiadora Rosimeire Soares relembrou alguns dos grandes momentos da história mundial em que a opressão massacrou jovens revolucionários, que não se rendiam aos desmandos dos poderosos:

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Os anos 60 são conhecidos em todo o mundo como “Anos Rebeldes”. Nesse período temos a explosão do rock, o movimento hippie com o lema: “Proibido proibir”, o Maio Francês, entre tantos outros movimentos de conscientização política da juventude por todo mundo. É período de Guerra Fria, temos um embate entre Socialismo e Capitalismo, liderados respectivamente por URSS e EUA. É gerado um grande debate entre vários grupos sociais em todo o mundo. O chamado “perigo vermelho” ganhava adeptos em toda parte e era papel do capitalismo aniquilar esse “perigo”. O Brasil não foge a esta onda de rebeldia, de apreço ao proibido e de simpatia pelo socialismo. Os jovens, principalmente universitários, são os principais simpatizantes dessa onda socialista. A velha e conhecida ultra-direita aparece como protetora da família, da moral e dos bons costumes (leia-se: dos interesses de uma pequena elite), aparece para combater as ideias rebeldes que destruiriam esse Brasil “bonitinho”, tão bem construído, moralmente falando. Os governos que antecederam o golpe e a ditadura militar foram marcados por inflação crescente, queda do poder aquisitivo da classe trabalhadora (que já era mínimo). Então temos insatisfação da classe trabalhadora, somado aos movimentos de atingidos por barragens e outros grupos de trabalhadores rurais despossuídos de terra, que vão se articular e manifestar em prol de seus direitos. Então temos manifestações populares diversas: de trabalhadores sem terra, de operários e estudantes. A ditadura militar é uma resposta dos grupos sociais de direita (incluindo a alta cúpula da Igreja Católica) aos movimentos sociais que ganhavam corpo naquele momento.

 

Rosimeire Soares é historiadora, graduada pela Universidade Estadual de Goiás, especialista em rebeliões regenciais, e funcionária pública

 

80 anos da morte de Durruti

Buenaventura Durruti foi um revolucionário, sindicalista e anarquista espanhol. Nasceu em Léon, em 1896, e foi assassinado em 1936, por um tiro, em situação nunca esclarecida, quando se dirigia para a frente de batalha, durante a Guerra Civil Espanhola. Em entrevista realizada em 1936, para o jornalista Van Passen, Durruti deu a seguinte declaração: “Nenhum governo do mundo combate o fascismo até suprimi-lo. Quando a burguesia vê que o poder lhe escapa das mãos, recorre ao fascismo para manter o poder de seus privilégios, e isso é o que ocorre na Espanha. Se o governo republicano tivesse desejado eliminar os elementos fascistas, podia tê-lo feito há muito tempo. Ao invés disso, contemporizou, transigiu e gastou seu tempo buscando compromissos e acordos com eles. Mesmo no atual momento existem membros do governo que desejam tomar medidas “muito moderadas” contra os fascistas. É, quem sabe se o governo ainda não espera utilizar as forças rebeldes para esmagar o movimento revolucionário desencadeado pelos trabalhadores”.

 

 

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